O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


domingo, 29 de agosto de 2010

Shyamalan Sem Alça


Grandes diretores pisam na bola. Todo mundo dá mancada de vez em quando, fazer o quê? De Palma fracassou ao tentar adaptar Tom Wolfe em Fogueira das Vaidades. Polanski pagou mico com O Último Portal. Scorcese dirigiu o chato Kundum. Ridley Scott cometeu Hannibal e, não satisfeito, meteu os pés pelas mãos com o último Robin Hood.


Todos eles, apesar dos deslizes, têm uma ficha corrida que serve de abono após os fracassos recentes. Coppola pode ficar pro resto da vida rolando pelos vinhedos dele na Argentina porque têm no currículo os três Godfather, Apocalypse Now, A Conversação e o Drácula. Deus salve e guarde o barbudo.


E então temos o M. Night Shyamalan. Um cara que, a cada novo filme, gerava debates no finado Clube de Cinema Paradiso. Só fazia coisa boa. O Sexto Sentido tem um roteiro irretocável. Corpo Fechado é o melhor filme de super-herói que não foi baseado numa HQ. Sinais e A Vila ficam melhores após sucessivas revisões. A Dama Na Água, primeiro filme a ser espinafrado pela crítica americana, foi um fracasso injusto. Estavam ali todos os elementos que fizeram a fama do indiano: roteiro com várias camadas, domínio absoluto de enquadramentos, personagens bem desenvolvidos, elenco escolhido a dedo.


Dois anos atrás, o cara apareceu com o seu Fim dos Dias e tudo começou a mudar. Se aquele filme tinha 30 minutos iniciais promissores e que faziam jus à filmografia do sujeito, a partir do 31º minuto tudo descambava ladeira abaixo, com o Mark Wahlberg com cara de constipação conversando com samambaias e tudo o mais. De fato, por mais que eu quisesse encontrar predicados salvadores no filme, Fim dos Tempos é imperdoável. Dirigido de forma displicente, com um elenco deslocado e com um final que, bem, não existe, é um filme para ser esquecido. Um deslize como aqueles apontados no primeiro parágrafo.


Por isso, após assistir a O Último Mestre do Ar, é com imensa dor que eu afirmo: M. Night Shyamalan desaprendeu o ofício.


Se em Fim dos Dias o diretor demonstrou não ser infalível, em The Last Airbender ele prova que pode ser medíocre. E não só um pouco medíocre, mas medíocre meeeesmo, da gema.


Em O Último Mestre do Ar, Shyamalan fez o que o jornalista Ribeiro Pires apropriadamente definiria como “tentar colocar São Leopoldo dentro da Scharlau”. Da mesmíssima forma que o roteirista Akiva Goldsman errou ao tentar enfiar toda a informação do livro O Código Da Vinci dentro de um filme com duas horas, Shyamalan pretendeu condensar uma temporada inteira do desenho Avatar em um script de pouco mais de 90 minutos. Ou seja: tudo para dar errado. E deu.


Só vi o piloto do tal desenho. Me pareceu legal. Tenho amigos que adoram, me emprestaram a gravação de todas as temporadas, coisa e tal. Nunca me animei a ver, mesmo porque tinha esperança que a versão live action do indiano fosse me arrebatar, tipo o que o Peter Jackson fez com O Senhor dos Anéis. Ledo engano.


O filme de Shyamalan é um erro só. Com um excesso de informações que faz Ilha das Flores e A Origem parecerem um livro do Dr. Seuss, o roteiro não sabe para que lado focar. Nunca. É narrativa em off onde não devia, cenas que parecem isoladas e sem qualquer sentido, personagens que entram e saem de cena sem motivo aparente.


Personagens? Nenhum que remotamente pareça interessante. A certa altura, me peguei imaginando quem seria o protagonista, porque nenhum (NENHUM) dos personagens tinha cara de principal. Nem o tal guri careca que é o “último mestre do ar”. Piá irritante, que não consegue dizer “bom dia” de forma convincente. O resto do elenco é daí prá pior. Tem um adolescente com o cabelo de cantor sertanejo que, olha, é tão bizarro em sua tentativa de ser o alívio cômico do longa que faz o Rob Schneider parecer um gênio do humor.


Sem falar que o filme é tosco até na dramaturgia. Diálogos são declamados como num teatro infantil mambembe. Coisa amadora de verdade. Cenas são amarradas com um “fade out/fade in” que parecem saídas de um curta experimental do núcleo básico da faculdade de cinema de Não-Me-Toque.


Salva-se a trilha e alguns efeitos especiais legais. E olha lá.


Impressionante é que os únicos méritos do filme sejam justamente aqueles em que Shyamalan, diretor e roteirista, não se envolveu diretamente.


A parte que cabia ao indiano ele não soube fazer. O que é preocupante, se considerarmos que é um produto típico de Hollywood, uma aventura para toda a família, apoiada em efeitos digitais. Coisa que qualquer diretor furreca conseguiria fazer com um pé nas costas.


Shyamalan torrou toda a poupança que tinha comigo. Daqui para a frente, vai ter que se superar. E até isto acontecer, anotem aí: não alimentem qualquer expectativa com o sujeito. Ele, aparentemente, apenas era um grande enganador.


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