O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Ditador


Imoral, Mas Não Engorda
 

(texto originalmente publicado em Revista Rua Grande)



Vivemos tempos perigosos. Há um neo-moralismo vigente em nossa sociedade (não me refiro só à brasileira, mas à terráquea) que insiste em pautar certos assuntos como tabus à prova de qualquer discussão ou teorização. Se tais assuntos forem utilizados para fazer humor, bom, daí é certo o levante de indignados pela blasfêmia do herege incauto que se aventurou a extrair uma piada da pauta proibida. A única diferença para a Idade Média é que hoje em dia esses defensores da tal suposta moral não bradam tochas, mas ainda há tempo para chegarmos lá.
Se na televisão o nome do momento em termos de humor politicamente incorreto é o de Louis C. K. (do seriado autobiográfico Louie, que só passa na TV a cabo), no cinema o figurão é Sacha Baron Cohen, um inglês grandalhão que vira e mexe pinta nas telas fazendo graça em cima dos preconceitos arraigados do povo americano.
Em O Ditador (The Dictator), ele abandona a estrutura dos falsos documentários que lhe deram fama em Hollywood com Borat e Brüno e volta à comédia de ficção, como já fizera em Ali G Indahouse - O Filme, lançado diretamente em DVD no Brasil.
Novamente dirigido por Larry Charles (um dos criadores do seriado Seinfeld, o que nunca é um mau sinal), o filme é uma impressionante sucessão de gags que derrubam toda e qualquer barreira moralmente aceitável, pelo menos sob a ótica desse neo-moralismo corrente.
No filme, o ditador Almirante-general Aladeen, regente da República de Wadiya parte em visita à ONU em Nova York para explicar seus testes nucleares. Só que acaba seqüestrado e substituído por um sósia. Barbeado e sem seu visual característico, ele assiste ao seu tio Tamir (Sir Ben Kingsley, divertindo-se ao topar fazer coisas inimagináveis para quem já ganhou um Oscar por Gandhi) assumir o poder. Com a ajuda de uma feminista vegetariana do Brooklyn (Anna Faris, de Todo Mundo Em Pânico), por quem se apaixona, Aladeen tenta reconquistar seu trono.
Utilizando essa trama básica, Sacha Baron Cohen dinamita todos os tabus existentes, empilhando piada em cima de piada sobre o 11 de Setembro, os governos islâmicos, o homossexualismo, o racismo, o anti-semitismo e, principalmente, o conservadorismo americano. Não sobra pedra sobre pedra nas tiradas de O Ditador, que podem soar muito ofensivas para os desavisados, mas revelam um artista que sabe como ninguém unir o humor dos comediantes de stand-up com uma visão inteligente e perspicaz do comportamento por vezes imbecil de nós todos.
Toda a escatologia e as tiradas incômodas do roteiro servem de aperitivo para a verdadeira carta de intenções do filme: o discurso final do ditador na sede da ONU, quando Sacha não deixa qualquer dúvida sobre a sua posição política dentro do cenário global. E isso tudo arrancando risadas do público.
A trinca ZAZ (Jerry Zucker, Jim Abrahams e David Zucker, de Apertem Os Cintos... O Piloto Sumiu e Corra Que A Polícia Vem Aí) ficaria orgulhosa com a quantidade de piadas disparadas a cada fotograma, algumas escondidas no próprio cenário. Aos mais sensíveis, que fiquem em casa e curtam o Zorra Total. Para quem embarcar no humor ácido de Cohen, é disparado a melhor comédia de 2012 até agora.

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