O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


domingo, 29 de agosto de 2010

Quanto Pior… Melhor?


Cena gratuita de flashback: Montevidéu, nos idos de 1987, eu e meu pai saímos do cinema e, imbuídos pela empolgação com a nova pérola cinematográfica estrelada por Stallone, imitamos os combates de queda de braço sobre os carros no estacionamento do shopping. Eu, claro, sou enganado e penso que sou tão forte que ganho todas do coroa. O filme era o inqualificável Falcão – O Campeão dos Campeões e eu era apenas um piá ranhento de 12 anos, para quem o cinema já era uma das maiores paixões.

Meu pai de certa forma alimentou esse amor pela Sétima Arte, sempre disposto a encarar qualquer dos filmes do Didi Mocó e Cia. comigo ou mesmo reservar 2 horas das férias dele para enveredar comigo em salas escuras de cinema mundo afora.

Engraçado que, pensando nisso agora, com mil anos de distância, dá até para perceber que o Pedrazza acabou involuntariamente lapidando o meu gosto cinematográfico. Não porque tivesse um gosto refinado, longe disso. Preferia (e defendia com veemência e paixão) os faroestes do John Wayne e os policiais do Charles Bronson sobre quaisquer outras obras. Mas ele também me levou ao cinema para ver Platoon, Filhos do Silêncio, Nascido Para Matar, Império do Sol, entre tantos outros títulos de qualidade inquestionável.

Para o meu pai, o que importava era o filme ter ação, eu achava na época. Na verdade, o que ele queria era movimento, sem enrolação. Adorou Wall Street, do Oliver Stone, A Cor Púrpura, do Spielberg, Os Bons Companheiros, do Scorcese. Não porque fossem filmes com tiros e explosões, mas porque tinham narrativas que fluíam como um rio caudaloso, sem espaço para grandes suspiros entre as cenas. Por isso, ele apreciou tanto quando compramos o primeiro videocassete, que possibilitava apertar o flashforward e passar batido pelas cenas que, para ele, eram paradas demais. Luiz Pedrazza levava o fundamento do cinema a sério até demais, buscando a arte em permanente movimento, mesmo quando a obra implorasse por um momento de respiro.

Lembrei do meu pai quando saí do cinema após a sessão de Os Mercenários (The Expendables). Eis um filme que o Pedrazza teria gostado e muito. No filme de Sly, tudo é rápido demais, raso demais, canhestro demais. Esquecível demais.

O que podia ter sido uma produção daquelas para deixar cinéfilos babando de satisfação é apenas um filmeco comum, não fosse o prazer juvenil de ver na tela uma reunião de astros de ação como há muito (desde... Sete Homens E Um Destino ou Os Doze Condenados, talvez?) não se via na telona: Stallone, Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Randy Couture, Steve Austin, Gary Daniels, Eric Roberts, mais pontas de Mickey Rourke, Bruce Willis e do Governator himself!

Quando eu li que o casting do filme iria ter tanta testosterona junta, tive uma ereção (mental, tá pensando o quê?). A ereção física talvez tenha vindo com o anúncio da Gisele Itié como a mocinha, espero eu. É o elenco dos sonhos de qualquer adulto que cresceu imitando as lutas do Rocky com os coleguinhas do colégio.
O problema é que Os Mercenários é tão ruim que não deixa muito espaço para ser defendido.

É mal dirigido, pessimamente escrito, horrorosamente atuado. São tantos clichês babacas que em alguns momentos pensei que estava diante de uma daquelas produções da Cannon Group que saíam em VHS pela América Video (a série American Ninja, os filmes do Chuck Norris, os derradeiros do Bronson...).

Em vez de esforçar-se para fazer um filme decente como o sensível Rocky Balboa, Sly optou por simplesmente prestar homenagem aos filmes ruins de ação dos anos 80. Pouco para o que poderia ter sido.

Cenas como Mickey Rourke chorando sobre um mar de tatuagens, Eric Roberts envergonhando a irmã Julia a cada aparição, Stallone e Statham tentando parecer engraçadinhos enquanto dizimam um mar de figurantes latinos, são momentos que merecem um lugar de destaque no panteão dos piores pesadelos de um cinéfilo que se preze. E pelamordedeus, colocar o Jet Li empunhando uma metralhadora e sem um coreógrafo decente de lutas é pecado mortal.

Claro, há momentos de inspiração, o melhor deles a tal cena em que Sly, Willis e Schwarzza travam um diálogo engraçadinho e autoparódico em uma igreja abandonada. Mas são minutos isolados em meio à avalanche de lugares-comuns de um roteiro pedestre.

Durante o interminável clímax, a Sinara olhou para mim com cara de enfado e perguntou ironicamente se o Stallone tinha chamado o Michael Bay para dar uma mão na direção, tamanho é o número excessivo de explosões na tela. Eu apenas ri amarelo.

Porque, mesmo sendo um produto vexatório, Os Mercenários tem o seu charme para carinhas que, como eu, cresceram trocando sopapos com valentões depois da Kompha, inspirados nos personagens de Stallone e Cia.

E, confesso, não consegui conter a empolgação diante de tanta testosterona na tela. Vibrei como um pirralho virgem a cada luta e tiroteio. Mas não contem para ninguém. Gostei tanto de Os Mercenários quanto de Braddock 3 ou American Ninja 4. Meu pai definitivamente não teria motivos para reclamar.

A esperança é que na continuação, além de Stallone chamar Van Damme, Norris, Mel Gibson e Michael Dudikoff, também resolva prestar homenagem aos filmes de ação bons dos anos 80. Daí, nem vou ter vergonha de dizer que gostei.

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