O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Os Melhores Filmes de 2014: Parte 1 - As produções que não estrearam no circuito comercial gaúcho




Esses títulos abaixo foram os 19 filmes que mais me impressionaram em 2014 dentre aqueles que infelizmente não conseguiram uma chance no circuito comercial gaúcho. Para vê-los, por enquanto, só em locadoras ou pela web. Boa garimpagem, pois eles merecem.

1. Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013): qualquer filme novo de Jim Jarmusch (Ghost Dog, Flores Partidas, Uma Noite Sobre A Terra) já merece automática atenção, pois o cara é um dos últimos (e raros) "AUTORES" independentes ainda na ativa desde a década de 80. Jarmusch nunca sequer se rendeu aos encantos dos grandes estúdios, insistindo em financiar projetos personalíssimos e de baixo orçamento filmados, na maioria das vezes, na base da tática de guerrilha, com a ajuda dos amigos famosos. Amantes Eternos é sua última cria e um de seus trabalhos mais inspirados nos últimos anos. Pegando emprestado o mote do vampirismo, o cineasta traz aqui um esperto comentário sobre a ausência de cultura das novas gerações. Aliás, sobre o superficialismo que tomou de assalto as novas gerações pós advento da internet. E é sobre CULTURA em seu sentido mais amplo que versa a história centrada em um casal de personagens irresistível que, apesar do cenário desolador (tanto físico quanto etério) em que está inserido, resiste como pode ao emburrecimento geral de nossa civilização. As locações de Detroit nunca serviram tão bem a uma mensagem como nesse filme. Um olhar sobre o vampirismo que não é absolutamente sobre vampiros, mas sobre a nossa cada vez mais inevitável descida coletiva ao primitivismo.

2. Amor Bandido (Mud, 2012): aaahhh, como fazem falta os bons filmes sobre o rito de passagem da infância para a vida adulta. Esse Amor Bandido (título babaca para o simples e eficaz Mud, apelido do personagem de Matthew McConaughey, mais uma vez surpreendente em cena) comprova que esse subgênero tão explorado nos anos 80 deixou uma lacuna no cinema atual que merece urgentemente ser preenchida. Que bom que, a julgar por esse belo filme aqui, há talento de sobra escondido por aí. Lembrando muito o climão de Conta Comigo (Stand By Me), o filme usa como pano de fundo uma trama policialesca para abordar o amadurecimento forçado do protagonista defendido com muita garra por Tye Sheridan (A Árvore da Vida). A sua relação com o personagem de McConaughey, construída com cuidado e delicadeza, é daquelas parcerias cinematográficas para não esquecer tão cedo (idem para o relacionamento com o seu melhor amigo, o também ótimo Jacob Lofland, do seriado Justified). Tocante, divertido e dirigido com esmero por Jeff Nichols, que confirma aqui o enorme talento já demonstrado em O Abrigo, é daqueles filmes para guardar na memória. E ver McConaughey envolvido mais uma vez em uma produção desse quilate só comprova a fase de ouro em que se encontra a sua carreira.

3.  As Horas Finais (These Final Hours, 2013): excelente produção australiana que lança um dos mais convincentes cenários pré-fim do mundo já vistos em celuloide (longe dos simbolismos de Melancolia, por exemplo, aqui o registro ganha tom sério e realista). Amparado por uma grande performance do protagonista Nathan Phillips (Wolf Creek - Viagem Ao Inferno), é um filme que, mesmo desesperançado, consegue encontrar humanidade e doçura no meio da tragédia iminente. Uma baita surpresa vinda da terra dos cangurus.

4.   Blackfish - Fúria Animal (Blackfish, 2013): uma das maiores esnobadas (eu diria mancadas) nas indicações ao Oscar 2014, esse documentário é essencial para todo e qualquer cinéfilo, não importa o grau de empatia que tenha com o mundo animal. Denunciando a surpreendente cadeia de ataques de orcas mantidas em cativeiro a seus treinadores nas últimas quatro décadas, algo que ganhou pouca visibilidade na mídia, muito pelos esforços dos parques aquáticos em abafar os eventos, o longa se esforça em encontrar explicações científicas (e muito verossímeis) para os surtos de violência dos mamíferos. Utilizando-se basicamente de depoimentos de ex-treinadores e biólogos, a mensagem de Blackfish ganha relevância redobrada pela ótima estrutura narrativa adotada por sua diretora. Apesar de só contar com um lado do debate, pois o Seaworld negou-se a conceder entrevistas aos realizadores, é um filme forte, revoltante e urgente. Cinema dos muito bons.

5. Coherence (Coherence, 2013): ficção de baixíssimo orçamento, foi rodado em poucos dias com somente 8 atores e revela-se mesmo assim uma das mais bem engendradas produções do gênero nos últimos anos. Praticamente utilizando um único cenário, consegue discutir teorias da Física (o Gato de Schrödinger) sem soar pretensioso e surpreender o público com reviravoltas bem pensadas e que nunca parecem gratuitas. Não chega a ir tão fundo nos questionamentos intelectuais como os filmes de Shane Carruth (Primer, Upstream Color), mas o efeito é muito, muito satisfatório. Exige certa predisposição do público a pensar, mas não é um trabalho indecifrável para a plateia média.

6.   Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit, 2014): atestado de que o cinema dos irmãos Dardenne é um dos mais relevantes na cinematografia contemporânea, é uma produção que usa um fato mundano (a luta de uma trabalhadora depressiva para conseguir o seu emprego em uma fábrica) para apresentar uma reflexão mundial sobre a luta de classes, a moralidade e o capitalismo. Marion Cotillard está excepcional em uma atuação que privilegia os silêncios a fragilidade física de sua personagem (a atriz emagreceu para o filme). A jornada de sua Sandra é daquelas mini-odisséias que só a grande Arte consegue conceber. Um dos grandes estudos de personagem do ano, amplificado pela técnica seca e documental dos Dardenne. Baita filme.

7.   Duna de Jodorowsky (Jodorowsky´s Dune, 2013): o octogenário Alejandro Jodorowsky demonstra vitalidade, paixão e muita energia intelectual ao relembrar um dos projetos mais fascinantes jamais filmados (a sua adaptação cinematográfica do romance Duna, que acabou nas mãos de David Lynch). É um testamento sobre a paixão pela Sétima Arte, um dos melhores documentários dos últimos anos e que conta com depoimentos sensacionais sobre o processo de realização prévio à produção fílmica. Um verdadeiro atestado de amor ao Cinema, Duna de Jodorowsky não é somente o relato sobre uma produção que nunca viu a luz do dia: é o registro de uma grande obra que vive e respira na mente de quem a concebeu. E dá uma puta vontade de devorar toda a filmografia de seu grande idealizador.

8.   Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013): o sul-coreano Bong Joon-ho (O Hospedeiro, Mother - A Busca Pela Verdade, Memórias de Um Assassino) é talvez um dos mais inventivos cineastas do atual cenário da Sétima Arte e essa sua primeira incursão em um longa falado em inglês e financiado por Hollywood comprova todo o seu virtuosismo narrativo e estético. Espécie de alegoria política sob o efeito de ácido, Expresso do Amanhã lembra muito o cinema de Terry Gilliam (o divertido personagem de Tilda Swinton parece saído de Brazil - O Filme ou de Os 12 Macacos). Há uma preocupação óbvia em engendrar um microcosmo de nossa sociedade em detrimento da lógica, o que em nenhum momento revela-se prejudicial para o filme, que preserva o DNA de produção para as massas (as cenas de ação são sensacionais) enquanto entrega ao público uma mensagem política poderosa. Chris Evans revela-se um ator muito esforçado como o protagonista, enquanto figurões como John Hurt e Ed Harris roubam todas as cenas em que a câmera os enquadra. Movimentado, original e com uma mensagem social poderosa, é a antítese dos blockbusters justamente porque seu cérebro é que comanda o show. Um trabalho de respeito de um cineasta a que se deve observar de perto.

9.  Heróis de Ressaca (The World´s End, 2013): terceira parte da "trilogia Cornetto", nome criado para designar a parceria cinematográfica do diretor Edgar Wright (Scott Pilgrim Contra O Mundo) com os atores Simon Pegg e Nick Frost, é daquelas comédias inglesas irresistíveis, principalmente para quem já se divertira até dizer chega com as colaborações anteriores da trupe (Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso), todas elas reverenciando (e parodiando) gêneros consagrados do cinema. No caso de Heróis, a graça aqui é fazer graça com uma invasão alienígena que casa justamente com a peregrinação etílica de um grupo de quarentões que se conhece desde a adolescência. Além de Pegg e Frost, são adicionados ao elenco os excelentes Paddy Considine (Terra de Sonhos), Martin Freeman (O Hobbit) e Eddie Marsan (Simplesmente Feliz), que garantem o timing do humor lá em cima. Como se não bastasse, Pierce Brosnan faz uma ponta impagável como o ex-professor liberal da turma de amigos. Heróis de Ressaca é engraçado, bem dirigido (as cenas de ação são especialmente eficientes) e com atuações de rachar o bico. Baita grand finale para uma das parcerias mais inspiradas dos últimos anos. A ressaca vai ser esperar até esse povo se reunir de novo na telona.

10. Housebound (Housebound, 2014): que maravilha é essa surpresa vinda da Nova Zelândia que tem conquistado a crítica mundial com sua bela mistura de comédia, terror e suspense. Lembra muito o cinema de Álex de La Iglesias, principalmente O Dia da Besta, A Comunidade e Crime Ferpeito, com seu mix preciso de terror que assusta e humor que faz rir com facilidade. Esse é talvez o grande trunfo do diretor estreante Gerard Johnstone, que consegue meter medo e arrancar gargalhadas na medida certa e com muita inteligência, principalmente na inversão de expectativas quanto aos seus personagens (a protagonista, por exemplo, é uma garota mimada que, de tão enervante, consegue garantir a empatia reversa do público). Auxiliado por um texto cujas reviravoltas vão mudando todo o tom do filme a cada meia-hora de projeção, é uma produção que consegue arrancar sustos nos momentos certos e revertê-los para o pastelão completo quando necessário. Uma prazerosa experiência cinematográfica.

11.     Locke (Locke, 2013): surpreendente exercício de narrativa empregado pelo talentoso roteirista e agora cineasta Steven Knight (são dele os textos de Coisas Belas e Sujas e Senhores do Crime), que concentra a trama praticamente inteira dentro de um carro, tendo um protagonista visível e todos os coadjuvantes aparecendo apenas com suas vozes pelo viva-voz de seu telefone em uma jornada em tempo quase real até Londres. Tom Hardy (o Bane de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) está fantástico como o protagonista e o texto é perfeito ao conseguir condensar em um microcosmo bem específico não só toda a profundidade de seus personagens, mas também a jornada extrema de seu protagonista. Assim como em Enterrado Vivo, é um tour-de-force cinematográfico que consegue extrair de suas limitações autoimpostas de encenação um trunfo inegável para explorar a profundidade de suas idéias e as idiossincrasias de seu protagonista. Com um ritmo de thriller que prende a atenção do público mesmo com apenas um ator em cena, o resultado é sensacional.

12. Minha Vida Com Liberace (Behind The Candelabra, 2013): é realmente de se admirar a entrega com que Michael Douglas e Matt Damon abraçaram seus personagens nessa biografia do pianista (e clone do Walter Mercado) Liberace. Muito mais do que apenas soltar a franga de maneira caricata, os atores dão ao casal gay que interpretam o tom exato de humanidade para que o público imediatamente esqueça de suas personas enquanto celebridades do cinemão americano. É desse desprendimento do elenco (refletido pela ousadia sem firulas das cenas entre os dois) que resulta a maior importância de Behind The Candelabra: a desmistificação do relacionamento homoafetivo, registrado com naturalidade e sensibilidade por Steven Soderbergh (num de seus melhores trabalhos, o que é bastante coisa considerando o tamanho de sua filmografia), em contraposição à visão conservadora de certos segmentos da sociedade, que insistem em tratar tais relações como aberrações condenáveis à luz de costumes, dogmas e leis com bem mais anos de vida do que Douglas (o Kirk, não o Michael) tem de carreira. Habilmente roteirizado por Richard LaGravenese (As Pontes de Madison), o filme nunca deixa totalmente de lado a estrutura básica da cinebiografia, mas insere um viés interessante (o enfoque no relacionamento do casal como força motriz da história) que acaba por fazer as vezes de elemento de fuga dessa fórmula esquemática. Visualmente impecável, é um trabalho conjunto com uma excelência técnica assombrosa (e pensar que trata-se de uma produção feita para o canal de tevê HBO aumenta ainda mais o espanto). Fotografia, direção de arte, figurinos, trilha sonora, maquiagem, tudo está tão bem cuidado que forma um conjunto harmônico irretocável. Mas nada adiantaria se os protagonistas não acompanhassem esse esmero técnico. E Douglas e Damon talvez nunca estiveram tão bem. Caso tivesse passado nos cinemas, seria praticamente inevitável ao menos uma indicação ao Oscar para cada um dos dois. E bem que poderia sobrar uma lembrança de coadjuvante também para Rob Lowe, impagável na pele do cirurgião plástico de rosto indescritível que opera os personagens. Um trabalho com estofo e volume de voz para figurar em qualquer lista das mais relevantes obras produzidas no ano passado. E pensar que Soderbergh teve que ir até uma rede de televisão porque não conseguiu verba dos estúdios para lançá-lo nos cinemas por ser "gay demais". Baita filme.

13.  Obediência (Compliance, 2012): lá pela metade do filme, fiquei com vontade de abortar a missão, tamanha a imbecilidade dos personagens em cena. Que bom que resisti até o final e descobri que os fatos aqui narrados aconteceram exatamente dessa forma, o que confere ao filme uma profundidade única e dá margem a uma série de questionamentos sobre a sociedade não só americana, mas como um todo. Poucas vezes a relação de poder foi discutida com tanta propriedade no cinema moderno. Com atuações sensacionais e um ritmo de thriller muito bem aplicado, é um filmaço americano que merece ser visto por todos e refletido pela maioria.

14.   Operação Invasão 2 (The Raid 2: Berandal, 2014): depois do já clássico primeiro filme, o diretor Gareth Evans amplifica a trama apenas tangenciada pela sufocante produção de 2011. Mesmo que perca totalmente o foco apresentado no antecessor, essa sequência, apesar da visível pretensão, não deixa a peteca cair. Apostando em uma estrutura que remete à trilogia O Poderoso Chefão, mas com o ritmo das clássicas produções chinesas de John Woo (Fervura Máxima, Alvo Duplo) e sem nunca esquecer que se trata, lá no fundo, de um filme de artes marciais, Operação Invasão 2 é mais ou menos como se o primeiro filme tivesse tomado ácido: as lutas são ainda mais espetaculares, as cenas de ação ainda mais complexas e a violência ainda mais exagerada. Tudo funciona tão bem que mesmo as infladas duas horas e meia de duração parecem adequadas ao produto final. Que venha aí o terceiro filme (e que nesse meio tempo os produtores da franquia Os Mercenários conheçam o trabalho de Evans e percebam que ele é o nome da vez para equacionar ação desenfreada e qualidade nas telonas).

15.  Ruína Azul (Blue Ruin, 2013): ótimo thriller de vingança que surpreendentemente teve parte de seu orçamento arrecadado através de doações via Kickstarter. O filme é tão bem conduzido por Jeremy Saulnier (do divertido Murder Party) que parece ter o acabamento de qualquer produção lançada por um grande estúdio. Apostando as fichas em um clima de tensão permanente, além de cenas sem qualquer diálogo (o que salienta ainda mais a atuação espetacular do protagonista Macon Blair), o roteiro preciso do diretor cria uma ambientação de pesadelo que é cortada aqui e ali por um humor negro sutil que nunca chega a aliviar o peso da história que conta. Um filme que investiga a tragédia anunciada do sentimento de vingança como poucos nos últimos anos.

16.  Sem Segurança Nenhuma (Safety Not Guaranteed, 2012): pequena joia do cinema independente americano, é um filme tão legal que, depois de sua ótima acolhida pela crítica e pelos festivais, a Universal Studios resolveu entregar de mão beijada nas mãos do diretor Colin Trevorrow uma de suas franquias de maior sucesso (o vindouro Jurassic World, agendado para 2015). Apesar de uma produção pequena em pretensão e orçamento,  Sem Segurança Nenhuma é daqueles filmes que seduzem de imediato tanto os amantes de ficção científica quanto aqueles que só querem assistir a uma comédia romântica que fuja da fórmula gasta imposta pelos grandes estúdios. Muito de sua graça vem do excelente elenco, composto por figuras carimbadas do cinema indie americano, todos eles impagáveis em cena: Aubrey Plaza (do seriado Parks And Recreation), Mark Duplass (Humpday, O Solteirão), Jake Johnson (Um Brinde À Amizade) e o estreante Karan Soni dão cor e vida própria à história principal e suas subtramas. Adorável. Um tesouro a ser descoberto pelo grande público com o tempo.

17.  Sin Nombre (Sin Nombre, 2009): é impressionante esse trabalho de estreia do cineasta Cary Fukunaga, que logo depois entregaria a versão definitiva do clássico romance Jane Eyre (2011) e a obra-prima que é a primeira temporada do seriado True Detective (2013). O diretor, que é americano descendente de japoneses e suecos, rodou Sin Nombre inteiramente na América Central, entre Honduras e México, totalmente falado em espanhol e com uma desenvoltura espantosa ao retratar o submundo das gangues latinas e dos imigrantes ilegais cujo sonho é atravessar a fronteira dos EUA. Violento, muito realista, mas com um roteiro que guarda reviravoltas silenciosas que servem muito mais para o desenvolvimento da trama do que para o simples choque, e com uma fotografia arrebatadora, é um trabalho que merece muito ser conhecido. Fukunaga, com apenas três trabalhos, já é um dos grandes nomes a serem olhados com atenção dentro da nova geração de diretores.

18.  Temporário 12 (Short Term 12, 2013): injustamente ignorado pelas principais premiações do final de 2013 e começo de 2014, incluindo Globo de Ouro e Oscar, apesar de ter recebido inúmeros prêmios em festivais no decorrer do ano passado, é uma grata surpresa vinda do cinema independente americano. Registra sem mimimis desnecessários a rotina de profissionais e internos em uma casa de passagem americana. Conta com personagens tridimensionais (principalmente a excelente protagonista interpretada com garra por Brie Larson, vista em Anjos da Lei e Como Não Perder Essa Mulher) e um roteiro que não se acovarda em expor todas as contradições e percalços inerentes a essa modalidade de serviço social. O texto é esperto, a condução é muito envolvente e o resultado é um dos grandes pequenos filmes dos últimos anos. Convém decorar o nome do diretor Destin Cretton porque ele, a julgar por essa amostragem, promete.

19. The Selfish Giant (The Selfish Giant, 2013): drama inglês que escancara o desamparo social das crianças que sobrevivem nas classes mais baixas dos subúrbios britânicos. Por vezes seco em seu registro das mazelas do proletariado, pontualmente engraçado, mas geralmente tristonho como o céu nublado que emoldura seus personagens, é um filme emocionante em sua capacidade de encontrar um belo conto de amizade no meio de um cenário tão depressivo. Mesmo que o destino pareça inevitavelmente trágico, o caminho até ele guarda algo humanamente esperançoso.

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