SHUFFLE

Todo alcóolatra sonha em ser Bukowski. Já os abstêmios, ah, estes apenas sonham. Todo pecador alimenta a fé no perdão de um cordeiro. Todos temem adeus. A voz do povo é a voz dos teus. Os tentáculos da culpa são como goma a enrijecer o espírito. A vingança é um prato que se come cru. Quero a minha ao ponto. O perdão, este pode vir temporão. Como o paraíso, mal acabado em seus castelos feitos de algodão doce. O cinema é movimento. Já a vida é estática, estanque, ex-tétrica, como ondas do rádio perdidas numa freqüência que nem o Bombril consegue dar conta. A esperança é a única que morde. Qual encosto, que come a alma e deixa de lado a carne para os abutres. A vida é fullgás, já cantou uma outrora gata marítima. Reset. Começamos de novo. Recomeçarás do zero. Retomareis o caminho. As teses não são privilégios acadêmicos, são sentenças de vida. Revigorar. Revitalizar. Reciclar. Recriar. O lar é o nosso refúgio. A última barricada que nos separa da guerra do cotidiano. Somos veteranos sem pátria, sem farda, sem listras na lapela. O amor é tudo de que precisamos ou Lennon estava errado? A garganta arranha. É a fumaça acumulada. Não do cigarro, mas do fogo que insiste em me queimar. Somos fogueiras de São João sem bandeirinhas nem roupa xadrez. Vestimos um uniforme que não nos pertence. Viajar é fácil. O brabo é conseguir o visto. Amanhã é outro dia. Mas hoje também não foi?