Essa segunda parte lista os filmes 101 a 200 vistos no ano, todos eles
com micro-resenhas e uma nota. O numeral atribuído a cada nota não deve
ser visto como uma sentençaO numeral atribuído a cada nota não deve ser visto como uma sentença
definitiva. Em primeiro lugar, não se pode condensar toda a avaliação sobre uma
obra, qualquer que seja, em um mero numeral, o que seria de um reducionismo
pedestre. A nota serve, no caso dos comentários breves, como forma de ilustrar
o que não coube no texto.
Neste ano, assim como em 2012, utilizarei os
seguintes parâmetros para quantificar as notas:
- notas 10: só para filmes que passaram no teste do tempo, ou
seja, somente para filmes que permanecem excelentes mesmo após mais de 20 anos
de seu lançamento;
- de 8 a 9: filmes ótimos;
- de 6 a 7,5: filmes bons;
- 5 ou 5,5: filmes razoáveis;
- abaixo de 5: filmes com variáveis graus de ruindade.
* Filmes vistos no cinema
** Filmes revistos
Sublinhados: filmes que passaram no circuitão do RS em 2013
* 101 - Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013):
um dos melhores projetos de cinema já feitos, a série "Antes de", de
Richard Linklater (Escola do Rock), consiste em acompanhar o casal Jesse
e Celine (Ethan Hawke e Julie Delpy) a cada nove anos, registrando o
seu relacionamento através do tempo enquanto conversam e discutem sobre
os mais variados assuntos, sempre em meio a um cenário turístico de cair
o queixo. Em Antes do Amanhecer, acompanhamos o encontro dos dois
jovens e a noite em claro que passam perambulando por Viena. Em Antes do
Pôr-do-Sol, dois (ainda jovens) adultos se reencontram durante um dia
em Paris. Aqui, Jesse e Celine reaparecem nove anos depois, já casados e
pais de duas gêmeas, em férias na Grécia. O grande diferencial da série
é a sua abordagem sensível e sincera dos relacionamentos e para isso em
muito contribui a opção do roteiro ser escrito a seis mãos pelo diretor
e seu casal de protagonistas. Muito mais do que apenas filmar dois
atores conversando durante quase duas horas, Linklater nos traz não só
uma radiografia precisa de todas as fases de uma relação, mas também um
irresistível tratado sobre a personalidade humana através dos tempos (e
situar as histórias em meio a locações com incrível bagagem histórica,
além de servir como pretexto para abordar os mais diversos temas, também
funciona como uma alegoria perfeita da temática do projeto). Hawke e
Delpy estão mais à vontade do que nunca como Jesse e Celine, esses
velhos conhecidos que encontramos de década em década, aqui maduros e
cheios de imperfeições e contradições, um espelho da nossa própria
existência. A sensação de estar envelhecendo junto com os personagens é
um dos atrativos mais curiosos da série e só nos aproxima ainda mais
desses adoráveis (e complexos) personagens. Sentimental sem nunca
abandonar o racionalismo, bonito sem em momento algum pender para o
superficial, Antes da Meia-Noite é, por isso mesmo, o filme mais
romântico em muito, muito tempo. É imprescindível ver ou rever os dois
primeiros antes de se aventurar nesse terceiro ato nas vidas de Jesse e
Celine. E inevitável passar os próximos nove anos ansiosamente esperando
pelo momento de reencontrá-los. Nota 9
102 - O Último Desafio (The Last Stand, 2013):
o que poderia representar um retorno retumbante do ex-"Governator"
Schwarzenegger à tela grande, depois de um hiato de uma década em que
somente fez pontas no cinema (o pavoroso remake de A Volta Ao Mundo Em
80 Dias, Os Mercenários e sua seqüência) se tornou um fracasso
monumental do ponto de vista comercial, arrecadando uma merreca, mesmo
que não tenha custado tanto assim. O problema é que o diretor
sul-coreano Kim Jee-Woon, vindo de três sucessos em sua terra natal (o
terror Medo, a comédia Os Invencíveis e o thriller Eu Vi O Diabo) talvez
tenha sofrido de excesso de confiança no material que tinha em mãos. Dá
para notar visivelmente a vontade do diretor em tornar o que seria um
filme de perseguição em uma homenagem honesta aos faroestes clássicos.
Pena que o roteiro não ajude em nada. Os diálogos são vergonhosos e as
situações armadas são dignas do mais furreca dos filmes B lançados
diretamente nas locadoras. Empilhando clichê sobre clichê, a trama deixa
pouco espaço para o velho Schwarzza brilhar. Ele continua aquele ator
ruim de dar dó, mas é inegável que tem presença de cena, mesmo que o
peso da idade pareça empalidecer o que antes era uma persona que impunha
respeito em apenas um ou dois frames de seu queixo quadrado. É também
muito problemática a escolha de Johnyy Knoxville (Jackass) como alívio
cômico, algo que nunca combina com o resto do filme. Dos coadjuvantes, o
que melhor se sai ainda é Rodrigo Santoro, que consegue dar a um
personagem com o desenvolvimento dramático de uma vinheta publicitária o
correto ar heróico que o arquétipo que interpreta exige. Na verdade, O
Último Desafio é daqueles prazeres vergonhosos que todos nós temos. Como
cinema, é uma diversão anacrônica. Mas ainda assim uma diversão. Nota 6,5
103 - Citadel (Citadel, 2012): co-produção
entre Inglaterra e Irlanda, filmada nos subúrbios da Escócia, tenta
fazer terror com viés de crítica social. Pena que a mensagem que deseja
transmitir seja abortada no meio em prol de clichês batidos do gênero. A
alegoria nem sequer está bem definida quando o filme resolve terminar.
Bem antes de começar. Tem algum clima, mas é só. Nota 5
104 - E Se Vivêssemos Todos Juntos? (
109 - Amor À Distância (Going The Distance, 2010): é a velha fórmula aquela das comédias românticas, com o desenvolvimento da trama datilografado muito antes de acontecer, embalado por uma trilha que remete aos anos 80. Mas esse aqui surpreendentemente não irrita tanto, mesmo que o casal principal (Drew Barrymore e Justin Long) não tenha química alguma em cena. Pelo menos, dá prá apreciar belas paisagens de Los Angeles e Nova York, intercaladas com diálogos que demonstram que os realizadores tinham ciência das limitações que o gênero impõe. Não dói, mas também não revoluciona nada. Nota 6,5
* 110 - O Homem de Aço (Man Of Steel, 2013, em 3D): começa bem esse recomeço para a franquia do Superman. De cara, já dá prá ver que Zack Snyder (diretor de 300, Watchmen, Sucker Punch) optou por escancarar a opção pelo gênero ficção científica na sua abordagem para o primeiro (e mais poderoso) dos super-heróis (as cenas em Krypton inclusive lembram uma variação sombria do mundo de Avatar). Ao encaminhar a trama para o planeta Terra, o filme encontra os seus melhores momentos ao registrar com muita criatividade a transição entre a infância, a adolescência e a fase adulta de Clark Kent, com flashbacks muito bem empregados e que deixam a produção com um ar original, cortesia provável do produtor Chritopher Nolan, que já dera nova vida a até então falecida carreira de Batman nos cinemas. A trilha de Hans Zimmer, que evita a todo momento os acordes icônicos de John Williams, dos Superman dos anos 80, também funciona que é uma maravilha. Já Henry Cavill (Imortais), se possui a boa estampa esperada para interpretar o Superman e não é tão ruim quanto Brandon Routh (Superman - O Retorno), não serve para lustrar os sapatos de Christopher Reeve, aparentemente até aqui a eterna personificação do herói. Já Michael Shannon está excepcional como o vilão General Zod. Os coadjuvantes são muito bons, principalmente Russell Crowe e Kevin Costner como os pais (kryptoniano e terráqueo, respectivamente) do protagonista. Por sua vez, Amy Adams como Lois Lane está apenas aceitável, em parte por culpa do roteiro, que insiste em colocar a personagem em toda e qualquer cena que possa aparecer. Mas é visível a ânsia em desvincular esse Homem de Aço da homenagem de Bryan Singer, em Superman - O Retorno, do filme clássico de Richard Donner em 1978. O Superman - O Retorno, de Singer, fez boa bilheteria em 2006 e ainda conseguiu boas críticas, mas permanece no imaginário dos fãs como um inexplicável fracasso, pois não contava com a dose esperada de cenas de ação que o projeto teria obrigação de entregar. Ironia das ironias, todo o problema de O Homem de Aço está reservado para o terceiro ato, em que Zack Snyder parece ter incorporado Michael Bay nos piores momentos da franquia Transformers, com uma extenuante (e INTERMINÁVEL) seqüência de destruição que, ao invés de empolgar, só cansa. Para piorar, o excesso de efeitos digitais, apesar de impressionantes em determinados momentos, faz o público ter a impressão de que está em frente a um videogame e não a um filme. Não há qualquer senso de perigo no clímax, justamente pelo excesso, o que é uma pena. Menos, nesse caso, representaria muito mais. No final das contas, O Homem de Aço tem saldo positivo, mas o gostinho que me deixou na boca está mais para O Homem de Pixels. Nota 7
111 - A Duquesa (The Duchess, 2008): ao final de A Duquesa (e isso não é spoiler), os letreiros explicam que a personagem real aqui biografada (Georgiana, a Duquesa de Devonshire, antepassada de Lady Di e com uma vida pessoal curiosamente parecida com a de Diana), foi uma das mulheres mais populares e politicamente influentes da história da realeza inglesa. Pena que o roteiro em nenhum momento dê o devido peso político para a personagem, optando ao invés por trilhar o caminho do melodrama romântico clássico e focar a trama no quadrilátero amoroso formado nos corredores palacianos. Mas tudo é tão visualmente deslumbrante que a direção de arte (indicada ao Oscar), a fotografia e os figurinos (que levaram a estatueta dourada) se encarregam, por si só, de conduzir o público. É uma reconstituição de época tão impressionante que leva o espectador facilmente à ilusão de estar convivendo com os personagens naqueles cenários opulentos. Keira Knightley está bem e a cada trabalho demonstra que nasceu para viver esses personagens de época. Mas o dono do campinho é mesmo Ralph Fiennes (indicado com justiça ao Globo de Ouro, mas vergonhosamente esquecido no Oscar), que confere a um personagem com potencial caricatural uma carga humana que faz toda a diferença, dotando o seu Duque de Devonshire de um distanciamento e uma frieza de fazer gelar a espinha. Nota 7
112 - Poucas Cinzas - Salvador Dalí (Little Ashes, 2008): apesar da temática muito interessante (o relacionamento do jovem poeta Federico García Lorca com o pintor Salvador Dalí, um romance mal resolvido que foi escondido durante anos e só revelado por Dalí no final da vida), é um filme que tropeça tremendamente na execução. Mal dirigido, montado de forma quase amadora e com um elenco de chorar, desperdiça até os personagens coadjuvantes (principalmente o cineasta Luís Buñuel e a esposa de Dalí, Gala), aqui retratados de forma rasa e caricatural. Já o desenvolvimento do filme é tão entediante que a impressão é que a qualquer momento vai entrar em cena o Pedro Bial recitando um dos discursos de eliminação do BBB. E o título nacional é uma picaretagem total, pois todo o filme é narrado sob o ponto de visto do protagonista García Lorca, interpretado com um inglês macarrônico pelo espanhol Javier Beltrán. Já Dalí ganha o corpo e o rosto eternamente apático do crepuscular Robert Pattinson, além do bigodinho mais fake das últimas décadas. Teve gente que afirmou categoricamente que Pattinson teve a melhor interpretação de sua carreira nesse filmeco, o que eu considero a mesma coisa que comparar os efeitos da gripe espanhola com os do vírus Ebola. Bom tema desperdiçado em um filme estranho, com elenco esquisito. Nota 4
113 - Perigo Por Encomenda (Premium Rush, 2012): injusto fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, é daqueles filmes de ação feitos à moda antiga que, a despeito de um roteiro que é um amontoado de bobagens, acaba fazendo todo o sentido pela ótima execução. Para os veteranos, é no mínimo interessante um filme do gênero ambientado no mundo dos ciclistas (ainda mais quando Manhattan inteira serve de cenário para as perseguições e malabarismos em duas rodas). E Joseph Gordon-Levitt e Michael Shannon, recém saídos de duas franquias milionárias (Batman e Superman, respectivamente), estão no tom exagerado ideal para a quase nula pretensão do roteiro. Em muito contribui que o filme tenha sido dirigido pelo ex-roteirista (Jurassic Park, Missão Impossível, Homem-Aranha) David Koepp, que já demonstrara talento como diretor em Ecos do Além e Ghost Town - Um Espírito Atrás de Mim. Por ironia, as únicas cenas que não funcionam mesmo são aquelas que apelam para os efeitos digitais, que nesse caso resultam bizarras. Enquanto apela para os velhos e bons dublês, o filme desliza que é uma maravilha, principalmente se acompanhado de uma tonelada de pipocas. Em tempo: lembra muito o clássico oitentista Quicksilver - O Prazer de Ganhar (1986), com Kevin Bacon. Nota 7
114 - Room 237 (Room 237, 2012): excelente documentário que traz à tona nove teorias da conspiração de fãs em relação a O Iluminado, de Kubrick. O absurdo de algumas das analogias é adequadamente evidenciado pela opção em nunca revelar o rosto dos depoentes, o que dá ao filme uma dinâmica inversa de sonho que casa muito bem com a verborragia pesada dos comentários em off. Há insights bem sacados, como a óbvia referência ao extermínio de índios (já presente inclusive no livro de Stephen King), mas o que realmente diverte são os pitacos mais absurdos, como a conspiração sobre a encenada viagem da Apollo 11 à Lua e aos erros de continuidade, que são justificados das formas mais viajantes (e apaixonadas) possíveis. Divertido e imprescindível para cinéfilos, fãs de Kubrick ou não. Nota 8
** 115 - X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006): rever filmes que já não provocaram grande impacto na época sempre torna os defeitos mais evidentes, caso dessa equivocada terceira parte da trilogia mutante, aqui comandada pelo operário-padrão Brett Ratner (A Hora do Rush, Roubo Nas Alturas) que, sabe-se lá como, conseguiu o emprego do ótimo Bryan Singer, responsável pelos excelentes dois primeiros filmes e abandonou a função para dirigir Superman - O Retorno. Há equívocos básicos, como ir abandonando durante a trama personagens fundamentais (Ciclope, Xavier, Mística, Vampira) em prol de coadjuvantes que nunca dizem a que vieram e a um dos piores grupos de vilões já reunidos no cinema. E a batalha final, com uma bizarra opção por saltos obviamente comandados por cabos de aço (o que faz o filme por vezes parecer aquelas produções antigas de artes marciais) é, além de chata de doer, muito mal coreografada. Salvam-se Wolverine e Magneto, os dois pontos altos da franquia, principalmente o último, personificado por um sir Ian McKellen que faz questão de roubar todas as cenas para si. E a seqüência que envolve a reestruturação da Golden Gate é muito legal. Menos mal que o grupo mutante é tão carismático que o seu potencial se sobrepõe até mesmo a um roteiro com execução mediana. Mesmo com os erros, prende a atenção. Nota 6,5
116 - Sem Perdão (Dead Man Down, 2013): estréia no cinema americano do diretor dinamarquês Niels Arden Oplev, do Millennium original (Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) e que apenas confirma o talento do cineasta em dirigir bem o elenco (aqui capitaneado por Colin Farrell e Noomi Rapace, que formam um casal de mocinhos bem esforçado) e comandar bem uma trama genérica de suspense policial. Pena que quem pague o pato seja o elenco de apoio formado por atores talentosos como Terrence Howard, Isabelle Huppert, F. Murray Abraham e Armand Assante, todos eles relegados a personagens secundários que quase desaparecem dentro do cenário. E não há virtuosismo narrativo que consiga esconder a natureza totalmente sem lógica do roteiro, um emaranhado de clichês tão mal costurado que lá pelas tantas um personagem, em meio a um tiroteio e sem motivo aparente, resolve procurar uma tomada e ligar um laptop para descobrir o que há dentro de um cartão de memória. Para ver tomando cerveja em um dia nublado. Muita cerveja. E desde que haja muitas nuvens no céu. Nota 6
117 - Chamada de Emergência (The Call, 2013): até o momento em que aposta as fichas na relação à distância entre a operadora do 911 Halle Berry e a vítima Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine), funciona que é uma maravilha. O problema todo é quando o roteiro decide deixar de apostar nessa premissa e vira um grande (e imbecil) suspense para as massas, com direito ao mais idiota dos clímaces. Enquanto tem confiança no que é o seu maior trunfo, o filme até consegue convencer que é dirigido por Brad Anderson (O Operário, Expresso Transsiberiano). Depois disso, parece qualquer outra produção genérica feita para a TV. Diverte, mas passa só por média e olhe lá. Nota 6
118 - Pietá (Pieta, 2012): canibalismo, incesto e mutilação. Para quem conseguir passar por essas três provas (nunca registradas de forma gráfica, mas sugeridas de maneira impiedosa), Pietá revela-se um dos grandes filmes do ano. Apesar da temática óbvia (escancarada já pelo título para aqueles que conseguem compreender ao quê exatamente se refere), é uma das obras mais fortes e poderosas a chegar nos cinemas em 2013. Por trás dessa sinfonia violenta, o diretor Kim Ki-duk (Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera) quer mais é discutir religiosidade e os efeitos nocivos do capitalismo selvagem nas camadas mais baixas da sociedade sul-coreana. E ter um protagonista que é a própria personificação do mal, mesmo quando encontra redenção, só ajuda. Que baita filme. Nota 8,5
119 - A Dançarina E O Ladrão (El Baile de La Victoria, 2009): Fernando Trueba é um veterano diretor espanhol que, em seus melhores momentos, entregou obras como Sedução (vencedor dos Kikitos de Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante e Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado de 1993 e do Oscar de Filme Estrangeiro em 1994) e Chico & Rita (indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2012). Por isso, é um tanto decepcionante constatar que esse A Dançarina E O Ladrão escorregue tanto na execução quanto no roteiro, inspirado em livro do grande Antonio Skármeta (O Carteiro E O Poeta). Aliás, a história nunca tira proveito das óbvias alusões à ditadura que o texto original escancara para serem trabalhadas. Dá até certa vergonha de algumas cenas marcadas por situações um tanto infantilóides e inverossímeis, principalmente aquelas protagonizadas pelo personagem principal, vivido por um tal de Abel Ayala, que passa o filme todo com um eterno sorriso apalermado, não importa o contexto em que o texto lhe coloque. Sobra a boa fotografia, que tira proveito das Cordilheiras chilenas para formar quadros belíssimos, uma e outra passagem bem encenada e a sempre impactante presença do excelente Ricardo Darín, que dá dignidade a qualquer produção. Se não fosse por Darín... Nota 5,5
120 - O Homem da Máfia (Killing Them Softly, 2012): entre uma superprodução e outra, Brad Pitt, através de sua produtora Plan B, investe em filmes sem qualquer pretensão comercial, como esse Killing Them Softly, que ganhou um título genérico e picareta no Brasil para enganar o público que vai ao cinema em busca de diversão rasteira, atraído pelo nome do astro no cartaz. Longe de ser um filme de máfia convencional, O Homem da Máfia sequer é um filme de ação. Aliás, é a antítese de um filme de ação. Verborrágico e com raras, mas marcantes, explosões de violência aqui e ali, a praia da produção é bem outra. O que se pretende aqui é traçar um paralelo entre o corporativismo por trás da crise econômica americana de 2008 e o modus operandi da máfia ítalo-americana de Boston. Ao montar essa analogia esperta, o roteirista e diretor Andrew Dominik (do ótimo O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, também estrelado por Pitt) construiu um dos melhores registros em filme dos acontecimentos que levaram os EUA à bancarrota no final da década passada, colocando o filme lado a lado com os também sensacionais Margin Call - O Dia Antes do Fim e Grande Demais Para Quebrar (da HBO) como as melhores encenações sobre a última crise financeira americana feitos até o momento. O Homem da Máfia, entretanto, ganha pontos pela abordagem absolutamente original (e genial em alguns momentos). Todos os personagens da trama são personificações dos protagonistas reais da crise de 2008, sejam personalidades reais (como o interventor Henry Paulson, aqui na pele do matador encarregado de solucionar a crise no filme, um Brad Pitt irretocável), sejam instituições representadas por atores como James Gandolfini (que merecia pelo menos ter sido lembrado com uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante), um assassino caído em desgraça que representa os primeiros bancos a falirem. Já o papel de narrador cabe ao próprio noticiário da época, ouvido ao fundo por meio de rádios e televisores que parecem sempre sintonizados ora nos discursos dos políticos (era época da campanha eleitoral que daria a Presidência a Obama) ora nos programas jornalísticos que cobriam a crise e que explicitamente transformam todas (TODAS) as cenas do filme em uma grande metáfora do que aconteceu aos EUA naquele ano. Escudado ainda por um senso de humor peculiar que em muitos momentos lembra o ritmo dos filmes dos irmãos Coen, O Homem da Máfia certamente vai desagradar quem busca um bom filme policial protagonizado por Pitt. Mas vai fazer a alegria daqueles que procuram algo mais do que o feijão com arroz de todos os dias. Para esses, O Homem da Máfia nunca vai ter esse título e sempre vai ser Killing Them Softly. Nota 8,5
121 - Segredos de Sangue (Stoker, 2013): é uma prova de fogo para qualquer cineasta estrangeiro conseguir estrear em Hollywood sem vender a alma ao capeta dos grandes estúdios e abrir mão de qualquer traço autoral que lhe fizera a fama em projetos na terra natal. Felizmente, não é o que acontece com o sul-coreano Park Chan-wook, há muito tempo um dos diretores da nova geração que eu não canso de apontar como um dos maiores talentos em atividade hoje em dia (Mr. Vingança, Lady Vingança, Oldboy, Sede de Sangue), em seu primeiro projeto em solo ianque. Usando e abusando da estética primorosa que já virou sua marca registrada (cada fotograma do filme parece pronto para ser emoldurado e exibido em uma galeria de arte), Park Chan-wook consegue imprimir identidade própria no que nas mãos erradas seria fadado a virar um folhetim destinado à televisão. Os temas preferidos do diretor (a violência como reflexo de uma tensão sexual permanentemente latente, o núcleo familiar que esconde segredos) estão presentes no apenas regular roteiro escrito pelo ator Wentworth Miller, o Michael Scofield do seriado Prison Break. Mas Park Chan-wook consegue valorizar os pontos altos da trama, ao passo que é hábil em disfarçar os defeitos mais óbvios através de seu virtuosismo plástico. E a trinca de protagonistas, que conta com Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton, Matthew Goode (Watchmen - O Filme) e Nicole Kidman (linda, apesar das plásticas mal-feitas, e fotografada pelo diretor com a evidente intenção de aproximar a sua imagem das divas loiras imortalizadas por Hitchcock), está convincente. Como turista, Park Chan-wook fez um belo registro no cinemão americano. Resta saber se vão lhe conceder o visto de residente. Nota 8
* 122 - Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013): o cinema comercial americano vive uma inegável crise de criatividade já há alguns anos e a tonelada de lançamentos que prefere o caminho fácil das seqüências, refilmagens, reboots ou adaptações de quadrinhos, livros e qualquer outra fonte pop só escancara o fato. Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno, Hellboy), diretor mexicano que cresceu com o cinema de entretenimento de qualidade dos anos 70/80, resolveu dar o troco e deixar Michael Bay, seus Transformers e suas réplicas, se é que viram Pacific Rim, com uma baita vergonha de seu currículo. O que Del Toro faz aqui pelos antigos filmes japoneses "kaiju eiga" (os filmes de monstros que destruíram Tóquio um sem número de vezes durante a infância de muitos) deveria ser obrigatório para qualquer um que se aventure a homenagear um gênero ou produto, qualquer que seja. Preocupado em dar à premissa absurda do mundo povoado por monstros gigantescos que prefere investir em robôs colossais para combatê-los, o diretor construiu um verdadeiro microcosmo de referências ao gênero, dos cenários à música e deles às coreografias das lutas. Ah, as lutas... Elas botam no chinelo não só a franquia Transformers, como também os últimos 40 minutos de Homem de Aço e Os Vingadores e trocentas outras produções que tornaram a orgia dos efeitos em computação gráfica praticamente um videogame projetado nas telas de cinema. Combinando efeitos práticos, enormes cenários e muita maquiagem (características, aliás, de toda a filmografia de Guillermo), os efeitos digitais parecem se fundir ao que é de fato real em cena. Por isso, Pacific Rim também é uma lição de casa a ser aprendida por quem utiliza os computadores para tapear a própria inaptidão para o cinema (sim, Michael Bay, estou falando com você e seus imitadores). Del Toro sabe criar o clima, dar o real sentido de dimensão entre os elementos que constroem as cenas, construir lentamente a história e, por isso mesmo, quando os momentos de extravasamento chegam (claro, quem não ficaria esperando por batalhas épicas entre monstros e robôs gigantes?), eles realmente empolgam (e note-se como não precisam se tornar intermináveis para surtir o efeito pretendido). A sensação de peso a cada prédio destruído em cena é quase palatável (e um prazer extra é ver a reação do público quando isso acontece). A diferença entre Pacific Rim e qualquer outro enlatado americano reside na preocupação em entregar um roteiro com situações e personagens com que o público facilmente se identifica (e, por isso, torce loucamente, mesmo sabendo de antemão como o filme provavelmente terminará). Matinê como aquelas que povoaram a minha infância, desperta o piá de 13 anos que vive escondido dentro de qualquer um, independentemente de idade ou sexo. Se eu fosse o Michael Bay, estaria chorando em posição fetal num canto de sua mansão em Beverly Hills. Nota 8,5
123 - Would You Rather (Would You Rather, 2012): a franquia Jogos Mortais e o cineasta Eli Roth e seus dois O Albergue foram responsáveis ao mesmo tempo por popularizar e esgotar a fórmula que ficou conhecida como torture porn, aqueles filmes de terror que, no lugar de sustos, investem em cenas chocantes e muitas vezes gratuitas de violência e tortura. Menos mal que essa mistura assumida das duas franquias citadas acima preserva o caráter sádico do gênero, mas abre mão do componente que transformava o público em masoquista: o desleixo narrativo. Amparado por uma direção correta mesmo sem ser brilhante, atores de segunda categoria que pelo menos nunca comprometem e um desfecho bem sacado, é daqueles filmes ruins que resultam em bom divertimento. E nem é tão violento assim, deixando as cenas mais pesadas apenas na sugestão. O elenco, povoado por figuraças que quase sempre posam como coadjuvantes, traz rostos conhecidos como Brittany Snow (A Escolha Perfeita, Hairspray), a ex-atriz pornô Sasha Grey (Confissões de Uma Garota de Programa), John Heard (o pai de Kevin em Esqueceram de Mim) e Eddie Steeples (o Crabman do seriado My Name Is Earl). Mas quem rouba a cena é Jeffrey Combs (Re-Animator), esbanjando tanta canastrice que chega a ser brilhante. Nota 7
124 - Quando Me Apaixono (Then She Found Me, 2007): a estréia como diretora da atriz Helen Hunt revela uma realizadora com certa sensibilidade. Reconhecida no cinema injustamente por seus papéis de par romântico dos protagonistas (Melhor É Impossível, Do Que As Mulheres Gostam, Twister), é irônico que a personagem principal de seu primeiro filme seja justamente uma dessas figuras periféricas, eternamente destinadas a fazer escada para machos-alfa, o que o roteiro trata de desconstruir já nas primeiras cenas. O maior equívoco aqui é a indecisão entre entregar uma comédia romântica padrão, um drama sobre uma mulher que não consegue engravidar ou uma dramédia sobre o encontro de uma filha adotiva com sua mãe biológica (uma divertida Bette Midler). Essa dicotomia está escancarada desde a comparação entre o título nacional (que aposta na comédia romântica) e o título original (que refere-se justamente ao encontro de mãe e filha). Por trás dessa confusão narrativa, porém, há um elenco de respeito (além de Midler e Hunt, Matthew Broderick e Colin Firth dão as caras e todos estão muito bem). Como primeira tentativa atrás das câmeras de Hunt, se não chega a empolgar, pelo menos nunca incomoda. Vale uma espiadela. Nota 6,5
125 - O Último Exorcismo - Parte 2 (The Last Exorcism Part II, 2013): o primeiro O Último Exorcismo (ou seria o penúltimo exorcismo, dada a completa falta de lógica em denominar esse como "o último-parte 2"?) representou certo sopro de criatividade dentro do já batido gênero dos filmes de "found footages" (filmagens encontradas), com o comentário irônico que lançava sobre os falsos investigadores de fenômenos paranormais. Tinha pelo menos um personagem bem construído (o pastor que perdeu a fé e abraçava a racionalidade em vez da crença no sobrenatural) e um clima crescente de terror que era eficaz dentro de sua proposta. Essa continuação abandona a técnica da câmera na mão (seu primeiro erro) e aposta em um filme de horror convencional, colocando a endemoniada do primeiro filme em um ambiente urbano (outro equívoco). Apesar de começar razoavelmente bem, a trama vai gradualmente descambando para os mais surrados clichês do gênero (quem ainda agüenta a aparentemente obrigatória cena dos corvos que se atiram contra janelas?) até entregar o maior anticlímax do ano até agora. E o pior pecado: não mete medo nem em criança com menos de 10 anos. Vade retro. Nota 3
126 - Ferrugem e Osso (De Rouille Et D´Os, 2012): tão certo quanto o Oscar e o Natal é o fato de que todo ano pinta nas telas aquela produção francesa que esfrega na cara de Hollywood que é possível fazer drama popular de qualidade, sem cair no manual telegrafado de roteiro imposto pelos grandes estúdios americanos. Ferrugem e Osso é até aqui o longa da vez vindo da terra de Sarkozy a ganhar uma chance no circuitão brasileiro. Dirigido pelo excelente Jacques Audiard (do ótimo O Profeta), entrega uma história tocante amparada no relacionamento entre dois personagens (aparentemente tão incompatíveis quanto a ferrugem e o osso, como esclarece o título) defendidos de forma surpreendente por Matthias Schoenaerts e Marion Cotillard, ambos sensacionais em cena. Sem nunca resvalar nos lugares-comuns do dramalhão, Ferrugem e Osso surpreende pela sinceridade com que fala de perdas e reconquistas, das agruras do cotidiano e principalmente das contradições que existem na personalidade de todo ser humano. É de certa forma um filme de superação às avessas, que não esconde sob o tapete toda a crueza da realidade, como os contos de fada que tanto agradam a nova geração. Conta com uma trilha sonora irrepreensível (assim como a de O Profeta, aliás) e uma fotografia linda, daquelas que estão ali para ajudar na construção narrativa, mas nunca sobrepor-se a esta. Grande filme. Nota 9
127 - Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, 2009): tido na época do lançamento como um Almodóvar "menor", na verdade não tem nada de pequeno. É, sim, o mais despudorado (para o bem ou para o mal) novelão que o espanhol já realizou, com direito a paternidade escondida, adultério nas altas rodas da sociedade madrilense e personagem sendo jogado escadaria abaixo. Algumas situações são tão irreais quanto o capítulo do dia da novela das 8, mas Almodóvar conduz tudo com mão firme, piscando o olho para o público (o filme dentro do filme, por exemplo, é uma réplica perfeita de suas primeiras comédias). E a métrica estética empregada pelo cineasta (uma constante dentro dessa fase madura que vem desde Tudo Sobre Minha Mãe) faz cada cena apresentar um quadro milimetricamente equacionado, desde a paleta de cores vibrantes até a cenografia espantosa. Mas quem ilumina mesmo a produção é uma Penélope Cruz deslumbrante que parece incorporar o seu perfil de diva na direção de arte do filme. Só por ela Abraços Partidos já não mereceria ser lembrado como um trabalho menor de Almodóvar. Mas não é só. Nota 8
128 - Você Não Conhece Jack (You Don´t Know Jack, 2010): o que mais impressiona é a disposição da HBO em lançar um filme tão assumidamente pró-eutanásia, o que certamente deve ter provocado faniquitos na parcela de republicanos de sua audiência. Só por abraçar sem medo a bandeira da liberdade de escolha, o filme de Barry Levinson (Rain Man, Mera Coincidência) já merecia uma chance. A biografia do chamado Dr. Morte (Jack Kevorkian), que insistia em enfrentar a Suprema Corte americana ao advogar o seu direito de auxiliar no abreviamento da vida de pacientes terminais é um manifesto dos próprios realizadores sobre o tema. Por outro lado, com um elenco excelente que reúne em papéis coadjuvantes John Goodman, Susan Sarandon e Danny Huston, fica difícil não simpatizar com o protagonista, um sensacional Al Pacino, que levou com justiça o Globo de Ouro 2011 de Melhor Ator em Filme ou Minissérie para a TV. Seria legal se Brenda Vaccaro (Perdidos Na Noite) tivesse pelo menos concorrido como coadjuvante. Nota 7,5
129 - Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain, 2013):
159 - As Bem-Armadas (The Heat, 2013): comédia policial que resgata as incursões cômicas do gênero nos anos 80, mas com uma pegada muito mais humorística do que de ação, cortesia do diretor Paul Feig, dos seriados Arrested Development e The Office (a versão americana). A química entre a dupla formada por Sandra Bullock e Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento) funciona que é uma maravilha, o que garante algumas boas risadas, o que é artigo de luxo em um ano fraco para comédias como está sendo 2013. O roteiro é daqueles derivativos até dizer chega, mas fazer rir é o grande trunfo aqui. Diversão honesta. Nota 7
Mas é mesmo a excelência com que mistura o caráter
aventuresco das histórias em quadrinhos com o humor que fazem Thor: O Mundo
Sombrio triunfar sobre a maioria das superproduções recentes. Intercalando
momentos de máxima adrenalina (com a proverbial destruição ensurdecedora de
cenários digitais) com outros de comédia pura, o filme é uma montanha-russa envolvente
e ruidosa. Exatamente como os gibis em que busca inspiração. A Marvel tem cada vez menos vergonha na cara. E isso é
motivo de alegria para todo piá que um dia acreditou em um Deus do Trovão que
garantia a segurança do universo brandindo um martelo mágico. Antes que a vida
adulta batesse na porta e estragasse essa divertida ilusão. Nota 8
* 175 - Meu Passado Me Condena: O Filme (2013): nunca assisti ao seriado do canal pago Multishow que serviu de base para essa produção, assim como (confesso) há muito tempo desisti dessa nova onda de comédias brasileiras com um pé no humor televisivo e outro no inferno dos clichês do cinemão americano (da safra dos últimos anos, só arrisquei Mato Sem Cachorro porque me pareceu menos Zorra Total do que os seus pares e, para meu alívio, era mesmo). Meu Passado Me Condena (título infeliz e derivativo tanto para um seriado quanto para uma comédia cinematográfica) não possui, há de ser destacado, o tipo de humor calcado na pornochanchada de programas televisivos como Zorra, A Praça É Nossa e por aí vai. O objetivo aqui é fazer uma comédia centrada nos pequenos desencontros e desentendidos de um casal comum, mais ou menos como uma cópia mal xerografada de Os Normais. O problema é que nem a diretora Julia Rezende nem os roteiristas possuem o talento de Fernanda Young e Alexandre Machado para achar no cotidiano da classe média as quase imperceptíveis manias e vícios de comportamento que amparam as grandes piadas. Fica evidente aqui que a opção em rodar o longa durante um cruzeiro de verdade, com turistas servindo de extras, apressou as coisas ao ponto do timing da filmagem resultar truncado justamente pela pressa em rodar as cenas no navio. Se por um lado dá para se esbaldar com belas imagens de Casablanca e do litoral da Itália, por outro a sensação é que o roteiro, dentro do transatlântico, nunca atinge a velocidade de cruzeiro ideal para uma comédia romântica. Os coadjuvantes interpretados (bem, diga-se de passagem) por Marcelo Valle e Inez Viana ganham a mesma função dos anti-cupidos das comédias de Shakespeare (Muito Barulho Por Nada e Noite de Reis, em especial), mas, apesar da referência de peso, apenas atrapalham o andamento (e o timing) da comédia. O que resta são alguns momentos divertidos, mas todos eles protagonizados pelo humor de improviso de Fábio Porchat, que apesar de eternamente preso no personagem gaiato dos vídeos do Porta dos Fundos, é um cara naturalmente engraçado. Só ele para tornar até momentos constrangedores como a correria final em uma cidadela italiana mais do que uma reles cópia do que há de mais batido no cinema americano. Nota 5,5
Bem mais picante do que sonham as patricinhas facilmente ruborizáveis, o filme concentra as atenções em um protagonista que representa o próprio macho-alfa moderno, preocupado com o corpo, o carro e o status, colecionando presas em noitadas, mas que ainda assim só consegue atingir o orgasmo genuíno através da pornografia via internet.
Partindo dessa premissa, Joseph Gordon-Levitt (500 Dias Com Ela, O Cavaleiro das Trevas Ressurge), em sua estreia como diretor e roteirista, compõe um cenário acurado sobre as relações modernas, sem nunca deixar de lado o realismo no trato de seus personagens. E se Gordon-Levitt (também o protagonista) e Scarlett Johansson (absolutamente deslumbrante) entregam atuações sinceras e que casam perfeitamente com o realismo pretendido pelo longa, são mesmo os coadjuvantes, principalmente Julianne Moore, Tony Danza (Não Mexa Com A Minha Filha) e Glenne Headly (Dick Tracy) que garantem os melhores momentos do filme. Ao invés de investir na manjada fórmula esquemática do
"encontro-desencontro-reencontro" que norteia 9 em 10 comédias
românticas produzidas por Hollywood, o roteiro dá uma guinada à esquerda
no terceiro ato que torna o resultado prazerosamente imprevisível. Belo
trabalho de estréia atrás das câmeras de um cara que nos últimos anos
vem se destacando mais e mais à frente delas. Nota 8
** 187 - O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012): revisto um ano depois, esse primeiro capítulo da nova trilogia tem os seus defeitos bem mais expostos do que da primeira vez dentro da sala escura e em 3D reluzente. Há um óbvio descompasso narrativo, causado principalmente pela discutível opção em esticar o material original com o objetivo de arrecadar mais grana dos fãs. Particularmente, o começo é o trecho mais problemático aqui, com praticamente nada relevante acontecendo em cena enquanto somos apresentados a 13 anões que nunca ganham contornos que minimamente os individualizam. E torcer por um grande número de personagens desconhecidos é tarefa de gincana. Por outro lado, é inegável que, aqui e ali, Peter Jackson consegue recapturar o tom de encantamento e aventura da trilogia dos Anéis. E isso faz muita diferença nos dois atos finais da produção. Há um bom clímax, o retorno de personagens memoráveis (Gandalf, Galadriel, Elrond, Saruman, Frodo, Gollum) e um visual (e climão) que parece saído diretamente das três primeiras adaptações de Tolkien comandadas por Jackson. Um filme que poderá se tornar algo totalmente diferente quando encerrada a nova saga, daqui a um ano. Nota 7,5
verter um livro de apenas duzentas e poucas
páginas em três filmes com quase três horas de duração cada um é uma manobra
com evidente fim mercadológico. E os detratores dessa opção não deixam de ter boa parcela de
razão. É visível que a história está sendo espichada até o limite do impossível
para que a jornada do hobbit Bilbo Bolseiro e dos 13 anões que o acompanham
consiga arrecadar o máximo de dólares que a franquia possa tirar da carteira do
público. Há nesses filmes uma incômoda barriga que não havia na trilogia
original de O Senhor dos Anéis, com uma trama que inegavelmente se arrasta por
muito mais tempo do que seria prudente. Dito isso, o mesmo tom épico e o notável clima de aventura
que Peter Jackson soube filtrar como ninguém para o cinema nos três O Senhor dos Anéis estão de volta nessa nova série
de filmes. Bastante superior ao primeiro filme, que dividiu opiniões no ano passado, essa sequência acerta alguns descompassos da produção anterior. Em primeiro lugar, não há uma introdução interminável
como aquela do filme de 2012. Em A Desolação de Smaug, o público é lançado
diretamente dentro da ação, que mantém-se sempre presente durante o desenrolar da história. O hobbit Bilbo é uma criação tão divertida e adorável de Martin
Freeman (O Guia do Mochileiro das Galáxias) que acaba por compensar a completa
apatia do outro protagonista, Thorin, o líder dos anões, que continua sendo um
anti-herói irritante que em nenhum momento consegue conquistar o público. Até chegar ao aguardado encontro com o dragão, Peter
Jackson enche a tela (e os olhos da plateia) com cenas de ação de tirar o
fôlego (toda a sequência que envolve a descida de um rio dentro de barris é uma
das melhores coisas já feitas em termos de adrenalina no cinema nos últimos
anos) e um visual que requer um esparadrapo para que o queixo não caia (quem
puder, que veja no 3D espantoso da sala IMAX de Porto Alegre, uma experiência
única). Mais sombrio e muito mais cheio de personagens e
subtramas do que seu antecessor, o filme também acerta ao trazer de volta o elfo Legolas (Orlando Bloom), que, junto de Tauriel (Evangeline Lilly, do seriado Lost,
lindíssima), é responsável pelas melhores acrobacias que a tecnologia moderna é
capaz de coreografar. E não dá para esquecer do dragão Smaug (voz de Benedict
Cumberbatch, de Star Trek – Além da Escuridão), talvez uma das criações
digitais mais impressionantes de que se tem notícia. É disparado o dragão mais
realista já mostrado pelo cinema. Porém, como todo capítulo intermediário, O Hobbit – A
Desolação de Smaug é um filme incompleto. Quando se aproxima o clímax (na
realidade, justamente em meio a ele), a tela escurece e sobem os créditos. Só
no ano que vem para a jornada chegar ao fim, quando todos teremos que comprar
mais ingressos, pipoca e refri para descobrir como raios isso termina. Como
tudo em Hollywood, O Hobbit também é basicamente uma questão de cifras. Nota 8
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