O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carta Para A Tás-Mânia




A caixa de entrada do meu e-mail sempre foi um território fértil e exótico. Talvez reflexo de uma insuspeita capacidade em atrair os mais diversos espécimes da fauna urbana para perto de mim, convivem pacificamente no meu endereço eletrônico mensagens profissionais sérias, inúmeras bobagens, putaria da mais grosseira, anúncios promocionais tentando me vender eletrodomésticos, assinaturas de revistas, aspiradores de pó, viagens para a Turquia, enfim, uma Babel virtual.

Não sei desde quando, mas passei a receber de uns anos para cá mensagens de duas facções políticas distintas: uma de direita, chapa branca até a medula, dessas que defendem a família, a tradição, a propriedade e o Gugu Liberato, e outra de esquerda, com boininha vermelha, camiseta do Che Guevara e charuto no canto da boca.

Pessoas que não se conhecem, mas que se fossem apresentadas por mim num barzinho qualquer, perigava virassem amigos de infância, trocassem confidências e juras de amor, até que o assunto da mesa mudasse abruptamente das curvas da Mônica Bellucci para a barba do Lula, e aí a discussão encresparia e o resto da turma precisaria chamar urgente outra rodada para arrefecer os ânimos.

O fato é que o remetente (que pode ser “a” remetente, não cabe a mim revelar aqui) da Direita (ou seria Esquerda, já que a Esquerda, teoricamente, está no poder há oito anos e, portanto, representa o Poder?) me mandou esses dias um e-mail com o título “Texto do Marcelo Tas Sobre o PT”. Na maioria das vezes, costumo nem abrir e-mails que me parecem propaganda política. Neste caso, a mensagem ficou ali, me fitando durante o que pareceram horas... O que catzu o Tás, jornalista e apresentador que eu sempre admirei (o Ernesto Varela !!!), estaria fazendo ali, dando pitaco sobre o PT? Pô, o Professor Tibúrcio do Castelo Rá Tim Bum em pessoa, logo ele, que comanda o que eu considero o melhor programa da televisão aberta hoje em dia, seria ele maluco a ponto de confessar preferências partidárias?

A curiosidade me fez clicar o dito e-mail e o que eu li me espantou. Aliás, não só me espantou, como de início me revoltou. No finalzinho da mensagem, dizia que o texto teria sido copiado do site do Tás. Fui fuçar na internet pra ver se era verdade. Procurei, procurei e não é que achei? Foi postado em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Taí o link pro textículo:

http://marcelotas.blog.uol.com.br/arch2005-07-16_2005-07-31.html

Respirei fundo e li de novo. Com cuidado. Devagar. Respirei fundo mais uma vez. Contive o meu primeiro impulso, aquele de ressuscitar o bolchevique que vive dentro de meu pequeno corpo e crucificar o careca, taxá-lo de pelego do FHC, morceguinho do Conde Serra, viuvinha do ACM e outros quetais.

Analisando friamente a “Carta Aos Petistas”, confesso que dou certa razão pro cara. Mas não deixo de criticá-lo também.

É foda mesmo ouvir o trololó de certa ala do PT pregando uma exclusiva representatividade da classe trabalhadora como se fossem eles os únicos baluartes da honestidade e da dignidade dentro da política tupiniquim. Heloooooo, motherfuckers!!!! The Mensalation, remember????

Porém, discordo frontalmente da visão Tasmânica em relação ao Presidente Lula. O cara já foi operário, embora por pouco tempo, é verdade. Inclusive perdeu um dedo, blábláblá. Depois, se consolidou como dirigente sindical. E fez carreira no Sindicato, pombas! O talento do sapo barbudo é justamente esse: o de aglutinar pessoas, administrar vaidades, negociar. E isto é também chamado trabalho, caso o Tás não saiba. Mais: isto, sim, legitima o cara a presidir um País como o Brasil! E, a meu ver, está dando mais certo do que quando tínhamos um acadêmico da Sorbonne no timão do navio. O passado profissional de Lula, no caso, não faz realmente a menor diferença.

Tenho que concordar, entretanto, quando Tás ataca outros tantos petistas, aqueles que nunca trabalharam na vida, nunca tiveram que acordar cedo, ir prá casa tarde, suar a camisa no Sol, agüentar desaforo de patrão, etc. Nada contra. Eu, por exemplo, adoraria levar uma vida inteirinha na mais completa vagabundagem, ócio total mesmo! O problema é quando esses mesmos sujeitos aparecem dentro de ternos engomados na televisão conclamando uma suposta “massa de trabalhadores” de quem seriam os legítimos representantes. Conversa fiada!

O PT não é, nunca foi, nem nunca será um partido tão diferente de todos os outros que infestam o cenário político nacional. O discurso aquele de que a honestidade de seus afiliados justificaria a vagabundagem ostentada em seus currículos profissionais já caiu por terra há muito tempo, juntamente com os cabelos de Marcos Valério e a vergonha da cara do José Genoíno. Mas não dá para generalizar, pecadilho que Tás, talvez (e muito provavelmente, aliás), movido pela revolta com os escândalos de 2005, tenha cometido em seu texto.

O Partido dos Trabalhadores, apesar de não ser propriamente “dos trabalhadores”, muito menos povoado exclusivamente “por trabalhadores” propriamente ditos, ainda tem em seu quadro afiliados que destacam-se em meio à sujeira generalizada de nossa paisagem política. E isto em nada tem a ver com o curriculum vitae de cada um deles. Mas os outros partidos também não os têm? Acho que sim. Não voto por partido, mas sim em pessoas. Acredito que não se pode reduzir a discussão política a um mero Gre-nal, onde as partes gritam palavras de ordem, fazem beicinho e proclamam-se, cada qual em sua tribo, os vencedores.

Essa história de encher a boca, contar vantagem e taxar todo o resto como se fossem a escória me parece papo de evangélico ou torcedor do Corinthians.

E o grande mal que impede um debate político amplo, sério e maduro neste País é justamente o fervor quase religioso com que levantam-se bandeiras e escavam-se trincheiras de lado a lado, delimitando de maneira maniqueísta e infantil um território que teria obrigatoriamente de ser comum. E esta é a farsa não só da Esquerda e de seus socialistas de butique, que enchem a boca em falar dos ideais sociais como se fossem a reencarnação de Marx, mas também de uma Direita retrógrada que se nega a admitir os próprios erros que cometeu durante os intermináveis anos em que esquentou a cadeira do Poder.

Para a Esquerda, menos papo furado e mais ação. Para a Direita, menos arrogância e mais humildade. Para todos, muito mais autocrítica.

E para o Tás, minha admiração. Concordar e discordar são duas palavrinhas que fazem parte do meu vocabulário. Assim como respeitar quem pensa diferente de mim. E que a minha caixa de entrada continue cheia.

Um comentário:

  1. Quando li a carta confesso que também fiquei espantada.Já escutava sobre a tendência de direita do Tás e concordo contigo.Acho que num momento de indignação ele desabafou mas acho que pegou um pouco pesado.Infelizmente ser sindicalista é sinônimo de "vagabundo" sejam eles de direita ou esquerda.O sindicato acredito eu, sempre foi e sempre será um trampolim de trabalho fácil para muitos que almejam um "carguinho de confiança" ou uma vaguinha no governo.Infelizmente.
    Tenho a sensação às vezes que não existe nem direita nem esquerda mais neste país.Está tudo junto misturado(como diz o glorioso Latino).É uma pena.

    Mi amor,I loved este post.Parabéns!!!
    Bjo ATAI Gru

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