O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


domingo, 2 de março de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014 DE MELHOR FILME - MEUS PITACOS SOBRE OS NOVE

Abaixo, segue uma lista muito pessoal, com comentários muito pessoais. Assim como no ano passado, assisti aos nove longas indicados a Melhor Filme no Oscar 2014 em um dos muitos rituais que cultivo em relação à Sétima Arte. São comentários já publicados aqui no blog antes, apenas ordenei os filmes pela minha ordem de preferência. A lista a seguir, portanto, não foi proposta como algum tipo de aposta em vencedores ou coisa parecida. É simplesmente a ordem em que os longas indicados nesse ano mais me marcaram. 



P.S.: esse ano, a surpreendente quantidade de produções ótimas fez com que muitos filmes fossem esnobados pela Academia, como Inside Llewyn Davis, trabalho muito bacana dos irmãos Coen. Tirando Trapaça, um bom filme que foi superestimado e não merecia estar dentre os nove indicados à categoria principal, todos os outros me surpreenderam positivamente. Ei-los, em ordem de preferência, começando pelos que mais me marcaram.

1 - Gravidade (Gravity, 2013): o cinema, lado a lado com a literatura, é uma das formas de expressão artística que melhor consegue proporcionar a imersão completa em uma narrativa de forma a provocar o escapismo quase automático da realidade, nem que seja por um curto espaço de tempo. Gravidade é daquelas obras que faz essa mágica acontecer em seu estado mais puro. E o impacto que provoca no público ao ser saboreada nas condições ideais (nesse caso em particular, em 3D e na tela gigante do IMAX) não encontra paralelo em nenhuma produção recente. Dirigida por um dos grandes cineastas da atualidade (o mexicano Alfonso Cuarón, dos excelentes Filhos da Esperança e E Sua Mãe Também), a produção é um novo marco no emprego irretocável da tecnologia no cinema. É praticamente impossível não ser transportado para o vácuo do espaço junto a sua ótima protagonista (Sandra Bullock, no melhor papel de sua carreira, com o perdão do trocadilho, mas há anos-luz do papel que lhe rendeu o Oscar no enlatado Um Sonho Possível). Claustrofóbico, Gravidade é daquelas montanhas-russas emocionais que não dão um respiro à platéia ao longo de seus enxutos 90 minutos de projeção. É daqueles filmes que grudam o espectador na poltrona do cinema, buscando um eixo de apoio que falta aos seus personagens, todos soltos na gravidade zero do espaço. Lotado de cenas com potencial para virar referência aos cineastas no futuro, desde o irrepreensível plano-seqüência de 17 minutos (!!!) com que abre o filme, passando pela pirotecnia das cenas de ação e as homenagens explícitas a clássicos da ficção científica (o bebê interplanetário de 2001 - Uma Odisséia No Espaço e a roupa de Sigouney Weaver em Alien - O Oitavo Passageiro são as de mais fácil identificação), Gravidade é o blockbuster perfeito: deixa o queixo no chão, mas o cérebro permanece plenamente ativo. Nem a discutível simplicidade do roteiro tem o condão de diminuir a obra, tamanha é a efetividade do arco dramático desenhado com esmero para a sua protagonista. Sem falar que a  fotografia, efeitos especiais e sonoros e principalmente a brilhante trilha sonora de Steven Price (de Ataque Ao Prédio) tornam o espetáculo inesquecível sob qualquer ponto de vista. Exemplo perfeito do casamento feliz entre entretenimento, fidelidade científica e autoralidade, Gravidade é o filme a ser visto por qualquer cinéfilo, seja ele fã de superproduções ou da programação dos cineclubes. E se existe um filme que merece ser visto com toda a pompa na tela do IMAX e em seu sensacional 3D, é esse aqui. A minha primeira reação ao sair do cinema e que talvez resumisse o texto acima foi: OH, MY FUCKING GOD!!!

2 - 12 Anos de Escravidão (12 Years A Slave, 2013): segundo Steve McQueen a fazer história na Sétima Arte, o diretor por trás dos excelentes Hunger e Shame, egresso das artes plásticas, comprova aqui que é um dos grandes nomes do cinema moderno. Não há nem um pingo de sentimentalismo nesse registro cru dos absurdos cometidos pelo racismo durante o período em que a escravidão era considerada uma prática legal (e econômica) admissível pelo mundo ocidental. Produção muito importante no atual cenário político e social mundiais, em que o conservadorismo (e o preconceito de qualquer espécie) parece ter um revival incômodo, 12 Anos de Escravidão é aquela obra elaborada no tempo certeiro para escancarar a estupidez por trás do comportamento velado, mas recorrente, de certa parcela da população global. Difícil de deglutir (ao contrário de trabalhos de encomenda feitos para expiar a culpa anglo-saxã como o simplório Histórias Cruzadas), o filme não tem medo em apresentar a face mais cruel, violenta e revoltante da segregação racial e tem peito suficiente para encerrar a narrativa sem optar pelo caminho fácil e maniqueísta da redenção forçada de seu protagonista (um impressionante Chiwetel Ejiofor) ou da punição de seus algozes. Demonstrando mais uma vez uma mão única para transformar cenas aparentemente comuns em quadros pintados em celulóide (a fotografia é nunca menos do que sensacional), McQueen ainda se dá ao luxo de colocar astros consagrados em pontas mínimas (Paul Giamatti, Benedict Cumberbatch, Brad Pitt) que servem meramente como alavancas para o roteiro. Isso porque o show aqui é de Ejiofor e de Lupita Nyong´o (a simples cogitação de que ela perca o Oscar 2014 de Melhor Atriz Coadjuvante para a caricata atuação de Jennifer Lawrence em Trapaça representa um crime contra a Sétima Arte), ambos irrepreensíveis em toda e qualquer cena em que aparecem. Já Hanz Zimmer demonstra mais uma vez que é mestre na condução de trilhas e entrega uma partitura econômica, mas muitíssimo eficiente e que nunca resvala para o sentimentalismo, uma armadilha possível considerando-se a história contada no filme (e é bizarro não ter sido indicado ao Oscar da categoria). Filmaço em todo e qualquer sentido.

3 - O Lobo de Wall Street (The Wolf Of Wall Street, 2013): o mais recente Scorsese é um filme de excessos. A começar pela desnecessária duração de 3 horas, que poderia muito bem ser reduzida na mesa de edição. É uma longa espiral de sexo, drogas e gastança de grana pra letrista de funk ostentação nenhum botar defeito (e a deliciosa loiraça Margot Robbie é a síntese desse mundo de glamour em que está ambientado o filme). O lado bom é que Scorsese parece aqui tão, mas tão à vontade que o desenvolvimento absolutamente surtado do filme faz as horas passarem voando na tela. Isto porque o veterano cineasta de 71 anos conseguiu enxergar nesse conto amoral sobre ascensão e queda de um figurão de Wall Street (baseado em livro escrito pelo próprio protagonista) a mesma cartilha e os mesmos códigos de conduta adotados pelos mafiosos vistos em alguns de seus trabalhos mais memoráveis (é, de fato, um retorno ao mesmo mundo de Caminhos Violentos, Os Bons Companheiros e Cassino). O ótimo roteiro de Terence Winter (do excelente seriado Boardwalk Empire, da HBO, não por acaso produzido pelo próprio Scorsese) se preocupa muito mais em estabelecer a falta de ética e moral do mundo em que habitam seus personagens do que tentar lecionar ao público os mecanismos e engrenagens em que atuam, distanciando o filme de outras abordagens do mundo da corretagem na bolsa de valores, como Wall Street - Poder e Cobiça, de Oliver Stone. Essa abordagem diametralmente oposta é escancarada explicitamente em duas cenas específicas, quando o protagonista quebra a quarta parede e, falando diretamente com a platéia, afirma não ser necessário entender as operações feitas pelos personagens, mas apenas compreender que são ilegais. Divertido demais em certos momentos (toda a seqüência que envolve uma overdose de quaalude lembra inclusive o humor físico dos filmes de Jerry Lewis, que trabalhou com Scorsese em O Rei da Comédia), O Lobo de Wall Street é a produção perfeita para o diretor reafirmar sua vitalidade enquanto mestre da narrativa cinematográfica: estão ali todas as suas marcas registradas, dos travelings aos planos-seqüência, da edição vertiginosa à trilha sonora roqueira, da narração em off que funciona como um personagem em si até o protagonista amoral com quem o público inevitavelmente se identifica. Leonardo DiCaprio está muito bem em cena e não seria injusto levar o Oscar 2014, o que provavelmente não vai acontecer (vai perder para Matthew McConaughey, que ironicamente faz uma impagável ponta no começo do filme). Já Jonah Hill está muito divertido, mas sua indicação não serve para coisa alguma além de ter roubado o lugar de Daniel Brühl em Rush, esse sim merecedor da lembrança da Academia. No final das contas, O Lobo de Wall Street é a viagem lisérgica que ainda faltava à parceria Scorsese-DiCaprio. Que venham outras overdoses de libidinagem como essa no futuro. 

4 - Ela (Her, 2013):  confirmando a sensibilidade demonstrada em seu longa anterior (Onde Vivem Os Monstros), o cineasta Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich, Adaptação) entrega um lindo (bonito de verdade!) ensaio sobre a solidão nos tempos modernos, apesar de situar a trama em um futuro preocupantemente muito próximo da realidade em que vivemos. Retratando o amor do protagonista (um surpreendente como sempre Joachim Phoenix) por uma inteligência artificial (a voz de Scarlett Johansson numa interpretação que deveria ter sido indicada ao Oscar), o filme apresenta uma visão original e perturbadora sobre a sociedade contemporânea. Os trabalhos de direção de arte e fotografia são um show a parte, tornando o mundo em que vivem os personagens em uma espécie de idílio melancólico que ganha vida também graças à inspiradíssima trilha do Arcade Fire. Um trabalho sensível e criativo que merece muito ser descoberto. A cena final é de uma beleza difícil de superar.
5 - Capitão Phillips (Captain Phillips, 2013): é de ter arrepios na espinha imaginar o que um baita roteiro como esse de Capitão Phillips poderia se tornar nas mãos erradas. Por isso mesmo, tentar antever o que um Michael Bay ou um Roland Emmerich poderiam fazer com o filme revela-se um exercício importante de cinefilia e um justíssimo tributo ao que o ótimo Paul Greengrass (Domingo Sangrento, Vôo United 93, A Supremacia Bourne) conseguiu realizar aqui. Demonstrando que conseguiu atingir na medida exata o equilíbrio entre o seu estilo documental de filmar com o potencial explosivo das histórias que lhe caem nas mãos (o que já rendera o excelente O Ultimato Bourne e o subestimado Zona Verde), Greengrass entrega aqui um filme que transpira tensão do começo ao fim da projeção sem nem por um fotograma sequer resvalar para o melodrama ou a patriotada besta tão comuns à cinematografia ianque, principalmente quando a produção envolve registrar incidentes que envolvem a política externa americana. Espécie de manual da boa condução narrativa, Capitão Phillips de cara já ganha o espectador ao colocar, na pele de um protagonista difícil e que foge da caricatura do salvador da pátria, um rosto que ganha a empatia imediata do público (o  talentoso astro Tom Hanks, que dificilmente deixará de concorrer ao Oscar do próximo ano, nem que seja pela irretocável nuance que dá ao personagem em suas duas últimas cenas, ambas improvisadas na hora da filmagem e que revelam-se os pontos emocionais cruciais do longa). Sem nunca privilegiar a figura do herói, o roteiro faz a mágica de conseguir com que nos importemos não só pelo refém, mas também pelos sequestradores, todos eles registrados com todas as camadas sociais e políticas que se esperaria de um cineasta com a visão política madura de Greengrass. Não há no filme mocinhos e bandidos e essa visão humanista de um fato com forte tendência à parcialidade crítica faz uma bruta diferença para o resultado final. O elenco de apoio, buscado por Greengrass junto à comunidade somali americana, é de uma eficiência espantosa.
6 - Philomena (Philomena, 2013): que coisa boa ver Stephen Frears (Ligações Perigosas, Alta Fidelidade, A Rainha) recuperar a plena forma depois da pavorosa tentativa de fazer comédia americana em O Dobro Ou Nada. Contando com um roteiro irreparável do ator e co-protagonista Steve Coogan (A Festa Nunca Termina, Trovão Tropical), é um filme que começa sem grandes rompantes, mas vai gradualmente revelando a incrível história que lhe serve de base, um daqueles contos da vida real difíceis de acreditar que ocorreram de verdade (e o tapa de luva de boxe que dá não só na Igreja Católica, mas em todas as religiões que ainda insistem em impor aos fiéis uma dogmática de séculos passados, não poderia ser mais atual). O diretor demonstra mais uma vez habilidade de mestre em equacionar drama e comédia no mesmo longa, às vezes na mesma cena, sem que isso represente um obstáculo narrativo (pelo contrário, é uma marca que alça a produção a um outro patamar, muito, mas muitíssimo distante de qualquer limitação de gênero boboca). E nem é preciso dizer que Judi Dench cria aqui mais uma daquelas personagens inesquecíveis que, com todas as idiossincrasias próprias da pessoa real em que se baseia, resulta numa performance adorável e que encontra química perfeita com Coogan, formando uma daquelas duplas que poderiam render uma franquia inteira sem cansar o público em momento algum. Um filme que devolve ao mundo uma inacreditável (e importantíssima) história que berrava por ser contada. Bem vindo de volta, mr. Frears. 

7 - Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013): é muito correta essa produção que resgata uma história verídica ocorrida nos primórdios do combate à AIDS e que, mais do que discutir o preconceito sexual ou registrar uma daquelas sagas de "protagonista com doença terminal que revê a própria vida e encontra redenção", representa uma crítica importante (e muito atual) aos lobistas da indústria farmacêutica americana. Com uma premissa relevante dessas, que abre um debate que não se restringe às fronteiras dos EUA, era de se esperar que o filme impactasse muito mais pelo texto do que pelas atuações. Porém, o canadense Jean-Marc Vallée contou com um trunfo inesperado: dois galãs que se entregaram com bravura a papéis que fogem aos tipos que os consagraram nas telas (e ambos emagreceram horrores para seus personagens, o que tanto agrada a Academia). Tanto Matthew McConaughey quanto Jared Leto vão ganhar o Oscar desse ano e fizeram por merecer. Mesmo que eu prefira as interpretações de Chiwetel Ejiofor em 12 Anos de Escravidão e de Leonardo Di Caprio em O Lobo de Wall Street, é inegável que McConaughey merece o Oscar nem que seja pela completa reinvenção de sua carreira nos últimos anos, quando protagonizou produções relevantes e sempre entregando atuações sensacionais (Bernie, Killer Joe - Matador de Aluguel, o seriado True Detective e a própria ponta sensacional em O Lobo de Wall Street mais do que referendam a inevitável premiação). Já Jared Leto está impecável como um transsexual que, longe de resvalar na caricatura, é a figura mais humana do filme, justamente o contraponto ao homofóbico caubói de McConaughey e o fator determinando para a transformação do protagonista em um arco dramático que jamais soa forçado, um mérito que decorre principalmente da ótima química dos dois atores nas cenas em que contracenam. Ao fim e ao cabo, se Clube de Compras Dallas não é lá um filme tão diferenciado (talvez seja o mais acadêmico dos roteiros dentre os indicados a melhor filme de 2014 pelo Oscar) e a direção de Vallée também nunca decole como deveria, é uma produção que tira grande proveito da força de sua dupla de atores, conseguindo alçar vôo justamente por causa deles. 

8 - Nebraska (Nebraska, 2013): como quase todo filme de Alexander Payne (Ruth Em Questão, Eleição, As Confissões de Schmidt, Sideways - Entre Umas e Outras, Os Descendentes), registra personagens que confrontam a própria personalidade em jornadas de auto-descobrimento. Surpreende que esse seja o primeiro filme que não foi escrito por Payne (o roteiro é do ator/escritor Bob Nelson), já que a temática e todos os personagens são cuspidos e escarrados os tipos que o cineasta mais gosta de retratar. Típico road movie agridoce que apetece o diretor, Nebraska é uma ode ao passado com aquele ar melancólico que a trilha e a bela fotografia em preto e branco (por quê não investir mais nesse formato é algo que me irrita profundamente) só colaboram. O humor é especialmente bem empregado, com situações que poderiam pender para o dramalhão transformadas em farsas de riso fácil e espontâneo, marca registrada de Payne. Bruce Dern está excelente (levou Melhor Ator em Cannes com justiça), mas são suas cenas com a veterana June Squibb (indicada ao Oscar) que realmente lançam faíscas na tela. Já Will Forte, egresso do Saturday Night Live (e o McGruber inclusive no cinema), cria um personagem tocante como o filho que se revela mais humano do que parece inicialmente. Um belo trabalho que não vai dar o Oscar para Payne (e não merecia mesmo), mas que é uma bonita, ainda que levemente amarga, homenagem às raízes de todos nós. 

9 - Trapaça (American Hustle, 2013): engraçado como são justamente os filmes de David O. Russell que não tiveram tanto hype da mídia (Procurando Encrenca, Três Reis, Huckabees - A Vida É Uma Comédia) aqueles eu considero os pontos altos de sua carreira até aqui. Não que seus filmes adorados pelos membros da Academia (O Vencedor, O Lado Bom da Vida e Trapaça) não sejam belos trabalhos, pelo contrário. É que parece que o cineasta se acomodou em uma poltrona segura, limitando todo o seu evidente talento em tramas que buscam situar-se naquele difícil limiar que une magicamente a aprovação da crítica e do público (tarefa que vem sendo muitíssimo bem-sucedida, diga-se de passagem). Trapaça é o filme em que o diretor  presta uma óbvia "homenagem" à obra de Martin Scorsese, desde os movimentos abruptos de câmera até as múltiplas narrações em off, dos planos-sequência e personagens exagerados até a ótima ponta do ator que melhor representa a filmografia de Martin. Pena que essa ode ao trabalho de Scorsese veio na pior das horas, quando o próprio maestro demonstra pleno domínio do ofício em O Lobo de Wall Street, um filme muito superior a Trapaça, tanto em forma quanto em conteúdo. De qualquer forma, Trapaça ainda é um filme bem bacana, com sua precisa ambientação na década de 70 (filmado em película e envelhecido na pós-produção, a fotografia só funciona mesmo na tela do cinema, impossível de ser mimetizada pela digitalização dos screeners que muitos baixaram antes do filme estrear), que conta com um design de produção fantástico e figurinos que, dentro da opção pela paródia, resultam em uma diversão a parte. O elenco todo está muito bom, mas são Christian Bale e Amy Adams que compõem os personagens mais interessantes (Bradley Cooper e Jennifer Lawrence fazem figuras histriônicas que funcionam dentro do registro cômico, mas não chegam a transpor a linha da caricatura), dando nuances a papéis que, em mãos erradas, ou empalideceriam ou descambariam para o ridículo. Quanto ao roteiro, é daqueles longas que apostam todas as fichas na surpresa ao final dos trambiques de seus protagonistas, coisa que funciona apenas medianamente, já que os golpes nem são lá tão intrincados quanto a exagerada metragem do longa (duas horas e vinte minutos) faria esperar. Um filme bem divertido, que flui bem na telona. Mas, de excepcional mesmo, só as perucas do elenco e os decotes de Adams e Lawrence, esses sim dignos de alguma premiação. 

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