O Homer Vitruviano

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Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

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segunda-feira, 15 de março de 2010

Simplesmente Velha Guarda


(comentário originalmente publicado na Revista Rua Grande, reeditado, refeito, revisto e retratado pelo próprio autor)


A diretora Nancy Meyers construiu uma carreira em Hollywood escrevendo e comandando comédias românticas. Sabe como é, ninguém é perfeito.

O fato é que são dela os bons (bonzinhos, vá lá) Do Que As Mulheres Gostam e Alguém Tem Que Ceder, o fraco O Amor Não Tira Férias, além do roteiro da engraçada refilmagem de O Pai da Noiva, com o Steve Martin bancando o palhaço, entre outras produções, todas elas (mas todas mesmo) telegrafadas para o público que se diverte com a mera aparição em cena do bocão da Julia Roberts ou dos cabelos grisalhos de Richard Gere. Ou com a vozinha estridente da Reese Whiterspoon. Com o desvio de septo da Sandra Bullock. Com o sotaque fleumático do Hugh Grant. E vou parar por aí porque já tá me dando náuseas.

O diferencial na obra de Nancy Meyers é o olhar lançado sobre personagens mais maduros do que aqueles normalmente retratados em produções do gênero. Em seus filmes, os personagens principais são, em geral, quarentões, cinqüentões ou mesmo sessentões. Além da diferença de idade em relação aos protagonistas padronizados pelas comédias românticas (jovens atores na faixa dos 20 ou, no máximo, 30 anos), os personagens de Meyers normalmente não agem como meros adolescentes bobinhos, um cacoete irritante e recorrente neste subgênero cinematográfico.

Esse viés mais adulto é a característica mais aparente nos filmes da diretora e está mais evidente do que nunca em Simplesmente Complicado (It´s Complicated, EUA, 2009), comédia divertida com uma trinca de atores acima de quase qualquer suspeita: Meryl Streep (interpretando pela segunda vez no ano uma personagem com paixão pela culinária, depois do também legal Julie & Julia), Alec Baldwin (30 quilos mais gordo do que na época em que ainda era escalado como galã ao lado da ex-esposa, Kim Basinger) e Steve Martin (em rara atuação mais séria, com poucos espaços para o humor físico que lhe deu fama). No elenco de coadjuvantes, ainda há espaço para John Krasinski, o Jim Halpert do seriado The Office americano, repetir as caretas e olhares para a câmera que o notabilizaram na tevê.

A trama: Streep, que aparentemente conseguiria sair-se bem até no papel de uma samambaia de plástico, interpreta Jane, uma mãe de família que conseguiu manter uma relação até certo ponto amigável com o seu ex-marido, Jake (Baldwin, impagável assumindo a própria canastrice), uma década após o divórcio. A convivência amistosa entre os dois acaba se tornando um romance depois de uma bebedeira. Acontece que Jake, no momento, está casado com uma mulher bem mais nova, o que torna Jane a amante de seu antigo marido. É neste momento complicado que aparece em cena Adam (um contido e eficaz Steve Martin), um arquiteto que balança ainda mais o coração da veterana.

A partir daí, é a aquela velha e batida rotina da comédia de erros intercalada com momentos de melodrama e romance, fórmula que parece nunca afastar-se do gosto do público, que lota os cinemas ano após ano para ver as mesmas histórias xaroposas estreladas pela Jennifer Aniston ou outra atriz gostosona genérica.

O bom de Simplesmente Complicado é que a sua metade cômica realmente é engraçada, ao passo que a faceta romântica quase não exagera na sacarina, o que torna a experiência agradável até para diabéticos. O filme, aliás, só atinge o fundo do poço uma única vez, na constrangedora cena final entre a mãe e seus três filhos, um mico que poderia ter sido cortado na sala de montagem.

Os méritos de Simplesmente Complicado, entretanto, não podem ser atribuídos a Nancy Meyers, que como diretora é no máximo regular e como roteirista nunca ultrapassa o meramente bom. O que faz diferença é o elenco. Com um trio de protagonistas em completa sintonia (prova disso é que Baldwin e Martin foram convidados para apresentarem juntos a cerimônia do Oscar deste ano), fica muito difícil errar. Ainda mais quando se tem a postos um Baldwin sem pudores em tirar sarro com a própria forma física e uma dobradinha Streep/Martin sem medo de cair no ridículo ao fazer graça fumando um baseado. É notável ainda que Streep, além de atriz respeitada pela crítica, conseguiu emendar 4 sucessos de bilheteria nos últimos anos (O Diabo Veste Prada, Mamma Mia!, Julie & Julia e este aqui), tornando-se, aos 60 anos, uma queridinha também do público e dos estúdios.

É o mesmo prato feito de sempre. Só que desta vez, aromatizado com um vinho envelhecido e de boa safra.

Um comentário:

  1. Concordo em gênero,número e degrau contigo.Uma comédia adocicada sem exageros.Eu como uma boa menina,obviously que gostei. :-)
    ..E a tua última frase me lembrou de uma coisa:VINO!!BENTO!!!VINOCAP!!!
    Besos ATAI
    Dona Gru

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