O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Rewind 2013 No Cinema - Parte 1



Bem, comecemos o ano de 2013 com a primeira parte da tradicional lista dos filmes vistos no ano, do 1º em diante, todos eles com micro-resenhas e uma nota. O numeral atribuído a cada nota não deve ser visto como uma sentença definitiva. Em primeiro lugar, não se pode condensar toda a avaliação sobre uma obra, qualquer que seja, em um mero numeral, o que seria de um reducionismo pedestre. A nota serve, no caso dos comentários breves, como forma de ilustrar o que não coube no texto. 

Neste ano, assim como em 2012, utilizarei os seguintes parâmetros para quantificar as notas: 

-  notas 10: só para filmes que passaram no teste do tempo, ou seja, somente para filmes que permanecem excelentes mesmo após mais de 20 anos de seu lançamento;
- de 8 a 9: filmes ótimos;
- de 6 a 7,5: filmes bons;
- 5 ou 5,5: filmes razoáveis;
- abaixo de 5: filmes com variáveis graus de ruindade.

* Filmes vistos no cinema
** Filmes revistos 
Sublinhados: filmes que passaram no circuitão do RS em 2013

 1 – A Ocasião Faz O Ladrão (Henry´s Crime, 2010): Keanu Reeves, que não tem timing cômico sequer para contar uma piada de português, se arrisca em uma comédia de assalto. O resultado, como era de se esperar, é desastroso e nem as boas presenças de James Caan e Vera Farmiga conseguem salvar o filme de um resultado tão apático e insosso quanto a inacreditavelmente péssima performance do astro de Matrix. Nota 3

2 - Grabbers (Grabbers, 2012): irresistível comédia de ficção rodada na Irlanda que transforma uma invasão de alienígenas em uma pequena ilha em uma ótima desculpa para ir para um pub. Mistura de forma esperta o clima de Ataque dos Vermes Malditos com o sarcasmo inglês/irlandês presente em O Barato de Grace e A Fortuna de Ned. Muito, mas muito engraçado. Nota 7,5

3 - The Man With The Iron Fists (The Man With The Iron Fists, 2012): um filme que tem pedigree, com produção do Tarantino, roteiro do Eli Roth (O Albergue), com nomes como Russell Crowe, Lucy Liu e Jamie Chung (Sucker Punch) no elenco. O problema é que a direção (e o argumento e, valha-me Deus, a trilha sonora) são do rapper RZA, que também pinta como protagonista dessa homenagem aos filmes de artes-marciais dos anos 70. Com uma edição completamente histérica, que deixa o fiapo de história ainda mais confuso e nonsense e que literalmente destrói qualquer chance de compreensão das cenas de ação, é o típico caso das ferramentas que são entregues a um sujeito inepto para manuseá-las. Uma aula de cinema. Só que ao contrário. Nota 2

4 - Fenômenos Paranormais 2 (Grave Encounters 2, 2012): continuação de um filme de filmagens encontradas de 2011 que, se já não era lá graaaaande coisa, pelo menos conseguia meter medo e provocar sustos. Esse aqui tenta investir na metalinguagem já explorada em A Bruxa de Blair 2, mas limita-se a repetir absolutamente todos os passos do antecessor. A diferença é que, no lugar dos diretores do original, colocaram um novato na cadeira de diretor. O resultado é que o filme nem sequer consegue assustar. Fuja. Não dos fantasmas, mas dessa porcaria. Nota 3

* 5 - Sete Psicopatas E Um Shih Tzu (Seven Psychopaths, 2012): diretor do excelente Na Mira do Chefe (In Bruges), Martin McDonagh continua a explorar o humor negro e a desconstrução total dos clichês do gênero policial nessa comédia impagável, violenta, cheia de metalinguagem bem aplicada e com uma pegada que, desde a sensacional cena de abertura, lembra muito o cinema de Tarantino. Grande elenco (Colin Farrell, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Christopher Walken, entre tantos outros) em um grande filme. Nota 8

* 6 - As Aventuras de Pi (Life Of Pi, 2012, em 3D): à primeira vista, é apenas uma bela fábula dirigida pelo versátil Ang Lee (O Tigre E O Dragão, Hulk, O Segredo de Brokeback Mountain). Bela, não. Linda demais, principalmente pela capacidade inegável do chinês em criar imagens estonteantes, de fazer cair o queixo no chão da sala de cinema. Passado o encantamento, o livro de Yann Martel reserva para o final uma reviravolta que muda completamente o contexto do que se vira anteriormente e torna a discussão sobre fé X racionalismo introduzida meio ao acaso no começo do filme o mote central de toda a trama. É dessa revisão, que implica compreender todos os inúmeros simbolismos presentes na narrativa (alguns óbvios, como a multiplicação dos peixes, outros assustadores se bem entendidos, como a alegoria da ilha carnívora), que surge um filme corajoso e cheio de camadas. Só por oportunizar a discussão escondida em seu desfecho (e que só será desvendada por quem refletir sobre o que viu), já é uma obra muito acima da média. Sobre o 3D, é legal, mas a fotografia é tão sensacional que não perde nada se visto na forma tradicional. Nota 8,5  

7 - ParaNornam (ParaNorman, 2012): assim como Frankenweenie, é uma animação em stop-motion que investe pesado em prestar homenagem aos clássicos do terror (no caso, principalmente A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero). Do mesmo estúdio criador de Coraline E O Mundo Secreto, de 2009, é uma produção que diverte bem mais os adultos do que as crianças, que provavelmente não vão entender metade das piadas e ainda por cima vão se assustar prá caramba. Por outro lado, os barbados vão encontrar aqui um clima oitentista parecido com o de A Casa Monstro, o que garante um passatempo dos mais prazerosos. Nota 7,5

8 - Reis e Ratos (2012): a idéia de criar uma comédia ambientada nos bastidores do golpe militar de 1964 é boa e a trama começa bem, com destaque para a afinada dupla formada por Selton Mello e Otávio Müller, que aproveitam cada um de seus inspirados diálogos. O problema é que da metade em diante, a piada perde o fôlego e o roteiro vira um amontoado de idas e vindas confusas até o final maçante que flerta perigosamente com o ridículo. No final das contas, o que mais fica na memória é a incrível caracterização de Rodrigo Santoro, impecavelmente enfeiado para o papel coadjuvante do cafetão Rato. Nota 5

* 9 - Jack Reacher - O Último Tiro (Jack Reacher, 2012): bem diferente do que a campanha de marketing fazia supor, é uma produção que não tem nada a ver com a franquia Missão Impossível. O parentesco mais próximo são os policiais investigativos da década de 70, como Bullit e Meu Nome É Coogan, ou seja, é um thriller old school, sem pirotecnia ou efeitos digitais. Como coadjuvantes, Robert Duvall e o diretor Werner Herzog roubam qualquer cena em que aparecem, principalmente o primeiro. No lugar das explosões operísticas, aqui há um pontual e bem empregado uso do humor, algo raro no gênero. Pena que a história seja um emaranhado de clichês mais do que manjados, culpa provável do livro que adapta. O bom é que Christopher McQuarrie, roteirista de Os Suspeitos, demonstra boa mão para a condução da trama. E Tom Cruise parece ter nascido para interpretar esse tipo de personagem. Aliás, esse tal Jack Reacher, personagem de uma série de livros, é uma figura muito interessante.  Espécie de mistura entre a perspicácia de Sherlock Holmes e a virilidade de James Bond, é um herói por quem o público facilmente se identifica e torce. O carisma do mocinho, aliado à dose extra de (muito bem-vinda) comicidade presente na produção, tornam o filme uma boa diversão. E, o melhor de tudo, honesta. Nota 7,5

* 10 - Celeste e Jesse Para Sempre (Celeste & Jesse Forever, 2012): comédia romântica que é prima-irmã de (500) Dias Com Ela na opção de contornar os clichês mais batidos do gênero e substituí-los por uma boa dose de inteligência e fofura bem empregada. Faz uma bela e realista crônica do final de um relacionamento. Trilha moderninha irresistível, coadjuvantes impagáveis, com destaque para um Elijah "Frodo" Wood como o sócio gay da protagonista, e um humor cínico que nunca resvala para o pastelão ou para a grosseria. E Rashida Jones (Eu Te Amo Cara e filha de Quincy Jones), co-autora do roteiro, está luminosa. Para começar bem o ano. Nota 8 

11 - Apollo 18 - A Missão Proibida (Apollo 18, 2011): pensem num filme ruim. Agora, pensem nesse mesmo filme ruim sendo filmado de uma forma tão irritantemente amadora que as pouquíssimas coisas relevantes que acontecem em cena não consigam sequer ser compreendidas pelo público. Definitivamente, com isso aqui a famigerada onda dos filmes baseados em falsas filmagens encontradas literalmente foi pro espaço. Nota 2

* 12 - A Viagem (Cloud Atlas, 2012): apesar de ter inegáveis problemas de ritmo em suas excessivas três horas de duração, além de nunca desenvolver muito bem a vaga mensagem que tenta transmitir, é um tour-de-force ousado (e, por isso mesmo, muito interessante) em termos de narrativa cinematográfica. Não que as seis tramas que intercala sejam assim tão difíceis de acompanhar, muito menos complexas. O futuro pós-apocalíptico de uma das histórias também é brega de doer. É que o simples fato dos irmãos Wachowski (Matrix, Speed Racer) e Tom Tikwer (Corra Lola Corra, Perfume) investirem em um filme tão diferente do padrão de Hollywood já é motivo de celebração. Se o roteiro é muito mais pretensioso do que deveria (e é mesmo), isso de certa forma não importa tanto, tamanha é a habilidade com que a edição E a montagem, JUNTAS, fazem funcionar como um relógio suíço o entrelaçamento dos inúmeros clímaces que permeiam a produção. A excelente maquiagem, que transforma cada ator em média em 6 personagens diferentes, apesar de alguns tropeços (Hugo Weaving como enfermeira parece demais com Uma Babá Quase Perfeita, por exemplo), cumpre função fundamental para a trama. O resultado final é um caso de "ame-o ou odeio-o" clássico. Eu gostei bastante. Nota 8 

* 13 - O Mestre (The Master, 2012): o cinema de Paul Thomas Anderson (Boogie Nights, Magnólia, Sangue Negro) respira em um ritmo próprio. Lento e contemplativo como Sangue Negro (até demais), O Mestre não é para muitos, mas os poucos que conseguem apreciar a cadência milimetricamente controlada de suas obras-primas não sairão decepcionados da sala de cinema. Muito mais do que uma alegoria sobre a gênese da Cientologia, como foi taxado durante a produção, é um estudo profundo sobre a lavagem cerebral operada pelos cultos em geral sobre os seus seguidores (e, para os brasileiros, dá uma incômoda sensação de familiaridade com os programas evangélicos transmitidos indiscriminadamente pela televisão aberta tupiniquim). Como todo filme de P. T. Anderson, cada fotograma parece fruto de um estudo minucioso da mise-en-scène e cada cena, uma pintura pronta para ser enquadrada. Já a trilha sonora de Jonny Greenwood, do Radiohead, repetindo a parceria de Sangue Negro, é nunca menos do que fantástica, com seus violinos dissonantes e batida descompassada que evidenciam ainda mais a insanidade dos personagens principais. E, como sempre, as interpretações são a alma do filme. Phillip Seymor Hoffmann e Amy Adams estão assustadores, cada um a seu modo. Já Joachim Phoenix entrega aqui a melhor atuação de sua carreira e uma das mais impressionantes caracterizações em muitos e muitos anos. Se realmente perder o Oscar para Daniel Day-Lewis, é porque esse último tem que estar ainda mais surpreendente. O que é tarefa das mais difíceis. Nota 8,5

14 - Occident (Occident, 2002): dirigido pelo romeno Cristian Mungiu, atual queridinho dos festivais mundo afora (são dele os premiados 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias e Além das Montanhas), utiliza a comédia de forma simpática para pintar um retrato acurado e original das conseqüências que a chegada do capitalismo à Romênia após a derrocada do regime ditatorial impuseram sobre a sociedade do país. Bom ponto de partida para conhecer o cinema de Mungiu e do restante do Leste Europeu, uma das cinematografias mais emergentes dos últimos anos. Nota 7,5

15 - Paradies: Liebe (Paradies: Liebe, 2012): produção austríaca rodada no Quênia e selecionada para o Festival de Cannes do ano passado. É o primeiro filme de uma trilogia do diretor Ulrich Seidl sobre relacionamentos. Usa a narrativa lenta, triste e cheia de cenas bizarras (que realmente incomodam e embrulham o estômago, vale dizer) para tratar do tema do turismo sexual de senhoras de meia-idade na África, mas a sua real intenção é tecer um comentário ácido sobre a relação ainda conflituosa entre Império-Colônias na Europa atual. E, nesse sentido, pelo menos, funciona como um soco com luva de boxe na cara da Europa imperialista. Nota 6,5

16 - Amanhã Nunca Mais (2011): espécie de releitura tupiniquim para o Depois de Horas do Scorsese, traz Lázaro Ramos no papel central, um enfermeiro que passa por uma série de percalços durante uma noite para conseguir entregar o bolo de aniversário da filha. Poderia ser bem mais engraçado, mas inexplicavelmente o diretor Tadeu Jungle (do excelente Evoé - Retrato de Um Antropófago) prefere dar à narrativa uma gravidade desnecessária e completamente sem propósito. De qualquer forma, a estrutura kafkiana do roteiro é suficientemente interessante para fazer com que os enxutos oitenta e poucos minutos de duração passem voando. Nota 7

* 17 - João e Maria: Caçadores de Bruxas (Hansel And Gretel: Witch Hunters, 2013, em 3D): vendido erroneamente como mais uma adaptação moderna de fábulas infantis, é muito mais um espetáculo gore do que uma nova versão do conto dos irmãos Grimm. Tem parentesco maior com o inferior (e medonho) Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros do que com Branca de Neve e O Caçador, por exemplo. O roteiro é pavoroso e, verdade seja dita, tão apressado que nem dá tempo de individualizar, quanto mais aprofundar, os personagens. Assim, a apatia característica de Jeremy Renner sucumbe à beleza de Gemma Arterton, badass até a medula como Maria. Famke Janssen até faz o que pode como a vilã, mas a sua participação limita-se a uma ou outra tiradinha engraçada. O bom é que o filme tem alma e corpo de terrorzão trash, com vísceras voando para todo lado (inclusive na cara do público, cortesia de um divertidamente eficiente uso do 3D). Como todo filme convertido para o formato 3D, é prejudicado pelo escurecimento das cenas, algumas difíceis até de visualizar. E isso é um problemão, considerando que boa parte do filme é composto de cenas noturnas! Menos mal que o diretor norueguês Tommy Wirkola (do ótimo Zumbis Na Neve, rodado em sua terra natal) não leva o projeto a sério em nenhum momento, preferindo transformar o filme em uma sucessão de cenas de ação que não economizam no sangue artificial. O primeiro filme ruim do ano que me ganhou pela simpatia. Diversão bem honesta. Nota 6

*18 - Django Livre (Django Unchained, 2012): é cinema de cinéfilo para cinéfilos. O velho Taranta faz mais uma bela homenagem ao cinema de gênero, no caso aos faroestes. Claro que é uma ode ao western que não se furta a misturar no mesmo caldeirão referências a outras tantas ramificações do cinema popular, principalmente às produções de blackspoitation dos anos 70. E mesmo o libelo tarantinesco ao faroeste é dividido entre reverenciar o bangue-bangue americano clássico (as planícies infinitas, as tomadas grandiosas filmadas à contraluz) e os spaghetti westerns italianos (a violência exagerada e cartunesca, os zooms abruptos de câmera e mesmo a participação afetuosa do ídolo Franco Nero, que imortalizou outro personagem chamado Django em diversas  produções). Aos fãs de Tarantino, a boa notícia é que ele continua o mesmo de sempre. Aos detratores, a má notícia também é esta. Estão ali os personagens estilosos, as participações especiais e inusitadas (Don Johnson, Jonah Hill, Zoe Bell, Tom Savini), o texto extenso e o uso da violência não como choque, mas como alívio cômico e redentor. E por mais que Jamie Foxx esteja cool como o personagem-título, são mais uma vez os coadjuvantes que roubam o filme para si. No caso, uma trinca irrepreensível: Christoph Waltz, que reprisa uma espécie de Hans Lada de Bastardos Inglórios, desta vez do lado dos mocinhos; Leonardo DiCaprio, como um vilão afetado e repugnante; e um incrível Samuel L. Jackson, pela primeira vez interpretando um personagem que não seja uma mera imitação dele mesmo desde muito, mas muito tempo. E os diálogos travados entre Waltz e DiCaprio poderiam durar dias inteiros sem nunca cansar o espectador. Coisa lapidada a ouro. A maior diversão de 2013 até aqui. "D-J-A-N-G-O, o D é mudo", diz o protagonista lá pelas tantas. Tarantino, para nossa sorte, não é. Nota 9

* 19 - Os Miseráveis (Les Misérables, 2012): Tom Hooper é um diretor sem muita habilidade com a câmera e menos ainda noção de estética narrativa. Abusa de enquadramentos toscos, câmera inclinada e contrastes entre foco e desfoco que em nada contribuem para a condução de seus filmes. Pelo contrário, apenas atrapalham a fruição de suas narrativas. Dito isso, é uma pena que o sujeito tenha sido escolhido para levar às telas a adaptação do musical da Broadway inspirado na obra homônima de Victor Hugo. Hooper é o elo notavelmente frágil entre todos os componentes que formam o espetáculo que é Os Miseráveis. Verdade seja dita, o sujeito acerta mesmo somente na cena inicial, de uma grandiosidade ímpar, e nos impactantes solos musicais, filmados todos através de closes muito bem empregados. Mesmo contando com uma produção caprichadíssima, Os Miseráveis não alçaria vôo se não fosse o setlist de músicas certeiras e o elenco em estado de graça. Se as canções do musical da Broadway aparecem aqui muito bem interpretadas pelo elenco (e captadas diretamente do set, o que é um diferencial interessantíssimo), é porque as letras e melodias são entoadas de maneira visceral pelos atores. Se por um lado Russell Crowe sabe driblar as próprias limitações vocais, Hugh Jackman, Anne Hathaway e Samantha Barks (egressa de musicais no teatro, inclusive a montagem inglesa de Les Misérables) parecem estar em seu habitat natural. Jackman, principalmente, consegue aqui entregar uma composição precisa do complexo Jean Valjean, permitindo-se uma transformação inclusive física que até o momento é o ponto alto de sua carreira. Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, por sua vez, aproveitam cada segundo como o simpático casal de pilantras que serve como alívio cômico do musical. Mas é Hatthaway que consegue um feito e tanto para a produção: a sua interpretação de I Dreamed A Dream é uma das cenas mais poderosas da história dos musicais. Para guardar para sempre na memória. Nota 8

20 - Amor (Amour, 2012): Michael Haneke faz aqui um registro seco, impiedoso e extremamente doloroso do declínio físico na velhice, mas também um emocionado libelo à eternidade do amor. A opção do diretor em retirar de cada fotograma o mínimo de artifícios cinematográficos que pudessem tornar o roteiro menos difícil para um público mais amplo já é motivo de aplauso (não há trilha sonora para emocionar a platéia, os planos são herméticos, as cenas nunca duram um segundo a mais para amplificar a emoção dos personagens e criar qualquer empatia ou sensação de redenção com o lado de cá da tela). Como se não bastasse a corretíssima sobriedade da arquitetura cênica, Haneke ainda conta com dois veteranos em estado de graça: Jean-Louis Trintignant (A Fraternidade É Vermelha) e Emmanuelle Riva (Hiroshima Meu Amor) dão um show que confere à produção a sensação de se estar comparecendo à uma festa de gala. Especialmente Riva, que dá à sua trágica personagem uma demonstração de entrega e despudor surpreendentes para uma atriz octogenária. Espetacular. De aplaudir em pé. Nota 9

21 - Thale (Thale, 2012): exibido no Fantaspoa 2012, é um terror norueguês original em sua proposta de explorar os mitos nórdicos ao invés de seguir o caminho mais fácil da exploração de um gênero já consagrado. Há muito clima e boas opções estéticas na produção, mas o roteiro não chega a quase lugar algum em seus enxutos (demais) 80 minutos de duração. E cada vez que o filme tem de usar efeitos digitais para dar vida às maldosas criaturas míticas que servem de base à estória (e que, justiça seja feita, possuem um design original e assustador), é um Deus nos acuda que parece feito por algum estagiário de agência de publicidade iniciante. Porém, no final das contas, é uma experiência até que bem interessante. Nota 7

22 - Mamonas Para Sempre (2009): nunca fui fã dos Mamonas Assassinas, mas vejo grande potencial na história meteórica da banda, que em inacreditável trajetória de apenas um ano cavou lugar no imaginário do público e na história da música pop brasileira, até o trágico acidente que vitimou tristemente o grupo inteiro. O filme de Cláudio Kahns apresenta bons registros de shows e entrevistas interessantes com parentes e antigos produtores (entremeadas por bizarras vinhetas animadas que tentam soar engraçadinhas, mas só resultam incômodas), mas não vai além de um fanzine visual. Falta ao projeto um pouco da anarquia e irreverência que servia de carro-chefe do grupo. Assim como está, é um documento interessante, mas unilateral demais para ser considerado definitivo. Nota 6,5

* 23 - O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012): escorado em um elenco simpático e afinado, em um diretor confiável (David O. Russell, de Três Reis, Huckabees e O Vencedor) e uma trilha sonora irresistível, é uma das comédias românticas mais espertas surgidas nos últimos anos. É o legítimo produto comercial produzido por Hollywood em seu estado máximo de lubrificação: satisfação garantida ou seu dinheiro de volta. Agora, isso faz da produção digna das indicações ao Oscar que acabou levando? Dificilmente. O roteiro, apesar de agradável e com tiradas engraçadas que não agridem tanto a inteligência do público, nunca afasta-se da segurança da cartilha básica das comédias românticas, com todos os clichês inerentes ao gênero, dos coadjuvantes engraçadinhos ao briga-reconcilia do par central até o clímax em que todas as pontas são costuradas num passe de mágica (no caso do filme, durante a final de um campeonato de dança). E se os protagonistas são bonitões e carismáticos (e possuem uma química encantadora em cena), não quer dizer que merecessem disputar a estatueta dourada. Colocar o simpático galã Bradley Cooper para disputar contra as performances viscerais de Joachim Phoenix em O Mestre e Daniel Day Lewis em Lincoln é de uma desigualdade de dar pena. Mais ainda é colocar no ringue a gracinha Jennifer Lawrence contra a irretocável Emmanuelle Riva de Amor. Lawrence é a favorita do Oscar. O Oscar, por extensão, cada vez vai tendo menos credibilidade fora da indústria. Nota 8

* 24 - O Voo (Flight, 2012): o retorno de Robert Zemeckis (De Volta Para O Futuro, Uma Cilada Para Roger Rabbit, Contato) ao cinema live-action depois de 12 intermináveis anos experimentando a animação digital (A Lenda de Beowulf, O Expresso Polar, Os Fantasmas de Scrooge) é uma bem-vinda produção que usa o desastre do Alaska Airlines 261 (que não deixou sobreviventes, ao contrário do mostrado no filme) para fazer um interessante estudo de personagem. No caso, do anti-herói interpretado por Denzel Washington, indicado ao Oscar 2013, em mais uma atuação potente para a sua galeria de personagens icônicos dentro da cinematografia hollywoodiana. E é incrível como Denzel usa os mesmos maneirismos de sempre para criar personagens totalmente diferentes entre si. É ele, na pele de um piloto drogado e alcoólatra, que eleva o filme de mera produção comercial à obra relevante dentre os lançamentos recentes. Os coadjuvantes também ajudam, de Kelly Reilly (Sherlock Holmes, Sra. Henderson Apresenta), gracinha como sempre, e James Badge Dale (do seriado 24 Horas), que tem aqui a melhor chance de sua carreira em uma inesquecível cena passada na escadaria de um hospital, até o veterano John Goodman, que rouba as duas cenas em que aparece como o traficante de confiança do protagonista. Conta com uma trilha sonora certeira, que aposta em músicas que já viraram patrimônio musical, como Gimme Shelter e Sympathy For The Devil, dos Stones, Feelin´ Alright, de Joe Cocker, Under The Bridge, dos Red Hot Chilli Peppers e Ain´t No Sunshine, de Bill Withers. Eventualmente tropeçando na pieguice nas últimas cenas, O Voo é, ainda assim, um belo retorno de Zemeckis à direção de atores de carne e osso (e a cena do desastre de avião, assim como em Náufrago, do mesmo diretor, é sensacional). Nota 7,5

* 25 - Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies, 2013): a primeira surpresa do ano até aqui. O estúpido título nacional esconde uma bela homenagem/sátira aos cânones dos filmes de zumbi, prestando reverência direta a George Romero e Lucio Fulcci. Os fluxos de consciência de R (Nicholas Hoult, o garotinho de Um Grande Garoto, sensacional!!!!!!!), o zumbi protagonista, são impagáveis. E mesmo o seu interesse romântico, Theresa Palmer (Eu Sou O Número Quatro), espécie de clone loiro de Kristen Stewart, está divertida. Sem falar em Rob Corddry, eterno chapa de protagonistas de comédias (Jogo de Amor Em Las Vegas, A Ressaca, Procura-se Um Amigo Para O Fim do Mundo), que está sensacional como o amigo zumbi do personagem principal. Dirigido pelo promissor Jonathan Levine, de 50% (50/50) e Tudo Por Ela (All The Boys Love Mandy Lane), é uma tiração de sarro com os clichês batidos de filmes de mortos-vivos. Pena que, quando resolve de tempos em tempos abandonar o humor escrachado, preferindo fazer uma sátira "séria" de Romeu e Julieta, quase coloque tudo a perder. Mas enquanto o humor toma conta da tela, funciona como um relógio suíço e faz lembrar o ótimo Zumbilândia. E a trilha sonora recheada de sucessos dos anos 80 é infalível. Uma ótima surpresa. Diversão mais do que garantida. Nota 7,5 

26 - A Aventura de Kon Tiki (Kon-Tiki, 2012): o representante da Noruega ao Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro é uma aventurona que resgata o espírito dos grandes épicos em alto-mar. Com uma produção esmerada, é um espetáculo para os olhos (e os nervos), principalmente pela inacreditável direção de fotografia, que por si só já merecia uma indicação à estatueta dourada para chamar de sua. Nota 8

27 - Menos Que Nada (2012): Carlos Gerbase erra a mão nessa sucessão inacreditável de situações inverossímeis e cenas sabotadas por uma teatralidade que beira o clima de teatro infantil. Contribuem para o resultado pavoroso o elenco mal-dirigido e o roteiro que descamba para um psicologismo de botequim difícil de suportar. Nota 2

28 - Habana Blues (Habana Blues, 2005): rara produção cubana que escancara a problemática social da ilha sem cair no panfletarismo político. Apesar dos clichês inerentes à trama de ascensão de grupo musical, é uma produção despojada, valorizada por uma edição à primeira vista gaiata, mas que tem tudo a ver com o tema central do filme. Nota 7

29 - Tudo Azul (Kabluey, 2007): tem um humor tão bizarro (cortesia de seu diretor-protagonista, Scott Prendergast, criador do seriado da MTV Celebrity Deathmatch) que fica difícil a conexão com seus personagens, mas ao mesmo tempo é uma produção que não tem medo de ser diferente, o que já vale uma chance ao projeto. E as piadas, quando funcionam, funcionam bem. Nota 7

30 - Um Caminho de Luz (Camino, 2008): um dos filmes mais emocionalmente devastadores que assisti nos últimos anos. Por trás da história da encantadora menininha que padece de uma espécie rara (e letal) de câncer está uma crítica sutil, mas feroz, ao fanatismo religioso, aqui representado pela Opus Dei da Igreja Católica. Alternando momentos de uma crueza desconcertante com o encanto e a leveza de cenas que representam a fantástica imaginação da protagonista (e lembram aqueles delírios do ótimo O Labirinto do Fauno), é ainda assim um filme de difícil digestão. O que o filme consegue separar de forma louvável é a fé e a religião, dois conceitos completamente distintos e tão confundidos entre si. Poucas vezes terminei de assistir a um filme com tanta indignação, tamanha a pungência do verdadeiro petardo que o diretor Javier Fesser aplica contra um dos maiores males do mundo contemporâneo: a irracionalidade religiosa. Baita filme. Nota 8,5 

31 - Procurando Elly (Darbareye Elly, 2009): antes de conquistar Hollywood com A Separação, um dos melhores filmes do ano passado e ganhador do Oscar 2012 de Filme Estrangeiro (foi indicado também à estatueta de Melhor Roteiro Original), o iraniano Asghar Farhadi já havia caído nas graças dos cinéfilos com essa pequena grande pérola aqui. Procurando Elly já enfrenta alguns temas que seriam retomados no trabalho posterior do diretor, principalmente ao fugir completamente do estereótipo do cinema iraniano focado em tramas intimistas focadas em crianças e na parcela pobre da população. O interesse de Farhadi é outro. É sobre a nova classe média iraniana que o diretor prefere apontar a sua câmera. E é justamente retratando essa fatia ocidentalizada da população do Irã, com acesso às modernidades tecnológicas e com hábitos muito parecidos com os nossos, que Farhadi consegue a proeza de escancarar a herança arcaica arraigada em seu povo. Quando um incidente inesperado ameaça pôr em risco a calmaria de seus personagens gente-como-a-gente, são as individualidades e seu instinto de sobrevivência que revelam como a sociedade iraniana mudou sem ter mudado nada. Nota 8

32 - Silent Night (Silent Night, 2012): refilmagem do clássico slasher dos anos 80 Noite Silenciosa, Noite Mortal, também conhecido como Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night, de 1984). Como a maioria dos remakes, nada acrescenta ao filme original e ainda piora os elementos que lhe deram fama. As mortes não são inspiradas e o roteiro é pavoroso, daqueles que não fazem o menor sentido. A gracinha Jaime King (Sin City) até parece esforçada como a mocinha da vez, já Malcolm McDowell desistiu de tentar atuar há no mínimo umas 3 décadas. O problema é que é tudo levado nas coxas, como em outro remake recente de slasher da década de 80, O Padrasto. Prefiro mil vezes rever o original. Em toda a sua glória trash em um VHS bem vagabundo. Nota 3

33 - Possessão (The Possession, 2012): os caras se dão ao trabalho de ir atrás de um artigo jornalístico para buscar um antagonista com cara de novidade (o Dibukk, saído do folclore judaico), o que é legal. Mas daí, pegam a premissa original e fazem um arremedo de O Exorcista com Poltergeist que depende vergonhosamente dos mais pavorosos clichês do gênero terror. E de nada adianta ter um protagonista esforçado como Jeffrey Dean Morgan (Watchmen - O Filme) quando lá pelas tantas um demônio é descoberto através de uma ultrassonografia (sim, é sério). Nota 5

*  34 - A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012): segue a mesma pegada de Guerra Ao Terror, provando que Kathryn Bigelow é, com folga, a mulher mais badass em atividade em Hollywood. Mesmo com uma duração excessiva (o que é compreensível, já que enfoca quase uma década de acontecimentos), é uma produção que faz de seu registro cru um trunfo que o destaca da maioria das produções atuais. Quando o roteiro chega a seu desfecho já conhecido, a sensação não é de alívio, mas de amargor, mérito de um roteiro que em nenhum momento toma algum partido, mas limita-se a registrar os fatos com a máxima autonomia narrativa. "I´m the motherfucker that found this place, sir" é a frase do ano até aqui. E diz muito. Não só sobre o filme, mas sobre o nosso mundo. Nota 8

35 - Kill List (Kill List, 2011): começa como um thriller policial lento e com pitadas esporádicas de humor britânico, mas a reviravolta aos 45 do segundo tempo dá à produção um rumo completamente inesperado e assustador. O final deixa bem mais perguntas do que respostas, o que faz desse ótimo filme inglês um produto para poucos paladares. Contribui para isso a carga de violência extrema que explode na tela de tanto em tanto tempo. Nota 7

* 36 - Lincoln (Lincoln, 2012): se, em Cavalo de Guerra, Spielberg encontrou espaço em uma narrativa juvenil para fazer uma bela homenagem ao melodrama hollywoodiano clássico, principalmente a John Ford e William Wyler, colocando a sua marca pessoal em cada cena do longa, aqui o cineasta dá dois passos para trás e deixa o texto do dramaturgo (ganhador do Pulitzer por sua peça Angels In America) e roteirista (Munique), Tony Kushner, falar por si só. E que texto para quem gosta do assunto, no caso os bastidores para a aprovação da 13ª Emenda à Constituição dos EUA, que aboliria a escravatura, com todas as manobras políticas e discussões jurídicas que permeiam as decisões legislativas de maior relevo (e com todas as compras de voto e maracutaias a que se tem direito, o que contribui para humanizar o ícone histórico do presidente americano mais idolatrado na terra do Tio Sam). É, diga-se, um filme chato. Muito chato. Conta com um ritmo claudicante, com ausência total de cenas de ação, privilegiando um enfoque que mais parece teatro filmado, o que faz sentido quando se sabe que é um teatrólogo por trás do roteiro. Lincoln é um filme de Spielberg que quase não parece ter sido dirigido por ele. Sóbrio e didático, é uma produção low profile até a medula. Mesmo os seus colaboradores habituais, Michael Kahn (edição), Janusz Kaminski (fotografia) e John Williams (trilha sonora), todos indicados ao Oscar, estão aqui surpreendentemente contidos. Essa aridez narrativa justifica um certo ranço com que vem sendo recebido fora dos EUA. Entretanto, apesar da história dizer respeito diretamente ao povo ianque, o assunto é universal. O texto de Kushner é uma aula magna de Direito, História e Política, talvez uma das mais longas e profundas discussões jurídicas que o cinema já encenou. Para quem não é do meio nem se interessa pelo assunto mais do que ler as manchetes dos jornais, é um porre. Para um advogado como eu, em dados momentos chega a ser eletrizante. E não há dúvida alguma de que a decisão de Spielberg em não colocar a sua mão em cada fotograma do projeto se justifica ao dar espaço para o seu incrível elenco brilhar: da chatinha Sally Field ao sisudo Tommy Lee Jones, passando por um divertido James Spader, todos estão ótimos. Mas o filme é definitivamente de Daniel Day-Lewis. Quem conhece o ator não o reconhece no filme, tamanha é a imersão completa que faz o astro sumir dentro do personagem, da cadência vocal aos movimentos lentos, mas decididos, da sutil envergadura corporal ao jeito de andar, a impressão é que estamos assistindo ao verdadeiro Lincoln discursar e contar causos. Impressionante. Uma atuação que só encontra parâmetro na de Joachim Phoenix em O Mestre e mesmo assim consegue superá-la. Não é nem de longe o melhor filme de Spielberg, muito menos o melhor dentre os indicados a Melhor Filme no Oscar, mas é uma produção muito sólida. Nota 8 

* 37 - Indomável Sonhadora (Beasts Of The Southern Wild, 2012): um bom diretor também é aquele que consegue extrair de seu elenco performances surpreendentes. Partindo desse princípio, Benh Zeitlin, em sua estréia em longas-metragens, já pode ser considerado um GRANDE diretor ao conseguir que um elenco de atores não-profissionais entregue atuações tão sinceras e comoventes, a começar por essa adorável atriz que é a pequena Quvenzhané Wallis, um verdadeiro achado. Dos filmes indicados ao Oscar, é disparado o que mais fala aos sentimentos. É literalmente quase impossível conter as muitas lágrimas que essa jornada de esperança em meio ao caos repetidamente insiste em trazer aos olhos. A direção de arte e a trilha sonora são um primor e foram completamente esnobados pela Academia, que não lhes garantiu sequer uma indicação. Uma pena. Indomável Sonhadora é daqueles filmes que dificilmente sairão da memória. Foram os noventa e poucos minutos mais prazerosos que passei dentro de uma sala de cinema em muito, muito tempo. Nota 9

38 - Atividade Paranormal 4 (Paranormal Activity 4, 2012): 88 minutos para se sentir na pele de um controlador de tráfego, só que com menos emoção. O saldo são 3 sustos e 85 motivos para a franquia ter morrido há muitos anos. Tão eletrizante quanto olhar para um aquário durante uma hora e meia. Sem cavalos-marinhos na água, obviamente. Nota 4

* 39 -  Hitchcock (Hitchcock, 2012):  a maquiagem que transforma Anthony Hopkins em Alfred Hitchcock (indicada ao Oscar da categoria nesse ano) não é nem de longe bizarra como pintou a crítica americana. Na verdade, cai como uma luva na interpretação cuidadosamente estereotipada de Hopkins para o Mestre do Suspense, o que encontra eco no tom divertido empregado pelo diretor Sasha Gervasi à narrativa, que em grande parte busca mimetizar o clima do seriado televisivo Alfred Hitchcock Presents. Tem alguns problemas de queda de ritmo lá pela metade, mas no geral é um presente para qualquer cinéfilo, afinal não é todo dia que se vê uma produção que tenha como foco justamente a criação de um clássico da Sétima Arte. A atuação de Helen Mirren merecia facilmente uma indicação ao Oscar, assim como o roteiro do próprio diretor, repleto de diálogos ácidos e humor tipicamente inglês. Ou seria tipicamente hitchcockiano? Eis a questão. Nota 7,5

* 40 - Colegas (2012): ganha pontos por tratar de personagens com Síndrome de Down, personificados por atores Down, sem qualquer auto-comiseração ou pieguice. O humor, aliás, é politicamente incorreto e recheado de referências ao cinema, do começo ao fim. Paradoxalmente, a encenação das gags é um tanto ingênua, lembrando o humor inocente dos primeiros filmes d`Os Trapalhões. Outra dicotomia evidente é reservada à ambientação, claramente inspirada nos anos 70, com os televisores de tubo, os carros antigos e até com um Raul Seixas vivinho da Silva, ao passo que os personagens utilizam celulares e reverenciam filmes recentes, como Pulp Fiction e Forrest Gump. Mesmo assim, a trinca de protagonistas é tão carismática que fica muito difícil não simpatizar com o filme. Nota 7

41 - Resident Evil 5 - Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012): uma franquia totalmente equivocada que chega inexplicavelmente ao quinto filme sem evoluir ao menos um pouquinho. Pelo contrário: o roteiro e a execução aqui são tão medíocres que fazem a já pavorosa parte 4 parecer um filmão. Um desperdício de grana e tempo. E os efeitos, se é que funcionaram na versão 3D para o cinema, ao menos em 2D parecem obra de algum estagiário de TI. Fujam como se mortos-vivos estivessem no encalço de vocês. Nota 2 

42 - Marcados Para Morrer (End Of Watch, 2012): talvez um dos melhores policiais dos últimos tempos, tem na estética da câmera na mão um trunfo para tornar a trama um tanto padronizada em algo superior, escudado pelos ótimos desempenhos da dupla central (Jake Gyllenhaal e Michael Peña). Pena que o roteiro não tenha tanta ginga para desviar dos clichês do gênero quanto os seus protagonistam têm para desviar das balas. Mesmo assim, um ótimo trabalho. Nota 7,5

43 - Lentes do Mal (Dread, 2009): baseado em conto do mestre do horror Clive Barker, é uma produção que demora demais para engrenar. Na verdade, a primeira hora é marcada por um desenvolvimento lento demais, fato ainda mais acentuado pelo elenco pavoroso. Na meia hora final, o longa encontra finalmente um ritmo próprio e a história realmente encontra um rumo, com um desfecho inesperado e perturbador. Daria um bom curta. Nota 5

44 - A Sombra do Inimigo (Alex Cross, 2012): um filme que tem tudo para virar cult nos próximos anos, tamanha a sua inegável ruindade. Terceira adaptação dos livros do detetive Alex Cross, criado pelo escritor James Patterson e já personificado nas telas com gravidade e correção por Morgan Freeman nos bons Beijos Que Matam (Kiss The Girl, 1997) e Na Teia da Aranha (Along Came a Spider, 2001), essa espécie de prequel erra em todos os alvos que mira. A começar, por substituir o ótimo Freeman pelo pavoroso Tyler Perry, egresso de comédias pastelão dirigidas por ele próprio, em que personifica uma idosa de nome Madea. Perry causa vergonha alheia em absolutamente todas as cenas em que aparece. Não há sequer vestígios do personagem sherlockiano vivido por Freeman nos filmes anteriores. Aqui, Alex Cross não é mais do que um personagem de novela mexicana, vomitando pareceres psicológicos que não fazem o menor sentido. Os diálogos mereceriam um capítulo a parte, de tanto que o texto é medonho. Comédia involuntária elevada a enésima potência, o filme encaixa perfeitamente na interpretação totalmente over de Matthew Fox (o eterno dr. Jack Shepard, do seriado Lost), que inclusive se transformou fisicamente para o papel e paga um mico inesquecível como o psicopata que faz as vezes de vilão. Dá pena dos coadjuvantes Edward Burns e Jean Reno, que parecem embaraçados a cada aparição, provavelmente cientes da barca furada em que se meteram. Por outro lado, não era de se esperar coisa boa do sempre ruim Rob Cohen, diretor que acumula projetos execráveis (Stealth - Ameaça Invisível, A Múmia: Tumba do Imperador Dragão e Triplo X). Tão ruim, mas tão ruim, que vale umas boas risadas. Nota 1 pela cara-de-pau.

45 - O Dobro Ou Nada (Lay The Favorite, 2012): é inaceitável que um diretor do calibre de Stephen Frears (Ligações Perigosas, A Rainha) se sujeite a encarar uma comédia tão insossa e sem graça quanto essa aqui. A total ausência de foco do roteiro é espelhada por um elenco de astros (Rebecca Hall, Bruce Willis, Catherine Zeta-Jones, Vince Vaughn) totalmente perdido em cena. Nota 3

46 - The Loved Ones (The Loved Ones, 2009): misto de thriller e terror vindo da Austrália, é um exercício esperto de gênero, cheio de reviravoltas interessantes e violência extrema que vai muito além do simples torture porn, a praga atual do gênero. O diretor Sean Byrne possui uma mão muito boa para a tensão. E, contrariando todas as produções americanas dos últimos tempos, mais preocupadas em estabelecer uma franquia do que em contar uma história interessante, é um caso raro de boa trama que encadeia todas as suas idéias ao final e não deixa pontas soltas para uma eventual continuação. Ótimo. Nota 8 

47 - Minha Irmã (L´enfant d´en haut, 2012): produção suíça que levou o Urso de Prata especial no último Festival de Berlim, é um conto original sobre a orfandade. E ganha muito em impacto com a virada que o roteiro reserva já quase em seu desfecho. Nota 8

48 - Fuga Alucinada (Dirty Mary Crazy Larry, 1974): um dos filmes favoritos de Tarantino, é um legítimo filme B dos anos 70, com todos os maneirismos em voga na época (a bandeira da contracultura, os personagens outsiders, o discurso meio hippie e até o indefectível Peter Fonda, espécie de porta-voz do gênero). Não há muita história no roteiro, muito menos desenvolvimento de personagens. Mas, cara, como era legal a época em que se destruía carros no cinema de verdade, com dublês arriscando o pescoço e sem precisar apertar sequer uma tecla de computador. Nota 7

49 - The ABCs Of Death (The ABCs Of Death, 2012): Antologia em que 26 diretores foram convidados a contar uma história sobre a morte tendo como mote uma das letras do alfabeto e uma palavra de sua escolha. Diante de tanta liberdade, já era esperado que o resultado contasse com altos e baixos. Apesar de alguns curtas horrorosos, outros revelam-se muito divertidos. O saldo final é interessante. Nota 6,5


50 - O Segredo da Cabana (The Cabin In The Woods, 2012): o começo prenuncia um slasher dos mais furrecas, mas é quando o jogo de metalinguagem e as brincadeiras com os clichês do gênero começam a saltar na tela que fica evidente o que o diretor Drew Goddard (responsável pelo script de Cloverfield) e o co-roteirista Joss Whedon (diretor de Os Vingadores) tinham em mente quando abraçaram essa desconstrução das regras dos filmes de horror. Divertido e muito criativo. Nota 8

* 51 - Anna Karenina (Anna Karenina, 2012): a princípio, vem a pergunta óbvia. Por que uma nova adaptação da peça de Tolstoy após 26 outras, entre projetos para o cinema e TV? Ainda mais se considerarmos que a última versão cinematográfica é a boa (e recente) produção de 1997, com Sophie Marceau e Sean Bean. A resposta salta imediatamente aos olhos já nas primeiras cenas desse novo trabalho de Joe Wright (Orgulho E Preconceito, Desejo E Reparação, O Solista, Hannah). O diretor inglês busca uma mise en scéne original, mesclando recursos cênicos trazidos do teatro para enfatizar a artificialidade das relações sociais na Corte russa de século XIX. Todo o filme é ambientado dentro de um teatro, com exceção dos encontros amorosos entre Anna e o Conde Vronski e os interlúdios campesinos do personagem Levin, o único que age com naturalidade e personalidade dentre todos os demais, aprisionados por convenções sociais e políticas que os tornam não mais do que sombras dos indivíduos que poderiam ser. É esse vigor formal que move toda a trama e a eleva de mera repetição a algo novo (e é um crime a direção de arte ter sido preterida no último Oscar por Lincoln). Keira Knightley e Jude Law estão muito a vontade como o casal central, mas Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass) é muito juvenil para personificar a virilidade do predador Conde Vronsky e justificar o triângulo amoroso que move a trama. Sorte que o roteiro do dramaturgo Tom Stoppard (Império do Sol, Brazil - O Filme, Shakespeare Apaixonado) é hábil ao encontrar no texto de Tolstoy a essencial subtrama envolvendo o personagem Levin, que contrapõe as robóticas relações sociais da Corte com o naturalismo da convivência no interior e os ideais que serviriam de embrião para a Revolução Russa algum tempo depois (parte fundamental do livro que foi renegada a segundo plano ou simplesmente esquecida na maioria das adaptações anteriores). Joe Wright se firma aqui como o diretor contemporâneo que melhor sabe imprimir uma visão moderna a obras clássicas da literatura. Um belo (e surpreendentemente relevante) trabalho. Nota 8 

52 - The King Of Kong: A Fistful Of Quarters (The King Of Kong: A Fistful Of Quarters, 2007): divertido documentário que registra uma disputa improvável entre dois nerds pelo recorde mundial de pontuação em Donkey Kong, aquele game jurássico que provocou tendinite em toda a minha geração. Ao contrário de simplesmente ridicularizar os personagens principais, o diretor Seth Gordon (do regular Quero Matar Meu Chefe) consegue humanizá-los, o que de cara já distancia o filme do simples prazer da "vergonha alheia". Vale a pena. Nota 7,5

* 53 - Jack: O Caçador de Gigantes (Jack: The Giant Slayer, 2013, em 3D): apesar do roteiro meio furreca, que insiste em diálogos expositivos que limitam-se a dublar o que as imagens já relataram de forma muito superior, é um bom retorno ao cinema clássico de produções que fizeram a festa da minha geração nas reprises da Sessão da Tarde (o Fúria de Titãs original, As 7 Faces do Dr. Lao e A História Sem Fim). É essa disposição em não seguir a nova cartilha de Hollywood que determina que toda e qualquer produção deve ter diálogos sarcásticos e piadinhas irônicas para torná-la palatável ao público moderno que mostra a mão de seu diretor (Bryan Singer, de Os Suspeitos, X-Men 1 e 2 e Superman - O Retorno) atrás do projeto. Pena que a proverbial orgia de efeitos especiais em computação gráfica (espécie de exigência pétrea dos estúdios americanos a todo e qualquer blockbuster) muitas vezes trunque a experiência, minimizando em muito o seu impacto (melhor seria fazer como Sam Raimi em Evil Dead 3 e partir para a animação em stop-motion de uma vez). Menos mal que os efeitos 3D funcionam bem, principalmente ao registrarem a desproporcionalidade entre os humanos e os gigantes e dando aos cenários uma profundidade de campo que não teriam em 2D, pois são quase todos produzidos em computação gráfica. Uma boa diversão à moda antiga. Pouco para um filme de Singer, muito para uma produção rotineira projetada nos escritórios dos estúdios americanos. Nota 7

54 - A Fuga (Deadfall, 2012): decepcionante estréia nos EUA do cineasta Stefan Ruzowitzky (ganhador do Oscar de Filme Estrangeiro com o ótimo Os Falsários). Começa bem, mas o roteiro vai lentamente degringolando até chegar ao clímax, um jantar de Ação de Graças tão improvável que parece saído de alguma novela da Globo. As cenas de ação são razoáveis, Eric Bana está esforçado como o vilão e Olivia Wilde (Tron: O Legado, Cowboys & Aliens) aparece seminua, o que vai agradar ao macharedo. No mais, é meia-boca até dizer chega. Nota 5

* 55 - O Último Elvis (El Último Elvis, 2012): prolongando a boa fase do cinema hermano, é mais um filme argentino com potencial para cair nas graças do público gaúcho. Muito pela irretocável performance de seu protagonista (John McInerny, ele próprio um cover de Elvis no grupo Viva Elvis) e pelo bom roteiro do diretor Armando Bo (um dos roteiristas de Biutiful, do Iñarritu). A performance de McInerny é amplificada pelos incríveis atributos vocais do ator, que emula à perfeição o timbre do Rei do Rock. Já a direção de Armando Bo encanta pelos planos-sequência magistralmente executados. Por vezes terno, outras vezes tragicômico, o roteiro guarda para o terceiro ato um final avassalador, uma porrada que vai ficar por muito tempo na retina. Nota 8,5

56 - Woody Allen: Um Documentário (Woody Allen: A Documentary, 2012): apesar de não manter o mesmo escopo do início, quando aprofunda a personalidade de Woody na infância e juventude, a o fim, em que limita-se a focar os bastidores dos filmes de sua fase européia, funciona como o maior (e melhor) making of que se poderia fazer sobre a carreira e filmografia de um dos grandes cineastas de todos os tempos. A versão estendida, com três horas, abrange praticamente todos os filmes dirigidos por Woody, com entrevistas memoráveis com familiares, colaboradores, atores e com o próprio. Imperdível para fãs e imprescindível para quem ainda não se tornou um. Nota 8 

57 - A Última Casa da Rua (House At The End Of The Street, 2012): suspense tão medonho que consegue a façanha de tornar difícil saber qual o seu pior defeito. O roteiro merecia ter sido escrito em papel higiênico, pois teria melhor aproveitamento em eventual reciclagem. A direção é de uma inaptidão assustadora, com enquadramentos bizarros e soluções visuais sem qualquer fundamento. Aparentemente, o estagiário do estúdio rodou a produção às escondidas no calar da noite, completamente bêbado. E o elenco me fez torcer pela queda de um asteróide lá pela metade para abreviar o sofrimento. Te cuida, Jennifer Lawrence (que pelo menos está boazuda em cena). Se alguém da Academia bater os olhos nisso aqui, te confiscam o Oscar na hora. Nota 2  

* 58 - Mama (Mama, 2013): terror old school que é sabotado pelo roteiro lá no seu terceiro ato, com a adição de inverossimilhanças que não condizem com o seu início (e parte do elenco perambular pelo mato no meio da noite é uma das mais bobocas). Menos mal que o desfecho não seja tão escabroso, remetendo às produções do gênero da década de 80 e não às bobagens modernas, mais preocupadas em estabelecer uma franquia do que dar um desfecho às suas histórias. O melhor do filme é Jessica Chastain (sexy e ótima como de costume), um show à parte em um personagem tridimensial que, por isso mesmo, torna o seu papel imediatamente cativante. É uma das melhores protagonistas do gênero terror dos últimos anos. Já o novato Andrés Muschietti, em sua estréia na direção, não faz feio. Valoriza os sustos através de enquadramentos certeiros e cria uma assinatura visual bem interessante, seja nos planos estáticos muito bem arquitetados, seja nas sequências de sonho, em que consegue imprimir a um dos maiores clichês do gênero um olhar próprio. Nota 7  

59 - The Girl (The Girl, 2012): telefilme da HBO que aborda os acontecimentos imediatamente seguintes àqueles retratados no recente Hitchcock de Sasha Gervasi, mas com um tom diametralmente oposto ao do filme que passou nos cinemas. Aqui, a relação de Hitch e de Tippi Hedren, estrela de Os Pássaros e Marnie - Confissões de Uma Ladra, é retratada na forma de uma obssessão do cineasta que chega às raias da psicopatia. Realidade ou simples especulação, não importa: Toby Jones e Sienna Miller, nos papéis principais, estão ótimos. Funciona ainda mais se visto em conjunto com o Hitchcock dos cinemas. Os dois filmes, apesar do tom totalmente diverso (e talvez justamente por isso), formam uma visão complexa e intrigante sobre a personalidade de um dos maiores diretores de todos os tempos. Nota 7,5

* 60 - O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond The Pines, 2012): o diretor Derek Cianfrance (do ótimo Namorados Para Sempre) repete a parceria com o atual queridinho do público, Ryan Gosling, num filme-esfinge que merece ser assistido com o mínimo de informações sobre a sua história. É às cegas o melhor jeito de aproveitar toda a inventividade do roteiro, que joga com a inversão de expectativas da platéia e, ao final, consegue formar um relato complexo e pungente sobre a batida temática da causa e efeito. Gosling e Bradley Cooper estão excelentes, mas Dane DeHaan (Poder Sem Limites) não fica nada atrás. Nota 8

 61 - César Deve Morrer (Cesare Deve Morire, 2012): retorno dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani (Bom Dia, Babilônia) à direção depois de um hiato de 5 anos, é tanto um documentário encenado quanto uma nova versão para a peça Julio César, de Shakespeare. Os cineastas acompanham a montagem de Julio César por presos da penitenciária de segurança máxima de Rebibbia, na periferia de Roma. À medida em que os ensaios começam, a confusão entre o que é espontâneo e o que foi orientado pelos Taviani só aumenta. Longe de atrapalhar, essa obscuridade formal só enriquece o filme e o seu objetivo de escancarar como Shakespeare permanece ainda atual. Sem falar que é um dos mais originais relatos sobre a privação de liberdade e a natureza libertadora da arte. Nota 8,5

 62 - Curvas da Vida (Trouble With The Curve, 2012): é sempre legal assistir ao velho Clint atuar, mesmo que a idade avançada que fica a cada ano mais escancarada por sua fragilidade física represente uma óbvia limitação aos papéis que interpreta. Mas se há algo que Eastwood saiba fazer com uma perna nas costas é dar vida ao clichê do ancião durão e monossilábico, mas de bom coração. É só por ele que vale a pena dar uma chance a essa produção, que de resto é um amontoado de clichês que formam um roteirinho fraco cujas reviravoltas são telegrafadas nos primeiros 5 minutos de projeção. Nota 5,5

* 63 - Oblivion (Oblivion, 2013): tem alguns furos de roteiro que rivalizam com as crateras da Terra destruída que retrata. E Joseph Kosinski, apesar da boa mão para o visual (e que visual!), ainda não consegue injetar emoção nas cenas de ação, mesmo tropeço que cometera em sua estréia atrás das câmeras (Tron: O Legado). Apesar disso, é um filme com um argumento muito sólido, apesar de derivado de inúmeras outras produções, e que é desenvolvido de forma sóbria e competente. Uma ficção científica muito boa e que não agride a inteligência do público. Tom Cruise confirma pela enésima vez que é um dos superastros mais confiáveis em atividade em Hollywood. Nota 7,5

* 64 - A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013): contrariando todas as expectativas, é o caso raro de remake que não envergonha o original, no caso o clássico oitentista que revelou Sam Raimi. Aliás, com todas as mudanças tanto de tom (aqui, muito mais sério e sem a auto-paródia que permeava o primeiro e, principalmente, o segundo e terceiro Evil Dead) quanto de estrutura do roteiro (os personagens não são os mesmos, determinadas situações têm motivação totalmente diferente, alguns detalhes são acrescidos, outro suprimidos) está mais para um reboot do que uma refilmagem, algo explicitado pela divertida cena pós-créditos. O diretor Fede Alvarez (do curta Ataque de Pânico, em que põe abaixo Montevidéu) tem uma estréia em longa-metragem das mais promissoras. O banho de sangue que se vê na tela é exemplar raríssimo na Hollywood do século XXI e um presente e tanto para os fãs do gênero. E quem não é fã ou é sensível à violência que vá assistir à última comédia romântica da Jennifer Aniston e não perca o seu tempo e o apetite para o jantar. Aqui, o bicho pega. E pega prá valer. Filmão prá belzebu nenhum colocar defeito. Nota 8,5  

65 - A Tempestade (The Tempest, 2010): quando o texto é de Shakespeare, a parcela do público que se propõe a perder-se entre as rimas e métricas fascinantes de suas palavras já sabe de antemão que a recompensa em uma adaptação cinematográfica, por menor que seja, é certa. Já quem não tem paciência para a verborragia do bardo, tem garantida uma bela enxaqueca ao final do filme. Aqui, a diretora teatral Julie Taymor usa e abusa de artifícios estéticos para tentar dar uma cara mais moderna à peça homônima, inclusive trocando o sexo de seu protagonista (sai o feiticeiro Próspero, entra a feiticeira Próspera, uma sempre ótima Helen Mirren). Entretanto, a pirotecnia visual que tanto dera certo em seus trabalhos anteriores no cinema (Frida, Across The Universe) aqui soa apenas cafona. É um espetáculo kitsch com efeitos digitais capengas (reflexo do baixíssimo orçamento) e escolhas duvidosas, como a escalação de Russell Brand (Rock Of Ages, O Pior Trabalho do Mundo) e do vocalista Reeve Carney (da banda Carney), ambos patéticos e absolutamente deslocados em cena. Quem melhor tira proveito da oportunidade é Djimon Hounsou (Amistad), disparadamente a grande atuação do filme. O figurino de Sandy Powell é fantástico e ganhou uma merecida indicação ao Oscar. Mas é só. Nota 5

66 - Pânico Na Floresta 5 (Wrong Turn 5: Bloodlines, 2012): quem sofre eventualmente de insônia entende o prazer de assistir a filmes ruins para pegar no sono. Não há culpa alguma em dormir no meio de produções a que não se daria a mínima chance quando os sentidos estão a pleno vapor. Isso aqui cumpriu o objetivo durante 3 noites. Foi só na quarta tentativa que consegui chegar ao fim de um dos piores filmes que já assisti nos últimos anos. É tudo tão tosco, tão mal-realizado, que é difícil entender como alguém colocou dinheiro numa produção tão desprezível. Melhor seria ter gastado no bingo. Elenco de quinta categoria, (d)efeitos especiais feitos no quintal de casa e um roteiro sem eira nem beira, está tudo lá para tornar a produção um daqueles trash movies divertidos para se assistir madrugada adentro. O que estraga até mesmo esse prazer secreto é a direção absolutamente irritante, que insiste em imprimir um viés sádico a um slasher que só conseguiria divertir se partisse para a autoparódia. O resultado é uma desgraça tão grande que não surpreenderia se chamassem a Paris Hilton para protagonizar uma parte 6. Uma das maiores perdas de tempo que já experimentei na vida. Mas o sono vem que é uma beleza. Nota 0

67 - Caça Aos Gângsteres (Gangster Squad, 2013): o roteiro vergonhoso, cujas "homenagens" a clássicos filmes de gângsteres (em especial à obra-prima Os Intocáveis)o quase um caso de polícia, sabota as boas intenções do diretor Ruben Fleischer (de Zumbilândia), que só queria reviver o climão das produções dos anos 30 e 40, ao infestar a história de uma aparentemente infindável quantidade de clichês que telegrafam as cenas com uma hora de antecedência. Apesar de Josh Brolin (Homens de Preto 3) cair como uma luva para papéis de durão e de Ryan Gosling garantir a empatia do público feminino, Emma Stone não tem voltagem sexual suficiente para justificar o fascínio que sua personagem provoca em mocinho e bandido. E Sean Penn surpreendentemente entrega uma atuação preguiçosa e caricata como o grande vilão, que mais parece saído das tirinhas de Dick Tracy. Ao menos Fleischer consegue manter um ritmo acelerado que ajuda a disfarçar um pouquinho a falta de lógica da história, além de sair-se bem ao reconstruir a Los Angeles da década de 40 com a ajuda de efeitos digitais. E as cenas de ação são muito decentes. Uma diversão rápida e rasteira, nada mais. Nota 6,5

* 68 - Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013, em 3D): "em time que está ganhando, não se mexe" é o mantra que parece nortear os executivos responsáveis pela Marvel na empreitada de consolidar o maior número de super-heróis sob a sua administração na telona. Homem de Ferro 3 é o filme que, ao mesmo tempo, reafirma o ditado e o contraria. Por um lado, preserva a essência responsável por transfornar os dois primeiros filmes em êxitos comerciais incontestáveis (e, no caso do Homem de Ferro de 2008, também um dos mais elogiados filmes de super-herói pela crítica): a junção bem azeitada de humor e ação, que toma partido de um ás que poucas produções podem contar na manga, o protagonista Robert Downey Jr., que não apenas personifica Tony Stark à perfeição (um herói muito mais humanizado do que a maioria dos outros super seres gestados pela Marvel), mas que torna o personagem a extensão de sua própria persona pública (eu assistiria a uma hipotética continuação até mesmo se fosse nada mais do que um número de stand up do Stark de Downey Jr.). Essa aposta no que já dera certo nos primeiros filmes volta a funcionar aqui. Porém, a surpresa vem na forma de um novo diretor e roteirista, que assume o posto ocupado anteriormente por Jon Favreau (agora apenas produtor-executivo e ator coadjuvante) e dá à produção uma assinatura própria. Essa cara nova dada ao filme, para o bem ou para o mal, dependendo do grau de fanatismo pelos quadrinhos, é responsabilidade exclusiva de Shane Black (roteirista da cinessérie Máquina Mortífera e diretor do divertido Beijos e Tiros, também com Downey Jr.). Black amplifica os tons do filme, tornando muito mais acentuados os elementos condimentados na receita já testada anteriormente. Essa reverberação na condução da história torna muito mais acentuados os momentos de humor, ao passo que dá às cenas de ação uma carga dramática mais operística e exagerada. Essa pegada grandiloqüente nada mais é do que uma repetição do que Shane Black já experimentara em seus roteiros anteriores (é a mesmíssima química utilizada por ele em Máquina Mortíferia, O Último Boy Scout e O Último Grande Herói, por exemplo). Algo que agrada mais a quem admira filmes de ação das décadas de 80/90 do que aos fãs de quadrinhos. E isso está escancarado na proposta do filme, que apenas menciona de leve os acontecimentos de Os Vingadores, não introduz nenhum outro herói da Marvel (é uma aventura solo que depende quase exclusivamente do universo apresentado nos longas anteriores do Homem de Ferro) e aposta em piadas que satirizam elementos da cultura pop (as referências vão desde o clássico oitentista Uma História de Natal até o seriado Downton Abbey, do canastrão Scott Baio, do seriado Happy Days, até a papa-Oscar Meryl Streep) em detrimento de piscadelas nerd, o que deve decepcionar a ala mais xiita dos fanboys. De qualquer forma, mesmo que o arco dos quadrinhos que serviu de base ao roteiro não siga à risca o material original, o roteiro é hábil ao tornar o vilão da vez realmente um nêmesis à altura do protagonista, ao contrário do subaproveitado Mickey Rourke no longa anterior (o plano dos bandidos, porém, segue a cartilha dos malvados combatidos por 007: não tem pé nem cabeça). Por falar em vilão, Guy Pearce está correto, mas é sir Ben Kingsley, sem entregar qualquer spoiler, que está sensacional em cena e faz chover com o que reservam para a sua participação. Diversão superlativa é isso aí. Nota 8.5

69 - Millennium III - A Rainha do Castelo de Ar (Luftslottet som sprängdes, 2009): é mais um prólogo do segundo filme do que propriamente uma produção autônoma. De longe o mais lento dos três filmes, ainda assim é superior ao burocrático segundo filme. O que mais chama a atenção novamente é o fascinante personagem de Lisbeth Salander, defendido com garra por Noomi Rapace (Prometheus). Nada demais. Fico me perguntando sobre a qualidade literária desses livros do Stieg Larsson porque as adaptações cinematográficas (incluindo o Millennium do David Fincher) são no máximo thrillers medianos. Nota 6,5

70 -  Ela É Demais Para Mim (She´s Out Of My League, 2010): é aquela comediazinha furreca que só os americanos sabem fazer, mas pelo menos a  premissa do underdog (o vira-lata) enfrentando as convenções sociais é um argumento que remete às comédias adolescentes dos anos 80 (O Garoto do Futuro, Gatinhas e Gatões, Te Pego Lá Fora). O humor nem sempre convence, mas também não chega a incomodar. E Alice Eve (Sex And The City 2, MIB 3) é realmente demais, não só para mim, mas para filmes assim. Nota 6 

71 - John Morre No Final (John Dies At The End, 2012): um dos filmes mais histéricos dos últimos anos, é uma produção que não exita em misturar, às vezes em uma mesma cena, elementos como viagens no tempo, dimensões paralelas, zumbis, bigodes que saem voando, monstros feitos de carne congelada, um telefone feito de hotdog, filosofia e um cachorro que sabe dirigir automóveis!!! É um conjunto de estranhezas e maluquices tão grande que parece saído de um sonho de David Lynch, mas só se ele estivesse sob o efeito de algum alucinógeno. Para quem consegue entrar no clima, a história (tão complexa que é praticamente impossível de decifrar, o que inclusive parece ser a idéia do livro que lhe deu origem) é uma diversão das boas, com o climão de filme B evidenciado pelos efeitos caseiros e muitas vezes toscos. A participação de Paul Giamatti, que inclusive é produtor executivo, serve como alegoria da própria produção: não se sabe ao certo o que ele está fazendo ali, mas o certo é que está se divertindo bastante. Nota 7

* 72 - Somos Tão Jovens (2013): destinado a virar o sucesso nacional do ano entre os saudosistas, entrega quase tudo o que um órfão dos anos 80 gostaria de ver na tela sobre um dos artistas mais icônicos do rock nacional. Tem falhas, algumas graves, principalmente de condução. O veterano cineasta Antonio Carlos da Fontoura não tem nenhuma proximidade com a cena musical brasiliense do início da década de 80, o que fica evidente na teatralidade e artificialidade de algumas cenas (mesmo defeito, aliás, do pavoroso Gatão de Meia-Idade, que também dirigiu), principalmente aquelas envolvendo a relação de Renato Russo com seus pais, de longe o elo mais fraco do filme. O roteiro também não vai muito além do registro biográfico superficial da juventude de Renato Russo, limitando-se a retratar a curta trajetória da banda Aborto Elétrico, banda que serviu ao cantor como meio de extrapolar a sua revolta contra a ditadura inspirado pelo movimento punk (para um olhar mais amplo sobre o assunto, há o bom documentário Rock Brasília, que serve como complemento ideal ao filme). A formação do Legião Urbana é utilizada apenas como clímax da produção. Mas é justamente jogando para a torcida que o longa consegue dar aos fãs do Legião e do rock brazuca daquela época o que eles querem realmente: a catarse provocada pelos hinos de uma geração que um dia adorou se autoproclamar Coca-Cola. E os hits estão quase todos lá, para bater pezinho e balançar a cabeça no escurinho do cinema. E lembrar (ou descobrir, para as novas gerações) como aquele cara conseguia fazer poesia de alta qualidade com alma roqueira. Porém, o grande trunfo da produção é contar com um ator em estado de graça como protagonista. E Thiago Mendonça entrega uma performance realmente impressionante. A forma como o ator conseguiu captar o timbre de voz (é ele mesmo que interpreta as músicas), as inflexões vocais e os trejeitos de Renato Russo só encontra paralelo no que Daniel de Oliveira conseguiu em Cazuza - O Tempo Não Pára. Para quem viveu a época, às vezes dá a impressão de que é o próprio Renato que está contando a sua história. Uma viagem ao passado que merece ser feita. Nota 7,5 

* 73 - O Outro Lado do Sono (The Other Side Of Sleep, 2011, em Fantaspoa 2013): drama que desperdiça uma premissa interessantíssima (a protagonista é sonâmbula e acorda ao lado de um cadáver no meio de uma floresta) ao não desenvolver a história que tem em mãos. O filme é um interminável e enfadonho ensaio sobre o luto contado a partir da perspectiva de uma protagonista absolutamente apática. Apesar da boa fotografia e de um ou outro acerto da direção, é uma produção que sequer dá ao público, ao final da projeção, uma recompensa à altura da entrega que exige. Um título poucas vezes foi tão premonitório em relação ao que provoca no espectador. Nota 4,5

* 74 - The Battery (The Battery, 2012, em Fantaspoa 2013): o diretor e protagonista Jeremy Gardner jura de pé junto que conseguiu filmar essa inovadora visão sobre o batido tema do apocalipse zumbi com apenas 6 mil dólares. Difícil de acreditar. Independentemente do orçamento reduzido ou não, é um baita trabalho de estréia na direção. Com um roteiro muito consistente, dois atores (o próprio diretor e mais o estreante Adam Cronheim) com uma química única, uma direção de fotografia sensacional (auxiliada pelas belas paisagens do interior de Cleveland, onde o longa foi rodado em apenas 3 semanas) e uma trilha sonora muito legal e que tem papel fundamental na trama, The Battery é uma baita surpresa a ser descoberta. Talvez não funcione para todos os públicos, mas aqueles que não se importarem com algumas escolhas audaciosas do diretor, como as tomadas incrivelmente longas, vão terminar o filme querendo já uma continuação. Nota 8 

75 - Cockneys Vs. Zombies (Cockneys Vs. Zombies, 2012): comédia inglesa de zumbis que, se não chega a entregar um resultado tão memorável quanto Shaun Of The Dead, que obviamente lhe serviu de inspiração, ainda assim cumpre o papel de diversão despretensiosa misturada com a crítica social que já virou a mãe dos clichês dos filmes de mortos-vivos, aqui focada no crescimento imobiliário desordenado e no desamparo dos idosos na terra da Rainha-Mãe. Funciona. E o elenco de veteranos, que conta até com uma ex-bond girl (Honor Blackman, de 007 Contra Goldfinger), por si só já vale o filme. Nota 7,5  


76 - Plano C (Plan C., 2012): comédia policial holandesa que usa e abusa do humor negro, mas não disfarça a trama batidíssima do "plano de assalto perfeito que sai errado". A mistura de violência e humor não chega a ser um êxito do quilate dos filmes dos Coen, que sabem extrair dessa receita alguns de seus melhores trabalhos, mas é um filme tão simpático quanto o seu protagonista, uma espécie de clone mais novo de Paul Giamatti. Nota 7

77 - Resolução (Resolution, 2012): terror independente que brinca com os limites da metalinguagem e vai atrair tanto admiradores quanto detratores ferrenhos de sua trama surreal. Desenvolve muito bem o clima angustiante e seus personagens até um final muito original, mas ambíguo e vago. Os diretores espalharam pela internet sites virais que explicam alguns dos conceitos que explicam a história. Pessoalmente, eu desconfio de filmes que dependem de uma bula externa para serem decifrados. Nota 5,5

78 - American Mary (American Mary, 2012): tem pontos positivos, como a boa ambientação e certo cuidado estético raro nesse tipo de produção. O problema é que o roteiro, uma espécie de híbrido de horror médico (na linha do Cronenberg de Gêmeos - Mórbida Semelhança) com sátira ao torture porn (O Albergue), não consegue se decidir para qual lado pender. O resultado é um filme que promete uma visceralidade radical que só em poucas cenas é alcançada. E nunca assusta, crime capital para o gênero. A mocinha Katharine Isabelle, por outro lado, é very, very hot. Nota 5

79 - Prison Break: O Resgate Final (Prison Break: The Final Break, 2009): melhor do que a péssima quarta e última temporada, apesar de repetir algum de seus principais equívocos, como a falta de verossimilhança da trama e a marcha excessivamente acelerada, o que escancara ainda mais a precariedade do roteiro. Mas apresenta um desfecho para os personagens que, se não chega a ser perfeito, pelo menos é respeitoso com o seriado. Nota 6,5  

80 - Sex Drive - Rumo Ao Sexo (Sex Drive, 2008): comédia adolescente de sacanagem que espelha o moralismo de Hollywood no novo milênio. Enquanto os exemplares da década de 80 atropelavam toda e qualquer convenção social para fazer rir (algo que, justiça seja feita, o cineasta Todd Phillips, de Se Beber Não Case e Dias Incríveis, tenta homenagear em suas produções), as comédias feitas para a nova geração pregam a castidade mesmo quando perfumam a mensagem com jovens de peitos de fora e piadas sexistas. No mais, Sex Drive, longe de ter a esperteza de um Superbad, por exemplo, limita-se a empilhar piadinhas execráveis e humor retardado. Só quem se salva do desastre é James Marsden (o Ciclope de X-Men: O Filme), eterno galã de produções censura livre que aqui rouba a cena justamente destruindo a imagem de bom moço que construiu ao longo da carreira. Nota 4

* 81 - O Testamento e o Último Desejo de Rosalind Leigh (The Last Will and Testament of Rosalind Leigh, 2012, em Fantaspoa 2013): terror que remete às produções clássicas da Hammer, trata-se de mais uma tradicional história de casa mal-assombrada, mas com um viés intimista. Tem uma fotografia e uma direção de arte sensacionais que amplificam a criação do climão soturno, a grande qualidade da produção junto com a narração em off certeira de Vanessa Redgrave. O final é abrupto e um tanto anticlimático, mas o saldo é muito positivo. Nota 8

* 82 - Black Out (Black Out, 2012, em Fantaspoa 2013): comédia policial que reafirma a boa mão dos holandeses para brincar com o humor negro. Mesmo que a história seja chupada descaradamente das primeiras produções de Guy Ritchie (principalmente Snatch e Rocknrolla), o resultado é divertido e muito bem conduzido. E há um vilão que parece saído de uma produção dos irmãos Coen (o hilariante mafioso e dançarino de balé Vlad). Nota 7,5

* 83 - Eu Declaro Guerra (I Declare War, 2012, em Fantaspoa 2013): aventura juvenil que em muitos aspectos se assemelha a clássicos como Quando As Metralhadoras Cospem e A Guerra dos Botões. Relevante tanto como manifesto pacifista como quanto registro preciso da fase da pré-adolescência, é uma produção que diverte e faz pensar na mesma proporção, o que está diretamente relacionado ao sensacional elenco jovem e ao ótimo roteiro. Nota 8

84 - Terapia de Risco (Side Effects, 2013): começa como um drama árido sobre a depressão, mas depois de duas reviravoltas muito bem executadas vira um thriller daqueles que Hitchcock tanto gostava de filmar. De quebra, ainda sobram farpas para a máfia da indústria dos medicamentos. Jude Law e Rooney Mara estão muito bem em cena. Se esse é mesmo o último filme de Steven Soderbergh para o cinema (o cineasta anuncia que quer se aposentar há anos), é uma despedida muito digna. Nota 8

** 85 - Star Trek (Star Trek, 2009): passa no primeiro teste do tempo com louvor e mesmo apenas 4 anos após o lançamento é possível prever que vai se sustentar muito bem através dos anos. Equilibra à perfeição a ficção científica cerebral do seriado com a adrenalina das superproduções atuais, acrescentando ainda um senso de ritmo que muito lembra os clássicos dos anos 80, referência obrigatória em todos os trabalhos de J. J. Abrams, algo escancarado em Super 8. Um prato saboroso para fãs e não-fãs da franquia. Nota 9,5


86 - Redenção (Machine Gun Preacher, 2011): proposto como um daqueles filmes-denúncia com pretensão de lançar um viés social às mazelas causadas pela guerra civil africana, na verdade é uma peça de propaganda evangélica vergonhosa, que apóia-se nos pilares mais podres do fundamentalismo religioso e do conservadorismo político americano (a quantidade de alusões à bandeira e ao hino americanos por si só já embrulham o estômago, mas são as intermináveis cenas de pregação que realmente dão vontade de vomitar por seu moralismo babaca e reducionista). Pior ainda, o longa não consegue sequer se sustentar enquanto filme de ação, com uma edição amadora e cenas de pouco ou nenhum impacto. Intelectualmente nocivo pelas bandeiras que brada, sendo o belicismo e o paternalismo apenas a ponta do iceberg, apresenta idéias e conceitos escondidos através de sugestões como o mais furreca dos programas de tele-evangelismo. Como se não bastasse, o personagem biografado, descobriu-se depois, na verdade é um pastor que usa a igreja construída no Sudão como posto avançado de distribuição do produto que comercializa no mercado exterior: armas!!! O que um cineasta como Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca, A Última Ceia, Mais Estranho Que A Ficção) e atores como Gerard Butler, Michelle Monaghan e Michal Shannon estão fazendo em um projeto como esses é um dos grandes mistérios da Humanidade. Deplorável. Nota 1 

* 87 - Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness, 2013, em 3D, IMAX): é bem menos sutil do que a irretocável reinvenção da série promovida por J.J. Abrams em 2009. Aqui, o equilíbrio entre a natureza cerebral da série e a adrenalina dos grandes blockbusters pende totalmente para o último. Há também problemas no roteiro, com reviravoltas telegrafadas muito antes de acontecerem, personagens mal aproveitados (Checkov e Sulu são escanteados, o Scotty de Simon Pegg ganha tiradas que quase nunca funcionam e a ponta de Leonard Nimoy é apenas uma pálida e desnecessária referência, principalmente se comparada com a importante participação do ator no Star Trek de 2009) e idéias requentadas, como o batido embate entre emoção (Kirk) x razão (Spock), algo já suficientemente explorado no filme anterior. Mas é inegável a ótima mão de Abrams em produzir um espetáculo visual e sensorial de qualidade incontestável, ainda mais escudado com um elenco escolhido a mão e que em momento algum decepciona. Principalmente o excelente Benedict Cumberbatch (da fantástica série britânica Sherlock), que entrega um vilão ao mesmo tempo hipnótico e assustador, com potencial para virar referência na série. Barulhento, cheio de cenas de fazer cair o queixo (o 3D é muito bem aplicado), com personagens que causam empatia com o público desde a primeira cena (uma homenagem direta à Caçadores da Arca Perdida, um dos filmes de cabeceira do diretor), é um blockbuster que funciona para fãs da série ou não (eu, de certa forma, me incluo aqui). E a projeção em Imax, que transporta a platéia para o meio da ação, é obrigatória. Baita filme. Nota 8

* 88 - Elena (2013): na saída do cinema, uma senhora comentava com seu acompanhante que Elena "deve ser muito bom para os intelectuais", mas que ela havia achado chato o longa de estréia de Petra Costa. Esse pequeno fragmento do cotidiano diz muito sobre a perspectiva do público frente a obras que fogem do lugar-comum e das zonas de conforto do cinema comercial, mas é ainda mais emblemático da natureza subjetiva do belo trabalho de Petra e de como isso implica em possibilidades diferentes com que a platéia se relaciona com o longa. E toda e qualquer pessoa que assisti-lo viverá uma experiência própria. É impossível sair de Elena incólume a ela. Ultrapassando a todo momento as limitações impostas pelo documentário enquanto gênero, Elena é muito mais do que o mero registro da jornada da cineasta, que volta a Nova York para refazer os passos da irmã mais velha, que tirou precocemente a própria vida em 1990. É um ajuste de contas que a diretora (e sua mãe) corajosamente fazem com o passado e com as memórias dolorosas de uma vida que chegou ao fim no começo do caminho. É também um ensaio potente (e profundamente tocante) sobre o luto e a necessidade de renascimento simbólico como forma não de superá-lo, mas de suportá-lo. E não deixa de ser poesia, elaborada por Petra através de uma colcha de retalhos formada por arquivos em VHS deixados pela irmã e por reencenações teatrais que carregam na simbologia pretendida pela diretora. Na verdade, o que menos importa é a qual gênero pertence Elena, o filme. O importante é que ele exista. Goste ou não, é um dos filmes nacionais mais emocionalmente ricos (e potentes) dos últimos anos. Nota 9

89 - O Vingador do Futuro (Total Recall, 2012): Colin Farrell embarcou na segunda refilmagem desnecessária em seqüência que, tal e qual o remake de A Hora do Espanto, não faz água perto do original de 1990. Aqui, não há nem sinal da alegoria política e do humor histérico do classicaço de Paul Verhoeven (não há Marte, não há mutantes e, principalmente, não há Schwarzza). Em seu lugar, há um filme de ação genérico que desperdiça o potencial da boa idéia original pinçada do conto de Phillip K. Dick. Ao menos os erros cometidos não são decorrentes de uma cópia mal xerografada do filme em que se baseia. Há um número razoável de mudanças e novas idéias que, se não chegam a ser desenvolvidas a contento, pelo menos afastam a produção do limbo das meras reproduções picaretas de trabalhos alheios. O design de produção é surpreendente e as cenas de ação são muito bem coreografadas. Nada que purgue o filme de seus pecados, mas que sem dúvida lhe torna bem mais suportável enquanto diversão rápida e indolor. Nota 6,5

90 - 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (4 Luni, 3 Saptamâni Si 2 Zile, 2007): impressionante trabalho que é um dos carros-chefe do celebrado novo cinema romeno, merece todo o barulho que causou em festivais ao redor do mundo. Com um registro muito próximo ao documental, o filme do cineasta Cristian Mungiu lembra o trabalho de Asghar Farhadi em A Separação ao abordar à primeira vista um drama íntimo para, nas entrelinhas, tecer comentários políticos e sociais muito pertinentes sobre a sociedade romena (o filme é ambientado em 1987, portanto antes da abertura econômica). Além disso, Mungiu não tem firulas ao enfrentar um assunto polêmico e de potencial explosivo de forma totalmente original e imparcial. De ritmo lento e seco, o filme é veneno para grande parte do público consumidor de blockbusters. Com duas protagonistas excelentes, tem ainda uma cena final antológica e cheia de significados em sua sutileza. Nota 9 

91 - Se Eu Quiser Assobiar, Eu Assobio (Eu Cand Vreau Sa Fluier, Fluier, 2010): outro exemplar da cinematografia romena atual que consegue surpreender ao inverter totalmente os rumos da narrativa em seu terceiro ato. Essa virada na trama, quase toda ela passada em um reformatório juvenil, dá ao filme força enquanto crítica ao sistema representado pelo governo sem soar panfletário. Nota 7,5

92 -  Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer (A Good Day To Die Hard, 2013): para fazer até o mais aguerrido fã esquecer tudo o que a franquia tinha de melhor. Sai o herói falível, que sofria junto com o público para sobreviver. Entra um super-herói que, a despeito do pouco sangue falso que a certa hora brota como mágica em sua careca, nunca dá a impressão de que está passando a menor dificuldade em enfrentar os bandidos. Sai a ameaça com nome, CPF e comprovante de residência e entram vilões saídos de algum gibi obscuro e datado (do tempo da Guerra Fria, em que falar em inglês com sotaque dos Bálcãs metia medo em alguém). Sai o protagonista solitário, humano e bem-humorado e entra o velhote rabugento que divide absolutamente todas as cenas de ação com o filho sem carisma e insistentemente fica bradando bordões sem graça e deslocados como "eu estou de férias". E saem também de cena as seqüências de ação bem coreografadas e no lugar entram três pastiches que espelham a decadência dos filmes de pancadaria no novo milênio (a primeira delas, uma perseguição que pelo menos lança mão de efeitos práticos e não do CGI que destrói as demais, até seria interessante, não fosse a edição amadora, que torna tudo praticamente ininteligível). Um desperdício de celulóide que só não é pior porque Bruce Willis parece ter algum carinho pelo velho e bom John McClane, o que o resto dos envolvidos na produção evidentemente não tem. Se fosse um filme genérico de ação, seria apenas ruim. Sem graça, sem identidade, sem competência nenhuma. Como algo que tenta emular ao menos remotamente o clima dos primeiros Duro de Matar, esse aqui consegue no máximo tornar o quarto filme melhor na comparação com os outros. Descanse em paz, McClane. Nota 3

93 - O Morto Vivo (The Revenant, 2009): passou em um dos últimos Fantaspoa essa visão diferente sobre o mito do vampiro, dessa vez meio que fundida com a tradição dos zumbis. Sob uma boa camada de humor negro, há um filme de vigilantes que propõe em algum lugar incerto do roteiro uma crítica social que envolve as minorias, principalmente os imigrantes da Costa Leste americana. Tem uma boa premissa e um desenvolvimento dos mais irregulares, mas da metade pro final o banho de sangue vai ficando tão absurdo que dá lugar até a um desfecho que, este sim, carrega uma mensagem crítica ao governo ianque bem esperta. Nada muito empolgante, mas vale a visita. Nota 6,5

94 - Silent Hill: Revelação 3D (Silent Hill: Revelation 3D, 2012): Terror em Silent Hill, de 2006, ainda é uma das menos piores (veja bem, "menos piores", não "melhores") adaptações de games para o cinema. Tinha um design de produção bacana, ótimos efeitos de maquiagem e provocava sustos. Essa continuação aqui é para servir de parâmetro de ruindade para a próxima década. Não tem defesa. É um emaranhado de clichês, atuações canastronas (Sean Bean, Kit Harrington, Carrie-Anne Moss, Malcolm McDowell e pontas de Radha Mitchell e Deborah Kara Unger) e inépcia narrativa crônica. É tão irritante na incompetência geral que o ideal seria limar qualquer registro de sua existência. Nota 1

 95 - Dentro da Casa (Dans La Maison,  2012): excelente trabalho do prolífico François Ozon (Swimming Pool - À Beira da Piscina, 8 Mulheres, Potiche - Esposa Troféu), que parece querer imitar o ritmo anual de produção de Woody Allen. É uma ode à literatura que transforma o próprio filme em uma versão de As Mil E Uma Noites, com o público na posição do sultão, ansioso por mais um capítulo lido por Sherazade. Consegue misturar em uma mesma receita drama, comédia e suspense sem nunca perder o foco do que tem de melhor: os personagens fascinantes defendidos com garra por Fabrice Luchini (As Mulheres do Sexto Andar), Kristin Scott-Thomas (Quatro Casamentos E Um Funeral), Emmanuelle Seigner (Lua de Fel) e o estreante Ernst Umhauer. Filmão. Nota 8,5

96 - Excision (Excision, 2012): drama psicológico travestido de horror gore e comédia de humor negro, é uma boa surpresa. Trata o tema pesadão com ar gaiato até um final doentio e impactante. É para poucos estômagos. Quem embarcar na viagem, contudo, vai ser recompensado com uma interpretação sensacional da protagonista, AnnaLynne McCord, que defende um papel complexo com todas as nuances necessárias. E tem a ex-estrela pornô dos anos 80, Traci Lords, que também está muito bem em cena. Aliás, o elenco de apoio conta com pontas de figuraças do imaginário pop como Malcolm McDowell (Laranja Mecânica), John Waters (diretor de Pink Flamingos, Cry Baby e do Hairspray original), Marlee Matlin (Os Filhos do Silêncio) e Ray Wise (Twin Peaks). Vale a pena. Nota 7 

* 97 - Faroeste Caboclo (2013): a adaptação do hino oitentista da Legião Urbana ganha uma versão cinematográfica muito, mas muito honesta. Mas fica o aviso: o filme em nenhum momento limita-se a posar de mero videoclipe, adaptando ipsis literis a letra da música entoada por Renato Russo. Pelo contrário, o roteiro do filme toma muitos desvios, alguns necessários para que a história seja transformada em película, outros problemáticos (como a indecisão lá pela metade do filme em focar no romance impossível de João de Santo Cristo e Maria Lúcia ou na jornada trágica do herói). Também me incomodou um pouco que o duelo final não seja aquele da música, transmitido em cadeia nacional, mesmo que destoasse do próprio viés narrativo adotado desde o início. Mas entendo a opção pelo registro intimista: além de uma bela homenagem aos faroestes de Sergio Leone (principalmente Três Homens Em Conflito), a cena fica bem mais trágica (e bela) sem espectadores. Faroeste Caboclo é filme feito não só para fãs xiitas de Legião Urbana, mas principalmente para adultos. O importante ao final não é a fidelidade irrestrita ao texto original, mas como o filme conseguiu extrair daquele conto a sua essência. Dirigido de forma surpreendente pelo estreante (o que aumenta mais o espanto) René Simões, que soube dar ao projeto o peso dramático necessário, fotografado lindamente por Gustavo Hadba e ancorado em uma atuação irretocável de Fabrício Boliveira como o protagonista, o longa ainda ganha mais créditos por contar com outros três atores que defendem exemplarmente seus personagens: Isis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias) e Antonio Calloni (o policial corrupto Marco Aurélio). Se esse Faroeste vai virar também uma das minhas músicas favoritas, eu não sei. Mas certamente vai fazer parte da coletânea de best hits desse ano. Nota 8,5  

98 - Detona Ralph (Wreck-It Ralph, 2012): projeto que aproveita o mesmo conceito de Toy Story, só que ao invés do mundo dos brinquedos, aqui o foco é o dos games. Não tem a mesma ambição dos melhores projetos da Pixar (Wall-E, Ratatouille, Up), mas vai além do esquemático sistema de produção da Disney. Na verdade, é um ótimo meio-termo entre o trabalho dos dois estúdios, agora fundidos em um só. A animação conta com personagens carismáticos e para isso contribui muito o talento dos atores que lhes emprestam as vozes. E quem assiste à versão dublada perde as divertidas caracterizações de John C. Reilly (Chicago) e Jane Lynch (Glee), que fazem toda a diferença. Engraçado e inventivo (o design de produção, que emula jogos de diferentes épocas, é impressionante, com destaque para o mundo feito de doces, feito com base nas obras de Gaudi), Detona Ralph ainda consegue aqui e ali arrancar algumas emoções genuínas, principalmente no final, um dos melhores desfechos de animações nos últimos anos. E um passatempo extra (e muito agradável) é descobrir as toneladas de referências a jogos antigos em praticamente todas as cenas. Irresistível para quem passou parte da infância apertando botões para chegar à fase final de Donkey Kong. Nota 8

99 - As Vantagens de Ser Invisível (The Perks Of Being A Wallflower, 2012): tem filmes que ficam na memória como fotografias que a gente mantém sem nem saber ao certo por quê na cabeceira da cama. As Vantagens... é um desses filmes. O próprio autor do livro, Stephen Chbosky, aqui faz as vezes de roteirista e diretor, o que é um enorme acerto. Mesmo sem apresentar nenhuma inovação estética, é um filme que consegue abordar a batida temática do amadurecimento dos adolescentes de forma sincera, mesmo predicado, aliás, de outras produções primas como Hora de Voltar (Garden State), de Zach Braff, e Uma Vida Iluminada (Everything Is Illuminated), de Liev Schreiber. Ambientado no início dos anos 90, é daqueles filmes que evocam nostalgicamente (e com precisão, visto que o diretor efetivamente viveu a época) sentimentos e situações que transcendem as limitações óbvias da geografia e cultura. É essa honestidade que faz com que esse filme permaneça na retina. E a trinca de protagonistas formada por Logan Lerman (Percy Jackson e o Ladrão de Raios), Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre o Kevin) e Emma Watson (a Hermione da franquia Harry Potter) dá um show a parte. Já a excelente trilha sonora merece fazer parte do acervo de qualquer um. Sem falar que é dela grande parte do mérito da melhor cena do longa, uma memorável ode à juventude ao som de Heroes, de David Bowie. Nota 8

* 100 -  Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover Part III, 2013): exemplo perfeito de tudo o que há de errado no cinema produzido por Hollywood, é o clássico caso da insistência dos estúdios em requentar uma idéia muito além de seu potencial. Depois de um primeiro filme sensacional, talvez uma das comédias mais engraçadas da última década, veio uma primeira continuação que limitava-se a refilmar passo a passo a produção original, mas ainda assim, aqui e ali, arrancava risos esparsos da platéia. Já essa terceira parte revela-se um dos filmes mais dispensáveis na história recente da Sétima Arte. Abandona o conceito original da ressaca que apaga a memória dos protagonistas para seguir uma boba historinha policial protagonizada pelo oriental mafioso que era coadjuvante nos filmes anteriores. O resultado é um dos filmes mais sem graça dos últimos anos (e não inclua-se nessa comparação somente as comédias, para vocês terem uma idéia). Não há qualquer resquício do humor anárquico que desafiava convenções morais e sociais nos primeiros filmes. Ironia das ironias, o único momento em que a produção arranca risadas do público é na cena no meio dos créditos finais, que justamente retoma o cenário das ressacas dos primeiros filmes. Se o filme todo se desenrolasse a partir daí até teria algum potencial em provocar mais do que sorrisos constrangedores na sala de cinema. O problema é que nesse ponto a paciência do público já foi para as cucuias. Nota 3

 

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