O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Copa que me pariu



Sou um dinossauro que sobreviveu à Era Glacial. Por acaso, sorte ou destino, ainda me mantenho consideravelmente vivo. É o que às vezes me parece, enfim.


Lembro da primeira Copa do Mundo que eu assisti. Não a primeira que eu vi. A primeira que eu guardei na memória. Foi a do desastre de 1982. Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e aqueles malditos pênaltis. Ops, os pênaltis foram na Copa seguinte, a de 1986, mas a derrota para a Itália em 82 está misturada na minha cabeça com o primeiro fracasso que presenciei diante da TV. A desilusão, para uma criança, às vezes vem em dobro.


Eu ainda era um pirralho de 8 anos, o que significa que muito provavelmente ainda tinha chances de ir para o Céu ou, no máximo, pagar um pedágio no Purgatório. A vida ainda não tinha me atropelado. Como atropelou aquela Seleção, por muitos ainda considerada a mais injustiçada de todos os tempos. Assisti no Yázigi, com o meu amigo Niko e outros coleguinhas e professores cujos rostos e nomes o tempo encarregou-se de embaralhar na minha memória.


Aquela raquetada que o Zico errou no Mundial de 86 causou, além do sentimento de desamparo e tristeza que contagiou a todos os tupiniquins, um insuspeito interesse pelo esporte nacional em mim. Algo que eu já experimentava timidamente nas idas ao Beira-Rio com pai e mãe, mas que foi amplificado pela derrota de proporções globais.


Isto porque eu nunca tive o futebol nos pés. Sempre fui um dos últimos a serem escolhidos na hora da formação dos timinhos no colégio. Era o goleiro ou o beque da turma. Invariavelmente, era a pessoa em campo que mais se aproximava a um lutador de jiu-jitsu. A mira era nas canelas, no joelho e na virilha do adversário, nesta ordem. Falhando a pontaria, acertava a bola. Mais ou menos um Felipe Melo, só que eu nunca rebaixei um time para a Segundona, como ele ajudou a fazer com o Grêmio.


Mas a paixão pelo soccer, de preferência jogado de uniforme vermelho e branco, permaneceu comigo. Se eu pudesse mudar a História, Zico ainda teria errado aquele pênalti em 86.


Digo tudo isso porque tempo de Copa é sempre tempo de festa, de esperança, de sonho reinventado. As conquistas de 94 e 2002 permanecem na minha memória tanto quanto os insucessos de 82, 86, 90, 98 e 06. Se a vida fosse justa, os anos passariam de quatro em quatro, como os Mundiais.


E guardarei para sempre na lembrança a Copa de 2010, o Mundial das vuvuzelas, do Maradona sem pescoço, das zebras africanas na selva e das zebras sul-americanas no campo.


Perdemos. Como tantas outras vezes. Não adianta agora dizer “eu falei”, apontando para o Dunga como se todos nós, Nostradamus de Havaianas, tivéssemos certeza do futuro inglório que nos aguardava.

É fato que uma Seleção que conta com nomes como Felipe Melo, Michel Bastos, Julio Baptista e Daniel Alves não inspira confiança. Mas tínhamos Robinho, Luís Fabiano, Nilmar e Kaká (tínhamos mesmo?). Contávamos com a melhor zaga do mundo. Com o melhor goleiro do mundo. Com a melhor torcida do mundo. Esperança, no caso dos brasileiros, já vem com o pacote, junto com duas pilhas palito e um manual do usuário.


Prova de que este último mês foi atípico é que o Mundial ainda não acabou e já estamos todos discutindo a escalação de 2014, do técnico ao massagista.


Não damos bola para alemães, holandeses, uruguaios ou espanhóis. Não nos sacia a fome a vitória ou a derrota. O que nos interessa é o circo. O picadeiro. Nas arquibancadas, somos uma multidão de canarinhos rindo ou chorando sobre pacotes de pipoca, mas que, no final do espetáculo, sempre gritará “bravo” para os trapezistas.


Como diria o Vanucci bêbado, o Brasil é logo ali.


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