O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


domingo, 14 de outubro de 2012

Rewind 2012 No Cinema - Parte 3 (post em construção durante o ano)

 
 

Essa terceira parte lista os filmes vistos no ano, do 201º em diante, todos eles com micro-resenhas e uma nota. O numeral atribuído a cada nota não deve ser visto como uma sentença. Em primeiro lugar, não se pode condensar toda a avaliação sobre uma obra em um mero numeral, o que seria de um reducionismo pedestre. A nota serve, no caso dos comentários breves, como forma de ilustrar o que não coube no texto. Neste ano, utilizei os seguintes parâmetros para quantificar as notas: 
-  notas 10: só para filmes que passaram no teste do tempo, ou seja, somente para filmes que permanecem excelentes mesmo após mais de 20 anos de seu lançamento;
- de 8 a 9: filmes ótimos;
- de 6 a 7,5: filmes bons;
- 5 ou 5,5: filmes razoáveis;
- abaixo de 5: filmes com variáveis graus de ruindade.
 
* Filmes revistos 
201 - Fora da Lei (Hors La Loi, 2010): Rachid Bouchareb, o diretor do excelente Dias de Glória (Indigènes, indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2007), reuniu o mesmo elenco de seu filme de guerra para mais uma vez abordar a história dos exilados argelinos em território francês, desta vez narrando a luta pela independência da então colônia da França na forma de um filme de gângster, com direito a todas as marcas registradas do gênero. A mistureba, por mais estranha que pareça, dá certo. Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2011. Nota 7
202 - Água Para Elefantes (Water For Elephants, 2011): busca desesperadamente reviver o clima de O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show On Earth, de 1952) e consegue marcar alguns pontos através das impecáveis direção de arte e fotografia, que tornam a produção homogeneamente bonita. Além disso, as cenas ambientadas dentro do circo possuem um senso de divertimento vintage que recupera de leve a aura das produções da Era de Ouro de Hollywood. O problema é que, quando a trama foca no triângulo amoroso principal, a maionese desanda: Christoph Waltz repete pela centésima vez uma variação mal-feita de seu Hans Lada, de Bastardos Inglórios; Reese Whiterspoon é tão sem sal que é ofuscada pelo elefante do circo em todas as cenas que contracena com o bicho; e o vampiro purpurinado (e agora cornutto) Robert Pattinson, coitado, limita-se a assistir a tudo com um olhar de peixe morto e a boca eternamente entreaberta. Não fosse por eles, o filme até poderia almejar algo mais do que a razoável Sessão da Tarde que se revelou. Nota 6
 203 - Bait (Bait): a premissa é tão sem pé nem cabeça (grupo é preso dentro de um supermercado após um tsunami e precisa lidar com dois tubarões para sair do local) que prometia render um daqueles trash movies toscos, mas divertidos na medida. Pena que os realizadores cumpriram somente a primeira parte da promessa. Em tempo: os efeitos especiais são tão horrendos que, perto deles, qualquer PPS infame daquelas correntes que circulavam por e-mail nos primórdios da internet discada parece obra da Lucasfilm. Nota 1
204 - Busca Implacável 2 (Taken 2): se o primeiro fez sucesso amparado por um protagonista que seguia à risca o arquétipo do herói de ação dos anos 80 e uma condução sóbria e eficiente, essa continuação solta a franga geral. Os exageros e os imensos buracos de lógica no roteiro aproximam o clima do filme daquelas produções feitas em série pela Cannon Group e distribuídas no Brasil pela América Video em  VHS. O problema é que, ao contrário daquelas podreiras, Taken 2 adota um visual todo caprichado e metido a moderninho, afastando o tom autoparódico que funcionou para outra cria do cinema oitentista, Os Mercenários 2. Mas o mais grave é a disposição do diretor Olivier Megaton em imitar a edição frenética e a câmera na mão das cenas de ação dos filmes da franquia Bourne. Se lá o recurso funcionava, dando aos filmes uma urgência e um realismo condizentes com a trama, aqui parece apenas que o camera man tem um ataque epiléptico a cada vez que acontece algo interessante na tela. Diverte bem moderadamente. Nota 5,5
205 - A Toda Prova (Haywire): o sobrenome de Steven Soderbergh deveria ser Versatilidade. Realizador de obras tão distintas quanto Onze Homens E Um Segredo e suas continuações, Kafka, Sexo Mentiras e Videotape e Che, é um caso raro de diretor que preserva o espírito independente mesmo quando se aventura em produções para os grandes estúdios de Hollywood. E com A Toda Prova, o cara ainda mostra que sabe como comandar um filme de ação bem bacana, sem agredir muito a inteligência de ninguém. A ex-lutadora de MMA Gina Carano, alçada aqui a protagonista, já está escalada para uma versão feminina de Os Mercenários. Merecia mesmo era ser contratada para Expendables 3. A moça, na falta de atributos dramáticos, sabe muito bem como arrebentar em cena. Nem que seja o resto do elenco. Nota 7,5
206 - Moonrise Kingdom (Moonrise Kingdom): talvez o mais emocional de todos os filmes de Wes Anderson, um olhar sobre a transição entre a infância e a vida adulta que ironicamente mostra-se também a sua obra mais madura. Um espetáculo sensorial, agridoce e esperto. E cada um dos planos horizontais que ele sabe como ninguém moldar através de sua lente (e que já viraram a sua principal assinatura) poderiam tranqüilamente ser exibidos em qualquer galeria de arte. Sem dúvida alguma, um dos principais filmes de 2012. Nota 9
207 - Os Candidatos (The Campaign): uma rara comédia que escancara os podres por trás das campanhas políticas americanas, ancorada pela ótima dupla de protagonistas (Ferrell e Galifianakis). As melhores piadas, entretanto, estão todas no trailer. O diretor Jay Roach já havia abordado a mesma temática, mas com registro dramático, nos telefilmes Recontagem e Virada No Jogo. Nota 7
208 - Ladrões (Takers, 2010): tentativa frustrada de fazer um filme de assalto para a geração hipster. Comete um erro primário: ao colocar como protagonistas um bando de assaltantes, o projeto deveria no mínimo contar com um elenco carismático, que garantisse empatia automática com o público. Em vez disso, alça ao primeiro plano os rappers Chris Brown e T. I. e os canastrões Paul Walker e Hayden Christensen. Nessas condições, não dá para não torcer para os coadjuvantes do lado de cá da lei. Nota 4,5
 209 - 007 - Operação Skyfall (Skyfall): no ano em que completa 50 bem vividos anos no cinema, o agente James Bond é presenteado com um filmaço que faz jus à impecável folha corrida de serviços muito bem prestados por 007 tanto à Coroa Britânica quanto à Sétima Arte.  O vilão é sensacional (Javier Bardem, impecável num papel que, nas mãos erradas, cairia facilmente na caricatura), a trama é acertadamente enxuta e sem excessos mirabolantes e há uma expressiva quantidade de referências aos filmes anteriores de Bond para satisfazer até o mais exigente dos fãs, da abertura estilosa que remonta à 007 Contra Octopussy (1983) à música-tema cantada por Adele e que evoca os temas imortalizados por Shirley Bassett, do Aston Martin original de 007 Contra O Satânico Dr. No (1962) à divertida alusão à cena dos crocodilos em Com 007 Viva E Deixe Morrer (1973). Grande parte da excelência de Operação Skyfall vem da escolha acertada de Sam Mendes para comandar a aventura. É da lente de Mendes que saem as melhores idéias visuais do filme, como a luta de 007 com um oponente em Xangai, filmada através do contraste entre as sombras dos atores e o reflexo das luzes da metrópole. Baita filme. Nota 8,5
210 - O Despertar de Uma Paixão (The Painted Veil, 2006): um romance que enche os olhos não só com a fotografia espetacular e as ótimas atuações de Naomi Watts e Edward Norton, mas também por apresentar uma história de amor cuja estrutura é curiosamente desenvolvida às avessas. Nota 8
211 - Passe Livre (Hall Pass, 2011): não chega a ser um dos melhores filmes dos irmãos Farrely (Débi & Lóide, Quem Vai Ficar Com Mary?), mas certamente é um retorno ao tipo de humor escrachado e escatológico que eles sabem fazer como ninguém. Dá prá rir bastante. Nota 7
212 - Anti-Heróis (The Son Of No One, 2011): o roteirista/diretor Dito Montiel tinha surpreendido com o seu filme de estréia, o interessante Santos E Demônios (A Guide To Recognizing Your Saints). Nessa segunda incursão, o novato afunda na própria pretensão em uma trama que vai do nada a lugar nenhum. Mesmo aparentemente tentando realizar um trabalho inovador, Montiel acaba entregando o jogo ao escolher alguns dos piores clichês do cinema para mover o seu já frágil roteiro. E quando tudo se resolve em um bizarro tiroteio no terraço de um prédio, a máscara artê do diretor já tinha ido ao chão há muito tempo. Nota 5
213 - Ilha das Almas Perdidas (De fortabte sjæles ø, 2007): fantasia infanto-juvenil dinamarquesa que presta homenagem explícita aos filmes protagonizados por pré-adolescentes nos anos 80. Apesar do roteiro derrapar na excessiva carga de inocência e ausência completa de malícia, é uma aventura divertida e cheia de referências ao cinema de Spielberg, Zemeckis, Dante e cia. Nota 6,5
214 - Frankenweenie (Frankenweenie, em 3D): irresistível homenagem aos monstros clássicos da Universal dos filmes das décadas de 30 e 40. O primeiro curta de Tim Burton virou um longa lindamente fotografado em preto e branco que faz a alegria de qualquer cinéfilo com a quantidade absurda de referências aos clássicos do terror que embalaram a infância do cineasta. A melhor animação de 2012 até aqui. Te perdôo por Sombras da Noite, Tim. Voltamos a ser melhores amigos. Nota 9
215 - O Gato Preto (The Black Cat, 1934): apesar da alusão ao conto de Edgar Alan Poe ser uma baita picaretagem do estúdio e do longa não ter envelhecido tão bem, é um prazer ver dois monstros clássicos do cinema, Bela Lugosi (Drácula) e Boris Karloff (Frankenstein, A Múmia), dividirem a tela pela primeira vez. Nota 7,5 
216 - Elefante Branco (Elefante Blanco): o diretor Pablo Trapero (Leonera, Abutres) radicaliza ainda mais o seu cinema de denúncia social em mais um petardo no estômago do espectador, dessa vez abordando a complexa (e familiar para os brasileiros) teia de corrupção e poderes paralelos que envolve uma favela da grande Buenos Aires. Os planos-sequência que monta nas ruelas da vila são um espetáculo a parte. Assim como a bela (mais uma) composição de Ricardo Darín, que empresta um olhar cansado ao seu personagem que contrasta perfeitamente com a energia do outro protagonista, interpretado pelo francês Jérémie Renier (dos filmes dos irmãos Dardenne). Nota 8
217 - Argo (Argo): que virada na carreira deu esse Ben Affleck. De ator pavoroso a diretor de mão cheia, o cara realiza aqui o seu melhor trabalho (e isso depois dos ótimos Medo da Verdade e Atração Perigosa). Tenso do início ao fim, Affleck é hábil ao desenvolver duas narrativas paralelas e um elenco gigantesco sem em momento algum perder o ritmo ou o foco. Tem sido apontado com uma das apostas certas no próximo Oscar e, quer saber, tem todas as ferramentas para pisar firme no tapete vermelho. Nota 9
218 - O Príncipe Encantado (The Prince And The Showgirl, 1957): comédia romântica cujas filmagens foram o argumento do recente Sete Dias Com Marilyn. O normalmente sisudo Laurence Olivier, aqui acumulando as funções de diretor e galã, surpreende ao demonstrar que possuía uma veia cômica e tanto. Mas é Marilyn quem ofusca todo o resto do elenco a cada  aparição. Como já disse uma vez um grande diretor, a lente da câmera amava a srta. Monroe. Aqui têm-se mais uma prova definitiva disso. Nota 7
219 - Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close): ao contrário da pegada esperta que imprimira a Billy Elliott, aqui Stephen Daldry confunde emoção com sentimentalismo barato. Nada ajuda ter um pirralho insuportável como personagem principal. Ironicamente, o filme consegue dizer a que veio somente quando está em cena o silencioso personagem de Max Von Sydow. No saldo final, um draminha redondinho e apelativo, nada mais. Nota 6
220 - 13 Assassinos (Jûsan-nin no shikaku): o mestre da violência no Oriente, Takashi Miike, prepara calmamente todas as peças no tabuleiro para um arrasador e brutal embate final que dura quase 50 minutos e mostra definitivamente com quantas katanas se faz um bom filme de samurai. Grande filme. Nota 8
221 -  A Partida (Okuribitu, 2008): vencedor do Oscar 2009 de Filme Estrangeiro (não merecia ganhar do muito superior Entre Os Muros da Escola), é uma tocante e bem-humorada reflexão sobre a morte enquanto rito de passagem. Nota 7,5
222 - Operação Yakuza (The Yakuza, 1974): policial bem bom dirigido pelo saudoso Sydney Pollack (Tootsie, A Firma) e com roteiro co-escrito por Robert Towne (Chinatown) e Paul Schrader (Taxi Driver, Touro Indomável). O ritmo lento serve para maximizar o impacto das explosões de violência. Outro destaque é a interpretação de Robert Mitchum, notório alcoólatra, que aos 56 anos aparentava 70 e entrega uma performance canastríssima que oscila entre o Tarcísio Meiriano e uma versão "Dean Martin de ressaca". Vale muito a pena ser (re)descoberto. Nota 7,5
223 - Sherrybaby (Sherrybaby, 2006): pequeno filme independente que entrega uma surpreendente atuação de Maggie Gyllenhall como uma ex-drogada em liberdade condicional. As tentativas da personagem em retomar a vida e estabelecer laços afetivos com a filha pequena rendem alguns bons momentos, principalmente porque o filme, rodado fora do sistema dos grandes estúdios, não é obrigado a incluir no roteiro a obrigatória redenção padronizada por Hollywood. Surpreende a participação de Danny Trejo, o Machete em pessoa, em um papel sensível que é totalmente diferente daqueles que viraram sua marca registrada. Trejo está tão à vontade no papel que, quando o cara pega a irmã do Jake e isso não é tratado como piada pelo roteiro, a situação nem soa tão bizarra. Maggie foi indicada ao Globo de Ouro por sua atuação. Nota 7
224 -  400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado (2010): a premissa (abordar a gênese do Comando Vermelho, quando os presos comuns conviveram com os presos políticos na penitenciária de Ilha Grande - RJ, no início da década de 70) já rendeu um belo trabalho nas mãos de Lúcia Murat (Quase Dois Irmãos, de 2004). Aqui, no entanto, o estreante em longas Caco Souza parece indeciso entre estabelecer um sentido sócio-político à criação da maior organização criminosa brasileira ou simplesmente tentar fazer um filme de assalto glamouroso na esteira de Onze Homens e Um Segredo, ancorado em um elenco irregular e um roteiro ruim de doer. Como era de se esperar, essa bipolaridade sabota qualquer chance do filme decolar. A montagem histriônica acompanha essa indecisão do roteiro, com indas e vindas no tempo que não servem para a narrativa e só tornam o filme confuso. Aliás, o recurso é abandonado sem mais nem menos na metade do filme, como se até os realizadores percebessem a besteira que estavam fazendo. Nota 4,5
225 - Caça Às Bruxas (Season Of The Witch, 2011): às vezes parece que vai decolar, mas aí aparece em cena algum efeito digital tosco ou alguma piadinha de policial B mal inserida numa trama situada em meio às Cruzadas. Nesse momento, lembramos que é mais um abacaxi co-protagonizado por Nicolas Cage e sua peruquinha da vez. E o clímax deprimente deixa isso devidamente esclarecido. Lamentável. Nota 4
226 - 22 Balas (L´Immortel, 2010): Jean Reno já viveu momentos melhores na telona, mas o diretor e ator Richard Berry compensa um pouco as pontas soltas do roteiro com uma pegada toda estilosa. Bom passatempo. Nota 7  
227 - Patrulha da Montanha (Kekexili, 2004): belo filme chinês que funciona tanto como libelo ecológico sem qualquer pieguice quanto como uma jornada visual pelas assombrosas paisagens do Tibet. Nota 8 
228 - Selvagens (Savages): Oliver Stone tenta fazer a sua habitual crônica política de crítica ao capitalismo, mas só consegue mesmo fazer um eficiente filme policial. Bem eficiente, diga-se. E Benicio Del Toro merecia uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante. Nota 7
229 - Valente (Brave): pela primeira vez, a Pixar arrisca pisar no território dos contos-de-fada típicos da Disney, só que em uma narrativa assumidamente feminista, em que sequer há espaço para príncipes ou qualquer personagem masculino de destaque. O que enche os olhos e fica na memória é a excelência da Pixar em criar imagens tão realistas que parecem surreais. E o cabelo cacheado e cor de fogo da princesa Merida é a maior delas. Nota 7 
230 - Salve Geral (2009): é uma vergonha que tenha sido indicado pelo Brasil para disputar uma vaga na seleção do Oscar 2010. O roteiro não se decide entre retratar os motivos que levaram à ação do PCC que parou São Paulo no Dia das Mães de 2006 ou narrar uma história fictícia rocambolesca envolvendo uma professora de piano (Andrea Beltrão, a única coisa boa do filme) que se envolve com o crime organizado depois que o filho é preso. As cenas de ação gritam de tão pavorosas e o elenco, formado por atores que em sua maioria vieram do teatro, declama frases de efeito classe Z como quem encena Shakespeare para uma platéia de surdo-mudos. A culpa toda é da direção primária de Sérgio Rezende (Zuzu Angel, Guerra de Canudos, Lamarca), um dos maiores enganadores do cinema nacional. Nota 3 
231 - Cosmópolis (Cosmopolis): uma experiência interessante, quase toda passada dentro da limusine que conduz Pattinson por uma Nova York recriada no Canadá. A alegoria do protagonista e sua jornada de um dia como uma representação do mundo moderno é até original, mas falha ao conseguir se comunicar melhor justamente com o público que naturalmente seria o seu alvo principal. Vale a experiência, mas o problema é que o roteiro de Cronenberg (e provavelmente o livro de Don DeLillo que lhe serviu como base) acha-se mais inteligente e esperto do que realmente é. Em tempo: o vampiro guampudo e fosforescente está muito bem em um papel que tira proveito justamente da sua dificuldade em expressar emoções. Mas é Paul Giamatti, que entra aos 44 do segundo tempo, quem rouba o filme para si. Nota 7
232 - Diário Proibido (Diario de Una Ninfómana, 2008): a premissa tinha potencial para tornar o filme uma espécie de versão feminina de Shame. O resultado não vai além daqueles telefilmes da Emanuelle que povoam o Cine Privê da Band. Em tempos de adoradoras de 50 Tons de Cinza, deve achar o seu público. Que não me inclui. Nota 4,5
233 - A Caça (Jagten, em 9ª edição da Seleção de Filmes): a cada novo trabalho, o dinamarquês Thomas Vinterberg (Festa de Família, Querida Wendy) se firma como um dos mais interessantes cineastas em atividade. Aqui, entrega um arrasador (e revoltante) conto moral sobre a histeria social e o perigo dos pré-julgamentos tão comuns no mundo moderno. Mads Mikkelsen (Cassino Royale), agraciado com o prêmio de melhor atuação no Festival de Cannes 2012, está não menos do que fantástico. Filmão. Nota 9
234 - Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, em 9ª edição da Seleção de Filmes): o veterano William Friedkin (O Exorcista, Operação França), depois de passar décadas em um semi-ostracismo, parece ter reencontrado o rumo de sua carreira adaptando para as telas peças do ator e dramaturgo Tracy Letts, primeiro no ótimo Possuídos (Bug, de 2006) e agora nesse Killer Joe. Não é para qualquer público. É um noir sujo e perverso, que constrói lentamente a descida ao inferno de seus personagens até um clímax histérico e violentíssimo, que envolve tiros, uma lata de conservas e uma coxinha de frango frito... Matthew McConaughey está muito bem como o psicopata do título, mas a clásula contratual que o obriga a tirar a camisa em todo e qualquer filme, não importa o contexto, aparentemente continua lá. Nota 7,5
235 - O Código (Safe): o roteiro não tem lógica alguma, mas o diretor Boaz Yakin  (Um Preço Além dos Rubis, Duelo de Titãs) tem boa mão para orquestrar as cenas de ação, o que faz com que Statham fique bem confortável em seu habitat natural. Nota 6,5
236 - Jogos do Crime (The Samaritan): é triste constatar que, além de Nicolas Cage e Robert De Niro, Samuel L. Jackson também esteja com o nome no Serasa e precise colocar seu nome em podreiras como essa aqui. Fujam. Para bem longe. Nota 1
237 - No (No, em 9ª edição da Seleção de Filmes): não vi ainda o longa anterior do diretor Pablo Larraín, o premiado Tony Manero, de 2008.  A julgar por esse sensacional No, quero assistir o mais rápido possível. Relato enviezado sobre a ditadura de Pinochet sob a ótica dos publicitários responsáveis pela campanha do "Não" no plebiscito de 1988, é uma pequena jóia do cinema moderno. E uma viagem surpreendente ao final da década de 80, cumprida à risca pela direção de arte retrô e pelo incrível trabalho de fotografia, toda ela pensada e executada como se o filme fosse rodado naquelas primeiras filmadoras VHS. A imagem desfocada e de cores pálidas pode até incomodar os mais jovens, mas é o tipo de ousadia estética que faz todo o sentido em um filme que consegue ser político sem cair na armadilha do discurso panfletário. Essencial para quem trabalha com publicidade, mas fundamental para quem tem um mínimo de consciência histórica e política. Nota 9
238 - Sequestro (2009): dirigido pelo estreante Jorge W. Atalla, é um documentário relevante e muito bem produzido sobre uma das chagas urbanas da sociedade brasileira. O painel histórico utilizado para esclarecer a gênese desse tipo de crime é bem sacado, mas são os casos reais acompanhados em tempo real pela Divisão Anti-Sequestros paulistana que dão força a um dos mais eletrizantes filmes brasileiros dos últimos anos. Grande filme. Nota 8,5
239 - O Colecionador de Corpos (The Collector, 2009): bem bom esse suspense dirigido por um dos caras por trás da franquia Jogos Mortais. Visualmente inventivo e com algumas surpresas, só peca por um final excessivamente desesperado em iniciar uma nova série de filmes. Que, não por acaso, começa nessa semana com o lançamento nos cinemas americanos da continuação, The Collection. Nota 7  
240 - The Bay (The Bay): mais um filme da interminável série das produções feitas a partir de filmagens encontradas, os famigerados falsos documentários, aqui surpreendentemente dirigido pelo veterano Barry Levinson (Bom Dia Vietnã, O Enigma da Pirâmide e vencedor do Oscar por Rain Man). Prejudicado pelo elenco tenebroso, é um terror ecológico que nunca chega a cumprir o que promete. Levinson literalmente está muito longe de sua praia. Nota 5
241 - Os Infratores (Lawless): o bom roteiro é do músico Nick Cave, que já trabalhara com o diretor John Hillcoat (de A Estrada) no excelente faroeste A Proposta, disponível em dvd/bluray. É um filme honesto de gângster ambientado no período da Lei Seca, que enche os olhos com uma fotografia excelente e uma trilha memorável (também de Cave). Quem se destaca é o vilão afetado interpretado com empenho por Guy Pearce. Pena que Gary Oldman seja tão mal aproveitado, tanto que some do filme sem mais nem menos. Nota 7
242 - Grande Demais Para Quebrar (Too Big To Fail, 2011): telefilme da HBO que forma em conjunto com Margin Call - O Dia Antes do Fim um panorama elucidativo sobre as causas e efeitos por trás da crise econômica de 2008. Aqui, o foco é na batalha do Secretário de Finanças americano para tentar em vão controlar o caos iminente. Grande atuação de William Hurt em meio ao incrível elenco (Paul Giamatti, James Woods, Topher Grace, Cynthia Nixon, Bill Pullman, Billy Crudup, Tony Shaloub, Matthew Modine, entre tantos outros). Os diálogos são sustentados por uma retórica de difícil compreensão para quem não é formado em Economia, mas a boa mão de Curtis Hanson (Los Angeles - Cidade Proibida) na direção consegue transformar o discurso árido em um thriller cheio de tensão. Vale a pena descobrir. Nota 7,5
243 - Liv & Ingmar - Uma História de Amor (Liv & Ingmar): nada que foi lançado nesse ano tem o efeito emocional devastador desse documentário sobre a relação entre Liv Ullmann e Ingmar Bergman. Filmado de uma forma arrebatadora pelo indiano Dheeraj Akolkar em meio a recortes dos filmes de Bergman e a um comovente relato de Liv Ullmann, é o melhor e maior filme romântico de 2012. Mais do que uma lição de Cinema, uma lição de Humanidade. Chorei três vezes durante a projeção, o que, no meu caso, não é nem de longe pouca coisa. Lindo demais. Nota 9
244 - Uma Manhã Gloriosa (Morning Glory, 2010): considerando a média das comédias românticas produzidas em série por Hollywood, é um dos exemplares mais toleráveis, graças à boa direção de Roger Michell (Um Lugar Chamado Notting Hill) e à queridinha da Rachel McAdams. Também ajuda a presença de Harrison Ford, que sempre é divertido fazendo o papel de velho ranzinza. Nota 6,5
 245 - 100 Escovadas Antes de Dormir (Melissa P., 2005): baseado no best-seller homônimo, é uma sucessão de equívocos e falta de talento que nem a presença de Geraldine Chaplin, a filha de Charlie, fazendo pela enésima vez o papel de avó, consegue salvar. Quer ser sexy, mas é tão quadrado e moralista que o passa de um 50 Tons de Cinza para a geração Crepúsculo. E isso é tão ruim quanto soa. Nota 2
246 - Deite Comigo (Lie With Me, 2005): uma colagem de cenas de sexo que quase flerta com o pornográfico. Infelizmente, a má escolha do protagonista (o indefensável feioso Eric Balfour, de Skyline - A Invasão) e o roteiro sofrível dão saudades das historinhas que servem de liga nos filmes pornô. Nota 5
247 - O Impossível (The Impossible): o espanhol J. A. Bayona (do sensacional  O Orfanato) comprova em seu segundo trabalho que é um dos caras que melhor possui domínio narrativo no cinema comercial contemporâneo. O seu disaster movie tem um primeiro ato irretocável, que joga o público no meio da tragédia com cenas a movidas a sangue e suor que chegam a tornar a experiência genuinamente sufocante. No segundo ato, o diretor sabiamente investe em duas narrativas paralelas que desenvolvem-se de maneira orgânica e tornam a platéia cúmplice de seus personagens. Os pequenos problemas estão no terceiro ato, que abraça um clímax clímax piegas (inevitável, considerando a história real que serviu de base à produção) e deixa a trilha sonora ultrapassar sar o limite do bom gosto. Mas, justiça seja feita, mesmo quando a história pende perigosamente para o sentimentalismo, a mão segura de Bayona nos manipula de forma certeira as emoções. E o elenco está homogeneamente impecável, com destaque para Naomi Watts, que abraça o papel mais difícil da produção. Um belo segundo filme de um diretor a ser acompanhado. Nota 7,5
248 - O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, em 3D): mesmo com uma história inegavelmente menos interessante que a de O Senhor dos Anéis, é um bom retorno à Terra-Média e ao climão de aventura e magia que Peter Jackson tão bem adaptou da obra de Tolkien. Apesar da picaretagem de estender desnecessariamente por três filmes o que caberia tranquilamente em uma só produção, O Hobbit nunca cansa e suas quase três horas passam voando dentro da sala de cinema. Divertido e movimentado, deixa excelentes expectativas para os próximos dois natais. E é o melhor uso do 3D desde A Invenção de Hugo Cabret. Nota 8,5
249 - A Negociação (Arbitrage): filminho pequeno, mas honesto, que tem na tensão crescente da trama e na boa atuação de Richard Gere seus principais trunfos. O canastrão preferido da platéia da terceira idade, apesar de manter os seus cacoetes de sempre (as piscadas frenéticas quando está confuso, o tremelique quando está nervoso), está bem convincente como o protagonista à beira de um ataque de nervos. Gere ganhou uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Ator Dramático. Mereceu. Nota 7
250 - Os Penetras: a prova definitiva de que sou um dinossauro totalmente deslocado do público moderno do cinema. Apesar do evidente esforço do bom diretor Andrucha Waddington (perceptível nos bons enquadramentos e na boa edição), é uma comédia que, se por um lado se esquiva em cair no pastelão fuleiro padrão das produções da Globo Filmes, por outro não tem graça alguma. Os principais empecilhos para o humor são o roteiro sem inspiração e a péssima escolha do elenco, que desperdiça talentos em papéis inadequados (Luís Gustavo e, principalmente, Adnet, totalmente perdido em cena) e não coloca uma só boa piada na boca de seus personagens. Sterblich apenas repete o seu César Polvilho do Pânico televisivo. O incrível é que o público gargalhava à minha volta no cinema. Sinceramente, não consigo compreender. Deve ser o famigerado abismo geracional. Nota 4
251 - Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter): apesar da premissa divertida, leva-se a sério demais, o que é veneno para esse tipo de produção. o. ção. SpoPiora o fato do diretor russo Timur Bekmambetov não ter controle algum sobre as cenas de ação, que se apresentam exageradas e sem qualquer tensão. E os efeitos especiais são os piores vistos em uma superprodução em muitos anos, com destaque para a pavorosa cena da briga sobre a tropa de cavalos, digna de um estagiário de T.I. Nota 4

252 - Tiro Na Cabeça (Headshot, 2011): escolhido como candidato da Tailândia a pleitear uma vaga no próximo Oscar, o que felizmente não deu em nada. Parte de uma proposição curiosa (um matador de aluguel que leva um tiro na cabeça e passa a enxergar tudo de cabeça para baixo) que poderia ser trabalhada tanto de forma estética como psicológica pelo filme. A produção, entretanto, falha miseravelmente ao deixar de explorar minimamente a condição que curiosamente lhe dá título. O que sobra é um filmeco policial com enredo derivativo e chato prá mais de metro. Nota 3

253 - Viúvas (Viudas): dirigido pelo mesmo Marcos Carnevale de Elsa & Fred, mistura drama e comédia de forma meio desengonçada, mas ainda assim, mesmo sem ser nenhum Almodóvar, é um belo melodrama, impulsionado pelo ótimo elenco. Nota 7

254 - Soldado Universal 4 - Juízo Final (Universal Soldier: Day Of Reckoning): tem uma trama confusa e que no final das contas não faz o menor sentido. E é uma sacanagem pegar o mocinho Van Damme e transformar em vilão sem mais nem menos. Pelo menos, a pancadaria e a ultraviolência funcionam que é uma maravilha. Nota 5,5 

255 - Verônica (2008): achei muito legal essa tentativa brazuca de fazer um filme de gênero (no caso, um thriller) com pegada nacional. É verdade que essa espécie de versão de Gloria, do John Cassavetes, é cheia de clichês típicos do cinema americano, o que soa meio estranho à primeira vista. Por outro lado, a interação entre Andrea Beltrão e o piá Matheus de Sá (ambos ótimos) é um espetáculo, muito em virtude dos diálogos improvisados pelos próprios atores. Cogitaram que virasse seriado na Globo e, quer saber, acho uma ótima idéia. Boa e honesta diversão. Nota 7,5


 
 
  
 

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