O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Adolescências


Tem um filme aí nos cinemas chamado sugestivamente de As Melhores Coisas do Mundo. Se houvesse um compêndio que reunisse todos os títulos de filmes já criados, eis um nomezinho que estaria no top 1.000, com certeza (no outro lado, O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra teria que aparecer também, mas isso é outra história).

Para muito além de uma boa jogada de marketing, o título de certa forma faz jus ao filme. Ou seria o filme que faz jus ao nome que lhe deram? Boa pergunta.

O fato é que se trata de um grande pequeno filme nacional, desses que não tem o nome de um ator ou atriz global brigando por espaço com o título no cartaz. Até tem no elenco gente da tevê (Denise Fraga, Caio Blat, Paulo Vilhena, todos em papéis secundários e todos ótimos, aliás). Peraí: eu acabei de escrever numa mesma frase o nome “Paulo Vilhena” e “ótimo”???? Cruz credo. Já aviso aos navegantes que esse texto não pode mesmo ser levado muito a sério...

Mas adelante: mesmo com essas figurinhas aí fazendo participações especiais, quem comanda o filme é um elenco adolescente desses que dá gosto de ver na tela. Pessoinhas que falam, gesticulam e agem como adolescentes mesmo e não como trintões se passando por teenagers, o que a minha geração teve que engolir durante os 20 anos em que o Matthew Broderick e o Michael J. Fox foram escalados para reinterpretar versões do Ferris Bueller e do Marty McFly nas telas.

As Melhores Coisas do Mundo, por isso e por muito mais, é um filmaço, desses que, num mundo ideal, seria sucesso estrondoso de bilheteria, matéria obrigatória de discussão e análise por parte de docentes, decentes e indecentes escolares por aí afora. Mas quem sou eu para sugerir ingenuamente que um filme nacional que não seja dirigido pelo Daniel Filho arraste mais do que meia dúzia de bundas gordas, a minha incluída, até o ambiente climatizado, metalizado e higienizado de um shópis cents?

O filme de Laís Bodanzki (guarde esse nome num papel de pão, enrole, acenda um baseado feito com erva mate, ervilha moída e tempero verde e fume com moderação) me lembrou de certas coisas que fazia tempo que não ocupavam espaço no meu vacuum cerebelus. A primeira delas, e a mais chocante, é que eu não posso mais ser considerado, pelo menos do ponto de vista civil, um adolescente. Eu sei, eu sei, essa minha cara de guri, as mãos cabeludas e as espinhas na cara me fazem parecer um figurante da Malhação, mas o fato é que, se John Hughes ressuscitasse e embestasse de fazer um filme de high school no Brasil, provavelmente me escalaria como pai de algum aluno e não mais como o cabeludo que atrapalhava a aula lá no fundo da sala.

Nostálgico que sou (ah, Farrah Fawcett... ahhh, Maria Zilda... ops, nem tanto), isto para mim é mais um motivo que me levará, algum dia, a fazer terapia. Isso aí: vou imprimir esse post e arquivar na pasta que um dia vou enviar para o protótipo de Fróide kamikaze que topar me analisar.

E o filme me fez chorar (não literalmente, taipas, mas de uma forma imagética e linguisticamente figurada, uia) a falta da minha adolescência, daquela época em que eu e os meus ímpares éramos todos kings of the world antes do DiCaprio sonhar em embarcar no Bateau Mouche. Uma fase da vida em que as descobertas vêm aos quilos, diariamente, incessantemente, sem perdoar a mãe do árbitro ou o pai da debutante. Um tempo bom.

As Melhores Coisas do Mundo faz gente como eu, que não cresceu muito verticalmente nem envelheceu tanto mentalmente, sentir de novo o friozinho na barriga da primeira ficada, do trago que se bebia escondido dos pais, dos cigarros com gosto de chaminé, da invenção (pelo menos é o que nos parecia) do roquenrou... e dos amigos, principalmente deles. Tantos que ficaram pelos caminhos que eu não saberia nem por onde começar a contagem de corpos.

Sinto falta da sensação aquela de pertencer a uma turma, um grupo, uma matilha. Na fase adulta, tudo é miniaturizado, até mesmo o convívio social. Seremos nós uma experiência científica dos chineses?

E é bom constatar que, apesar dos avanços tecnológicos que transformaram as relações entre os adolescentes em algo tão diferente da minha geração, que não sonhava com mp3, câmera digital, internet, blog ou Mulher Samambaia, a essência permanece a mesma.

Pode parecer paradoxal (e é), mas por mais diferentes que possam ter se transformado os adolescentes de hoje em comparação com os da minha geração, lá na Era das Trevas, mais e mais eles se equivalem à nossa imagem refletida num espelho caridoso, que só retoca um pouco a cor e o volume dos nossos cabelos, tira as gordurinhas e aplica de leve um botox na nossa fuça. Somos nós ali, só que anteontem. E eles são a gente, depois de amanhã.

Há alguma coisa, lá no núcleo, no âmago, no fundinho mesmo, que desafia qualquer conflito geracional. O fato de um dos clímax de As Melhores Coisas do Mundo envolver um adolescente que tenta aprender a tocar uma música que não é algum hit emo nem um funk carioca, muito menos um sertanejo-pagode-dance universitário, mas sim Something, dos bons e velhos Beatles, não é por acaso.

As melhores coisas que existem no mundo realmente a gente desfrutou naquela época, como propaga o título do filme da Bodanzki. Mas uma dessas coisas que fazem a vida valer mais do que um domingo de Sol na beira da praia é justamente podermos lembrar com carinho de tudo o que aconteceu. E isso a gente carrega conosco até que o alemão aquele, o Alzheimer, nos surrupie. Até lá, mesmo o canastra do Paulo Vilhena é capaz de nos ajudar a olhar prá trás.

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