O Cão
O cão fitava o oceano, pensando nos ossos que se esconderiam sob o azul turquesa das águas além mar. Foi quando um comichão súbito lhe abduziu de seu torpor filosófico canino. Tentou sacudir-se, mimetizando involuntariamente o movimento das marés. Resignou-se, mas a resignação durou pouco mais de alguns segundos na contagem singular do tempo dos cães. Mordeu a própria pele, como se estivesse devorando um fêmur. Assim, como surgiu, a coceira cessou num sopro. O cão continuou a fitar o mar, mirando o que para ele era o infinito.
A Pulga
A pulga pousou num mar de pelos que mais parecia uma floresta de jequitibás. Ficou ali, aninhado pelo calor e pelo afago macio dos fios, sentindo tocar-lhe a face de pulga a suave brisa que soprava. Foi quando o cão começou a mordiscar a própria carne, arrancando a pulga num tsunami de dentes e saliva e arremessando-a num salto ao infinito. Até esse momento, a pulga jurava que estava vivendo em Xanadu.
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