Sonhando Acordado

Tenho sonhado muito nos últimos tempos. E sonhado com coisas boas. Loucas, totalmente alucinadas, como se David Lynch roteirizasse um filme do Baz Luhrmann. Pelo menos, assim seriam se eu tivesse algum poder de decisão sobre o que ocorre durante o blecaute. Pois o problema é que a lembrança sobre o que acabei de sonhar dura no máximo cinco minutos. No máximo.

E isto desde sempre. Seja sonho ou pesadelo, só sobrevive na minha memória por alguns minutos depois que acordo e depois some. Vai para algum lugar muito distante de mim. Não guardo qualquer imagem do que vivi, do que senti enquanto sonhava. Um vazio absoluto. Um nada sem começo nem fim. Um silêncio barulhento e incômodo.

Só fica a sensação. Nos últimos tempos, a sensação de que o sonho foi bom. Por quê foi bom? Não faço a mínima idéia. Mas sinto falta de lembrar do que vivi no mundo de Morpheu.

Preciso anotar num papel logo que acordo alguma descrição, algum dado que me faça puxar lá do fundo da memória as imagens, as sensações. Mas isto soaria como trapaça. E correria o risco de me decepcionar. De me dar conta que o sonho não tinha sido, ao fim e ao cabo, tão bom assim. E isto me desolaria.

No fundo, no fundo, a saudade que tenho é dos sonhos que sequer sonhei.