O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Kung Fu Fanta



(Remake de um texto originalmente produzido para a Revista Rua Grande, refilmado, mas não copiado, pelo próprio Autor)

Remakes suck. A nova praga a assolar Hollywood nada mais é do que uma tentativa desastrada dos engravatados produtores de Hollywood em regurgitar novas franquias que atraiam o público jovem (leia-se: fãs da “saga” aquela e do Justin Bieber, valha-me Deus). O objetivo? Óbvio: encher os bolsos de doletas e garantir as prestações dos consórcios de suas BMW’s e Ferraris.

Os produtores usam um golpe baixíssimo para encher as carteiras: lançam mão do saudosismo que nós, geração 80 da gema, exibimos como um troféu em forma de bottom colado na lapela da jaqueta de couro, para fazer com que paguemos o ingresso de nossas namoradas/esposas/concubinas e dos nossos filhos/enteados/afilhados para rever os clássicos de nossa distante juventude com nova roupagem. Apresentamos assim os mesmos filmes que nos forjaram a infância e adolescência nas matinês dos cines Brasil e Independência a um novo público, nossos novos fantoches. Basicamente, a mesma coisa que nos fizeram os nossos pais. Só que os nossos pais nos apresentavam ao material original, na forma de reprises de Bonanza e de Trinity e Bud Spencer.

Vivemos uma época em que a informação e a emoção são voláteis. Nossas vidas, transformadas num jornal de ontem. Os prazos de validade vão terminar vindo de fábrica em algarismos romanos. Ou vamos todos virar pinturas numa caverna escondida no meio do deserto australiano.

As refilmagens se aproveitam justamente dessa rapidez com que tudo (tudo tudo tudo) é descartado no mundo atual. Por quê rever os filmes da série Sexta Feira 13 ou A Hora do Pesadelo se podemos simplesmente ver um produto novinho em folha, com efeitos digitais tinindo o seu state of the art? Prá quê perder tempo com o esguio Errol Flyn se hoje em dia o balofo Russel Crowe pode malhar durante 2 meses para caber na malha do Robin Hood? De certa forma, é o terror do acervo das videolocadoras, cujos proprietários deveriam se unir e protestar em frente aos grandes estúdios queimando fotos do Michael Bay e do Jerry Bruckheimer.

Normalmente, os remakes limitam-se a reproduzir, cena por cena em alguns casos (eeeeei, Gus Van Sant e seu Psicose vergonhoso!) as obras originais. Fórmula infalível do dinheiro fácil, mas uma difícil tarefa quando se trata de criar um produto minimamente satisfatório, pelo menos do ponto de vista cinematográfico.

Mas existem raras exceções à regra. A mais recente é a refilmagem de A Hora da Verdade (The Karate Kid, EUA, 2010), clássico imortalizado pelas incontáveis exibições na Sessão da Tarde.

Momento de saudade constrangedora: eu e meus colegas de escola conhecemos a história de Daniel-san como A Hora da Verdade. Só virou Karatê Kid quando a parte dois ganhou o título de Karatê Kid 2: A Hora da Verdade Continua. Provavelmente quando o Machado de Assis ganhou o prêmio de escritor estreante em alguma Feira do Livro.

Quando foi anunciado o projeto de refilmagem de Karatê Kid, tive vários arrepios na espinha e cheguei a ensaiar um ataque cardíaco. Nem tanto por se tratar de um filme oitentista que ainda hoje está fresquinho na memória coletiva da minha geração, mas pelos detalhes amedrontadores que envolviam o remake: a idade do protagonista seria trocada (sairia o adolescente Ralph Macchio e, no lugar, entraria o pirralho Jaden Smith, de apenas 12 anos!), o velho Sr. Miyagi seria interpretado pelo cinquentão Jackie Chan e (o horror! o horror!) até mesmo a arte marcial do título seria cambiada para o kung fu!

Peraí: um filme que se chama Karatê Kid não é sobre caratê? Isto mesmo! Os produtores, provavelmente achando que a idéia seria o equivalente ao descobrimento da cura para o câncer linfático, resolveram mudar a luta que é retratada no filme sem corrigir o título. (Pausa para um minuto de silêncio, enquanto a Vanusa canta o hino japonês e a torcida do Grêmio tenta uma avalanche).


Pois contra todos os prognósticos negativos, a nova versão de Karatê Kid é um filme muito decente. Divertido mesmo. Quase me fez sair do cinema querendo lutar kung fu no estacionamento do shopping, o que eu não fiz por medo de ser imobilizado por algum segurança com forma de armário com 2 portas feito de aço inox escovado.

Prestando sincera homenagem ao filme original, o novo Karatê Kid acerta em quase tudo. Primeiro, não se atém ao roteiro de 1984, transferindo a ação para Pequim, cidade para onde a mãe do pré-adolescente Dre (Jaden Smith, filho de Will Smith e Jada Pinket-Smith, um guri promissor) é transferida. Apesar do plot permanecer o mesmo (o protagonista tem que lidar com bullying no colégio e, com a ajuda de um veterano, aprende uma arte marcial até enfrentar os valentões malvados num torneio de luta), há aqui e ali mudanças singelas, mas essenciais: o professor agora não é mais um Matusalém com a cara do Pai Mei de Kill Bill, mas o astro Jackie Chan, que emprega um registro mais dramático ao personagem e até ganha a chance de mostrar o seu talento em uma cena impagável de briga... contra crianças!!!! Isto mesmo, o Sr. Myiaggi agora é o Jackie Chan! Não entendeu? J-A-C-K-I-E C-H-A-N!

As paisagens chinesas ganham destaque no treinamento do novo karatê kid (agora, vamos e venhamos, quem em sã consciência iria escolher a Muralha da Fucking China prá ensinar kung fu para uma criança?) e mesmo as técnicas de aprendizado são atualizadas. Saem o “prá cima, prá baixo” e a pintura de cercas e polimento de carros do original e entram o “tira, bota” (sem malícia, mané) de jaqueta.

Apesar do clímax ser praticamente um xerox do filme original, a nova versão ganha brigas mais coreografadas, condizentes com o cinema praticado hoje em dia em Hollywood. O pulo da garça? Ganha um primo distante, não tão icônico, mas mesmo assim legal.

E, se é um pouco bizarro ver crianças trocando sopapos e chutes na telona, de certa forma tudo é relevado pelo clima correto empregado pela direção certeira de Harald Zwart (tente dizer o nome do cara em frente ao espelho e aguarde pela visita do Candyman).

O novo Karatê Kid, mesmo não merecendo uma faixa preta, já que traz em seu DNA o vírus da cópia, tranquilamente nocauteia a maioria dos remakes paridos pelo cinema americano. Daniel-san e o Sr. Myiagi podem descansar em paz.


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