O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Desculpa aí!


Poucos filmes merecem uma nota 10 logo depois da primeira sessão. É como se a atribuição de uma nota DEZ prescindisse de certo distanciamento da obra, certo tempo de maturação das impressões sobre o filme e seus significados.

Nessa semana, assim do nada, tasquei-lhe uma nota máxima prum filme que acabei de ver (e com atraso, aliás). A película em questão é Santiago, documentário dirigido por João Moreira Salles.

A história é mais ou menos assim: em 1993, então um aprendiz de cineasta com 30 anos, o herdeiro do banqueiro e ex-ministro Walther Moreira Salles gravou cenas do mordomo argentino da mansão onde cresceu, na Gávea.

A idéia era retratar a casa desabitada, com imagens poéticas dos cômodos vazios, intercaladas com entrevistas com o ex-mordomo, Santiago Badariotti Merlo, que tinha na época 80 anos e morava em um apartamentinho minúsculo no Rio.

O documentário não vingou, Santiago veio a morrer dois anos mais tarde e João seguiu a carreira, tornando-se um dos mais festejados documentaristas brasileiros de todos os tempos, graças a títulos como Nelson Freire, Notícias de Uma Guerra Particular e Entreatos.

Em 2007, João encontrou sem querer as imagens filmadas uma década e meia antes e resolveu revisitar o material. O resultado é um dos trabalhos mais surpreendentes na história do documentário nacional. Melhor: na história do cinema brasileiro, documentário ou ficção, não importa.

João conseguiu, com Santiago (o filme), além de retratar um personagem inacreditável e surpreendentemente fascinante, produzir um devastador pedido de desculpas público. Um perdão que, ironicamente (e tragicamente), nunca será dado pelo ofendido.

Ao escancarar os bastidores das gravações da década de 90, o cineasta criou um making of radical, que derruba toda e qualquer ilusão sobre a espontaneidade daqueles registros. E é com este mea culpa que João, ou Joãozinho, como é afetuosamente chamado por Santiago, pede desculpas pela falta de sensibilidade com que conduziu as entrevistas com o ex-mordomo.

O diretor não deixa para menos e expõe inclusive a barreira social invisível que o mantinha afastado de uma pessoa que, por mais que tivesse participado de sua vida, seria encarado eternamente como um subalterno da família rica.

É um relato duro, mas terno. Uma expiação que somente a maturidade pode provocar.

Se depender de mim, Joãozinho está perdoado.

Um comentário:

  1. É um documentário muito triste mas muito bonito ao mesmo tempo.Fico feliz que o Moreira Salles conseguiu entender ao longo dos anos o que tinha acontecido naquela época.Por mim ele também está desculpado.:-)

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