O Homer Vitruviano

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Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


domingo, 13 de junho de 2010

Ivan, Uma Pena de Morte.


Conheci Ivanzinho na noite leopoldense muitos e muitos anos atrás. De cara, me chamou a atenção a alegria contagiante do sujeito, o que os franceses definiriam apropriadamente como joie de vivre. O mesmo comportamento expansivo que ironicamente lhe antecipou o encontro com a morte.

Algum tempo depois, fui apresentado para o dr. Ivan Guardatti Vieira, professor renomado da Unisinos, que me ensinou grande parte do que sei até hoje sobre Direito Penal. Cursei a cadeira com um amigo que na época atuava como estagiário de Ivan. Éramos dois carcamanos alojados no fundão da sala. Ivan nos chamava em seqüência durante a leitura da chamada, enfatizando a pronúncia dos nomes como se nos alertasse que não teríamos moleza só porque éramos conhecidos de fora da classe. Conheci durante aquele semestre um profissional dedicado, empolgado com o ofício da advocacia, que transmitia conhecimento de maneira fácil, ou pelo menos assim nos parecia, tamanha a desenvoltura do sujeito ao ministrar aquelas aulas. Talvez por sermos conhecidos de outros carnavais, fomos talvez até mais exigidos por “Ivan, o Terrível”, como era carinhosamente chamado pelos alunos. Mas ambos conseguimos passar. E todos permanecemos amigos.

No ano passado, ao encontrar Ivanzinho, já um colega de profissão, em um evento social, ele, ao me apresentar a uma turma de amigos, vociferou: “Este aqui é o Pedrazza. Ele é dos nossos”. Pois bem: esta facilidade com que aproximava pessoas diferentes sob a sua órbita era a faceta mais conhecida de Ivan Guardatti Vieira, covardemente assassinado na semana passada. E ele, sim, era dos meus.

Durante o velório de Ivan, enquanto a incredulidade e o choque estampavam os rostos das centenas de pessoas que lá compareceram para prestar as últimas homenagens, muito foi dito e repetido, movido pelo ódio que nos tomava a todos. O clamor por justiça era psicografado pelos presentes. Em quase todos os círculos, ouvia-se loas à pena de morte, conspirava-se planos mirabolantes de vingança contra os canalhas homicidas, bradava-se pelo fim desta guerra civil não declarada em que vivemos.

Eram centenas de desamparados reunidos para chorar sobre um caixão que não representava quem Ivan foi na realidade, mas sim espelhava a nossa própria sociedade. Uma sociedade que não agüenta mais impunidade, que não tolera mais barbáries desta espécie.

É chegado o momento de nós, gaúchos, colorados, gremistas, aimoresistas, advogados, médicos, jornalistas, vovós com cabelo de algodão doce que participem de alguma agremiação, todos, façamos barulho. E um barulho ensurdecedor. É urgente a reforma ampla e minuciosa de nossas leis penais. É necessário o comprometimento de nossos governantes e legisladores. O anseio premente de nossa sociedade não pode mais ser calado.

Há que se fazer Justiça. Não só para Ivanzinho. Para todos nós.

Não desejo a pena de morte para os animais que mataram Ivan de forma estúpida e gratuita. Desejo-lhes, isto sim, uma pena de vida. Uma pena que possam cumprir pelo tempo que for preciso para que nossas cicatrizes parem de doer tanto.

Até que isto ocorra, a morte de Ivan terá sido, para a sociedade brasileira, apenas uma pena.

3 comentários:

  1. É isso aí. E já vale pelo que anda sendo dito por aí por uma certa catrefa: é um absurdo condenar o comportamento de quem busca a felicidade à sua forma, como ele fez, sem jamais prejudicar ninguém.

    O que deve ser condenado é 1) o sangue frio dos assassinos que nos caçam por aí, reflexo do que estamos nos tornando, 2) o sangue gelado de uma sociedade que ignora a todos e que não liga pra que rumo a ignorância, a pobreza e a ganância levam e 3)o gelo absoluto, abaixo de zero, de um Estado totalmente ausente.

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  3. Prezado Luiz Fernando,
    Conhecia o "Ivanzinho" dos corredores da Unisinos, da noite leopoldense, presença certa no nosso saudoso Expresso 356...Do pouco que pude conviver com ele, não pude deixar de ser contagiada com aquela alegria de viver, com aquele sentimento de adolescência incurável quando com os amigos, e de responsabilidade e seriedade notável na sua profissão.
    Espero que a consternação de todos nós, especialmente dos amigos, alunos, e conhecidos do Ivan, no que eu me incluo, possam servir como um canalizador de esforços por mudanças efetivas na nossa legislação penal e, principalmente, na nossa resignação com a premiação de criminosos cada vez mais perversos com penas brandas e ineficazes.
    Ao que parece, o projeto de lei que deve ser votado esta semana no Senado é mais uma manobra garantista de “homenagem” ao crime. Enquanto o Poder Executivo não dá uma solução para o problema de superlotação dos presídios, o Legislativo utiliza-se de placebos como penas alternativas que, supostamente, devem diminuir a impunidade.

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