Essa segunda parte lista os filmes 101 a 200 vistos no ano, todos eles com micro-resenhas e uma nota. O numeral atribuído a cada nota não deve ser visto como uma sentença. Em primeiro lugar, não se pode condensar toda a avaliação sobre uma obra em um mero numeral, o que seria de um reducionismo pedestre. A nota serve, no caso dos comentários breves, como forma de ilustrar o que não coube no texto. Neste ano, utilizei os seguintes parâmetros para quantificar as notas:
- notas 10: só para filmes que passaram no teste do tempo, ou seja, somente para filmes que permanecem excelentes mesmo após mais de 20 anos de seu lançamento;
- de 8 a 9: filmes ótimos;
- de 6 a 7,5: filmes bons;
- 5 ou 5,5: filmes razoáveis;
- abaixo de 5: filmes com variáveis graus de ruindade.
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101 -
102 - Flores do Oriente (The Flowers Of War): cobre um período histórico (a invasão da China pelo Japão na década de 30, às vésperas da Segunda Guerra Mundial) pouco conhecido do grande público, mas já retratado em produções excelentes como Desejo E Perigo (Lust, Caution), de Ang Lee. As cenas de ação são espetaculares e o cineasta Zhang Yimou emprega bem o seu conhecido apuro visual. Pena que pese a mão no sentimentalismo do meio para o final. Nota 7
103 - O Dia Em Que A Terra Parou (The Day The Earth Stood Still, 2008): refilmagem desnecessária do clássico de 1951, com efeitos digitais duvidosos e um roteiro que nunca chega a empolgar. A cereja do bolo é a participação bizarra de Keanu Reeves, que faz do alienígena Klaatu uma figura insossa que passa as duas horas de projeção com cara de sopa de aspargos. O original de mais de 60 anos atrás consegue ser mais atual. Nota 4
* 104 - Os Goonies (The Goonies, 1985): incrível como o senso de humor e aventura não envelheceu nada em 27 anos de vida. Um tesouro para qualquer criança. Nota 10
105 - Adorável Pivellina (La Pivellina): Apesar de carecer de um arco dramático definido e de um melhor desenvolvimento dos personagens, a pivellina do título (garotinha em italiano) é tão irresistível que o filme encontra o seu rumo mesmo sem ter um bem definido. Nota 7
106 - Anderson Silva - Como Água (Like Water): bem bom esse documentário gringo que cobre os meses que antecederam a luta em que Spider defendeu o cinturão mundial pelo quarto ano consecutivo contra o americano Chael Sonnen em 2010. Funciona mesmo para quem não é fã de UFC e não faz questão de entender se Minotauro e Minotouro são ou não a mesma pessoa. Como Sonnen é realmente um babaca, fica ainda mais fácil torcer por Anderson em um filme que, se não registrasse acontecimentos reais, poderia ser criticado pelo excesso de clichês de filmes de esporte da trama. Nota 7
107 - Iron Sky (2011): carinha tem uma idéia divertida, provavelmente durante um porre homérico ("e se os nazistas tivessem se refugiado no lado escuro da Lua após a Segunda Guerra Mundial e voltassem à Terra nos dias de hoje para instaurar o Quarto Reich?"), consegue financiar o projeto com doações de fãs via internet, o que garante efeitos especiais bacanas e um design de produção sensacional, que emula a estética steam punk, mas daí não sabe desenvolver o filme com um roteiro minimamente aceitável, que oscila entre a desastrada crítica política e o humor sem graça de uma má sitcom. Merecia ir para uma Auschwitz marciana por desperdiçar a oportunidade. Nota 4,5
108 - Branca de Neve e o Caçador (Snow White And The Huntsman): a idéia de apresentar uma versão dark para o conto dos irmãos Grimm não é original (já foi usada, por exemplo, em um telefilme bem decente de 1997, Floresta Negra, com Sigourney Weaver como a Madastra) e o filme tem lá os seus problemas de ritmo e um mau desenvolvimento do triângulo amoroso que propõe. E é imperdoável a escalação de um timaço de atores ingleses como os digitalmente reduzidos anões e mal aproveitá-los em cena. Por outro lado, é uma produção inegavelmente divertida, com uma vilã consistente (Charlize Theron, que parece estar se divertindo como nunca em cena) e um visual irretocável. Convenhamos, é o que todo blockbuster deveria entregar, mas poucos conseguem hoje em dia. Nota 7,5
* 109 - Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, 1979): dos cenários do recentemente falecido H. R. Giger até o inacreditável climaço de tensão que permeia do começo ao fim, é ainda um dos melhores filmes que eu já vi na vida. Nota 10
110 - A Casa dos Sonhos (Dream House, 2011): depois do estúdio reeditar o longa antes da estréia, o ótimo diretor Jim Sheridan (Meu Pé Esquerdo, Em Nome do Pai, Terra dos Sonhos) e os atores Daniel Craig e Rachel Weisz negaram-se a divulgar o filme por considerarem o resultado ruim demais. E eu, bocó que sou, sabendo disso, ainda insisti em conferir esse suspense besta e previsível. Mau sapão. Nota 3
111 - Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança (Ghost Rider : Spirit of Vengeance): não há nada tão ruim que Hollywood não consiga piorar numa seqüência. Nicolas Cage deve ter feito um pacto com o capeta, mas, na hora de entregar a alma, entregou a sua carreira. Vade retrum. Nota 2
* 112 - Aliens, O Resgate (Aliens, 1986): James Cameron mudou as regras do jogo para fazer o que sabe melhor, ou seja, um espetáculo de ação e pirotecnia sem espaço para o público respirar. Nota 9,5
113 - Um Crime Nada Perfeito (The Maiden Heist, 2009): filminho de assalto com um roteiro tão bobo que acaba desperdiçando a trinca azeitada de protagonistas (Morgan Freeman, Christopher Walken e William H. Macy, todos em plena forma). Nota 5
114 - Prometheus (Prometheus, em 3D): é preciso controlar bastante a expectativa decorrente da excelente campanha de marketing para conseguir apreciar não a obra-prima que poderia ser, mas sim a ficção bem acima da média que resultou. Michael Fassbender mais uma vez rouba a cena, enquanto Charlize Theron patina no papel de antagonista, o que é surpreendente considerando a boa atuação que entregou como a Bruxa Má de Branca De Neve E O Caçador. O visual, com forte influência de H. R. Giger, é não menos do que espetacular. Nota 8
115 -
119 -
121 - Lua de Papel (Paper Moon, 1973): demorei trinta e tantos anos para descobrir essa pérola vinda dos anos 70, um filme para guardar em uma gaveta especial da memória de qualquer cinéfilo. Ryan O'Neill e Tatum O'Neill (pai e filha na vida real) viajam pelo centro-oeste americano aplicando golpes na população durante a Grande Depressão em um dos melhores registros registros de relação pai-filho que o cinema ianque já produziu. Tatum é até hoje a pessoa mais jovem a ganhar um Oscar (aos 10 anos, como Atriz Coadjuvante!!!!). A fotografia em lindo P&B de László Kovács é nunca menos do que espetacular. Um clássico em todos os sentidos, divertido e tocante. Ninguém deveria demorar tanto tempo para descobri-lo. Sem contra-indicação alguma. Nota 10
122 - Tá Rindo do Que? (Funny People, 2009): lançado diretamente nas locadoras no Brasil, é uma insólita reunião entre o bom Judd Apatow (de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos) e o horrendo Adam Sandler, seu amigo de longa data. Na verdade, é a segunda parceria da dupla, considerando que Apatow já tinha roteirizado Zohan - O Agente Bom de Corte para Sandler um ano antes (é, eu sei...). É uma comédia dramática bacana, mas que peca por ser excessivamente (e desprositadamente) longa, com suas quase duas horas e meia de duração, o que torna o terceiro ato arrastado demais. De qualquer forma, usando como perspectiva o currículo de bobagens insuportáveis protagonizadas por Sandler, o filme não tem como não se destacar. E o astro de porcarias como Little Nicky e Cada Um Tem A Gêmea Que Merece até não está tão detestável quanto de costume. Agora, verdade seja dita, quem se sai melhor e garante as melhores risadas são os coadjuvantes Seth Rogen, Jonah Hill e, principalmente, Eric Bana, que aproveita muito bem a quase ponta que lhe reservaram. Nota 6,5
123 - O Abrigo (Take Shelter, 2011): excelente produção independente americana que foi direto prás locadoras no Brasil. Tenso e original, faz da ambigüidade do roteiro uma de suas maiores virtudes. Michael Shannon e Jessica Chastain estão nada menos do que perfeitos em seus papéis. Grande candidato a tornar-se campeão de discussões em mesas de bar. Um filme que merece ser descoberto. Vencedor do Prêmio da Semana da Crítica em Cannes. Nota 8
124 - Anjos da Noite: O Despertar (Underworld: Awakening): quarto filme de uma das franquias mais insossas que já poluíram as telas de cinema na última década, é uma produção que faz jus à mediocridade dos três filmes anteriores, com seu roteiro pedestre e cenas de ação que imitam na cara-dura Matrix. O único ponto positivo é que os vampiros não brilham como fadas. Nota 4
125 - Para Roma, Com Amor (To Rome With Love): não é dos Woody Allen mais inspirados, com suas esquetes de desenvolvimento irregular, mas é um de seus trabalhos mais assumidamente divertidos em anos. A macarronada não chegou a ficar "al dente", mas o molho ao sugo que o diretor adicionou certamente deixou o prato saboroso. Nota 8
126 - Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (Sherlock Holmes: A Game Of Shadows): a visão que Hollywood lança sobre o personagem de Sir Arthur Conan Doyle continua muito distante do espírito dos livros. Fidelidade ao material original se encontra na modernização do detetive na excelente série Sherlock, da BBC, uma adaptação muito superior. E Robert Downey Jr. não ajuda muito ao interpretar Holmes como uma versão com sotaque bizarro e sem cavanhaque de seu Tony Stark dos filmes da Marvel. Por outro lado, o bom Watson de Jude Law, o excelente vilão Moriarty (Jared Harris, impecável) e os maneirismos bacanas do diretor Guy Ritchie garantem um produto final vertiginoso, divertido e muito honesto. Elementar, meu caro Ritchie. Nota 7,5
127 - O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider Man, em 3D): a primeira hora é um pé no saco, uma ladainha desnecessária que apenas repete de forma piorada a origem do herói, algo que Sam Raimi fez muito melhor há apenas 10 anos. A idéia de tecer uma teia de acontecimentos e coincidências que vincule todos os personagens que orbitam a vida de Peter Parker (especialmente o suposto segredo que envolveria a morte de seus pais) é uma bobagem chata que só é parcialmente amenizada pelo bom trabalho do elenco, principalmente da dupla central (Andrew Garfield e Emma Stone, ambos muito bem). O diretor Mark Webb acerta nas cenas de flerte e romance entre Parker e Stacy, repetindo a mesma pegada de seu filme de estréia, o excelente 500 Dias Com Ela. Do meio para o final, o filme engrena e o saldo final é positivo. Um bom entretenimento, mas que de espetacular só tem o título. Nota 6,5
128 - Red Tails (Red Tails): produzido pela Lucasfilm, o que garante os sempre excelentes efeitos especiais da ILM para conceber cenas de ação de encher os olhos, o filme desperdiça uma interessante premissa (o primeiro grupo de pilotos negros da história do exército dos EUA e sua participação decisiva na Segunda Guerra Mundial) em uma interminável sucessão de clichês batidos e situações tão piegas que são capazes de fazer o Pearl Harbor do Michael Bay parecer Bastardos Inglórios. Deveriam caçar o brevê do diretor Anthony Hemingway antes que ele cause um desastre que não vitime apenas a Sétima Arte. Nota 3
129 - Hunger (Hunger, 2008): antes de presentearem os cinéfilos com um dos melhores filmes desse ano (Shame), Michael Fassbender e o diretor egresso das artes plásticas Steve McQueen haviam feito esse petardo sobre a greve de fome dos prisioneiros do IRA numa prisão da Irlanda do Norte em 1981. De revirar o estômago. Baita filme, baita ator, baita diretor. Nota 8
130 - Os Cavaleiros do Apocalipse (Horsemen, 2009): tentativas de produzir o Seven da vez se reproduzem como gremlins nos cinemas a cada ano. Só que David Fincher só existe um. Os produtores desse filmeco aqui devem ter aprendido a lição da pior forma possível. Nota 3
131 - The Divide (The Divide, 2011): o diretor francês Xavier Gens, de Fronteira(s) e Hitman - Assassino 47, usa e abusa de violência extrema, mas não consegue disfarçar a inverossimilhança do roteiro, que padece de personagens estereotipados que irritam tanto que afastam qualquer chance de envolvimento do espectador. O sumido Michael Biehn (O Exterminador do Futuro) reaparece aqui esbanjando canastrice. Nota 4,5
132 - Tudo Pela Vitória (Friday Night Lights, 2004): Billy Bob Thornton está ótimo como treinador dos Panthers no filme que deu origem ao seriado de sucesso Friday Night Lights. As estranhas regras do futebol americano parecem grego para os brasileiros, mas o vigor com que o diretor Peter Berg (anos antes de cometer Battleship) filma as partidas dão à produção um ritmo impecável. Bela surpresa tardia. Nota 7,5
133 - Intrusos (Intruders, 2011): terror bem feitinho do diretor de Extermínio 2 (Juan Carlos Fresnadillo). A força está no elenco reunido: Clive Owen, Carice Van Houten (A Espiã, Game Of Thrones), Daniel Brühl (de Adeus, Lênin e Bastardos Inglórios, mandando muito bem no espanhol) e até uma ponta de Héctor Alterio (O Filho da Noiva). Infelizmente, peca no quesito mais importante para um filme de terror, que é o de meter algum medo em quem assiste. Passatempo razoável. Nota 6
134 - 72 Horas (The Next Three Days, 2010): a má notícia é que é um remake que apenas repete, com leves variações, o enredo do filme original, no caso, o francês Tudo Por Ela (Pour Elle, de 2008). A boa nova é que o diretor Paul Haggis, de Crash - No Limite e No Vale das Sombras, imprime um ritmo eletrizante à produção, elemento que encontra um bem-vindo suporte nas ótimas atuações de todo o elenco. Nota 7
135 - Na Estrada (On The Road): Walter Salles decidiu imprimir em sua adaptação do clássico de Jack Kerouac o mesmo ritmo dissonante e assimétrico do jazz escutado pelos personagens entre goles de whisky e baforadas de nicotina. A opção torna o filme de difícil assimilação para uma parte do público (muitos acabaram saindo da sala na sessão em que vi). Para os que embarcarem nessa viagem, o que fica é um belo tributo não só ao livro, mas também aos próprios expoentes da geração beat (William S. Burroughs, Allen Ginsberg, Neal Cassady e o próprio Kerouac). Salles mostra aos gringos um pouco do talento que os brasileiros já conhecem (ou deveriam conhecer) há anos. Nota 8
* 136 - Batman Begins (Batman Begins, 2005): um filme que cresce a cada nova revisão. Apesar das cenas de ação soarem confusas e sem o impacto esperado, é uma reinvenção do personagem original e que busca nas HQs justamente o que elas tem de melhor. Nota 8,5
* 137 - Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008): roteiro inteligente, um vilão insuperável e um desenvolvimento que lembra a perfeição do mecanismo de um relógio suíço. Um filme de entretenimento perfeito e que provavelmente vai resistir ao teste do tempo para sempre. Nota 9,5
138 - Vingança Sem Limites (The Girl From The Naked Eye): curiosa mistura de film noir com artes marciais e literatura pulp, tem como ponto forte as boas coreografias de luta, que valeram à produção um prêmio especial no Fantaspoa 2012. Não é um filme bom, mas os realizadores aparentemente não têm consciência do tamanho da ruindade do roteiro e das interpretações, o que rende momentos de inegável diversão. Para ver com uma garrafa de bourbon do lado do sofá. Nota 5
139 - Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises): provando novamente que é um dos melhores cineastas da nova geração de Hollywood, Christopher Nolan encerra de forma muito digna a sua incursão no mundo dos quadrinhos. Tenso, emocionante, barulhento, com atuações memoráveis (vem aí um novo Oscar de Coadjuvante para Michael Caine?). Não cabe discutir se é melhor ou pior do que Batman Begins ou O Cavaleiro das Trevas porque forma com os dois uma saga homogênea, uma peça em três atos. E é assim, colocado em perspectiva, que Ressurge cresce ainda mais. Nolan fez uma trilogia que merece ser chamada de trilogia, algo raríssimo no cinema (Peter Jackson conseguiu isso em O Senhor dos Anéis, Coppolla em O Poderoso Chefão). Não trata-se de apenas um filme, mas do capítulo final de uma grande história, o que torna fundamental ver Begins e Cavaleiro das Trevas antes de embarcar na nova aventura para não arriscar perder as inúmeras referências e subtramas aparentemente soltas que Ressurge amarra de maneira exemplar. O grande blockbuster de 2012 até agora. Nota 9
140 - Contrabando (Contraband): remake de um obscuro filme finlandês dirigido pelo ator da produção original. É um filme de ação que segue a cartilha do gênero, mas apresenta aqui e ali alguns desvios interessantes em seu desenvolvimento. Mark Wahlberg leva jeito para esse tipo de papel. Kate Beckinsale, por outro lado, aparece vestida o tempo todo (Paul Verhoeven e Lars Von Trier, por onde vocês andam nas horas em que mais precisamos de vocês?). Nota 6,5
141 - O Despertar (The Awakening): filme de fantasmas à moda antiga, essa produção inglesa tem clima, boas atuações e uma história que merecia ser contada. Convém guardar o nome do diretor Nick Murphy. Nota 8
142 - Labirinto do Tempo (Repeaters, 2010): um Feitiço do Tempo (Groundhog Day) sem Bill Murray, sem a marmota e sem pé nem cabeça. Fujam para as montanhas. Nota 2
143 - Billi Pig: Milton Gonçalves e Grazi Massafera estão engraçados, mas não salvam uma bomba em que até o Selton Mello parece perdido. E o que dizer da participação da Preta Gil? O trailer, que já é pavoroso, não chega aos pés da ruindade disso aqui. Porcaria é apelido. Nota 1
144 - The Big Year (The Big Year, 2011): falta graça para essa comédia sobre um tema inusitado (uma competição anual de observação de pássaros), mas salvam-se o elenco estelar (Steve Martin, Jack Black e Owen Wilson), infelizmente desperdiçado em seus atributos cômicos, alguns momentos de genuína emoção e a espetacular fotografia. Para quem entrar no clima, uma diversão bem razoável do diretor David Frankel (O Diabo Veste Prada e Marley & Eu). Nota 6,5
145 - O Preço do Amanhã (In Time, 2011): o diretor/roteirista Andrew Niccol é conhecido pelas originais visões de futuro distópico, o que funcionou à perfeição em sua estréia atrás das câmeras em Gattaca - Experiência Genética. Aqui, a premissa é sensacional (um futuro em que a moeda corrente é o tempo de vida), mas o roteiro depende muito de clichês batidos e de coincidências improváveis para o seu desenvolvimento. Também não ajuda o registro canastra de Justin Timberlake, que aqui não consegue repetir as suas boas atuações em Alpha Dog e A Rede Social. Não chega a irritar, mas a idéia original prometia bem mais do que o produto final cumpre. Nota 5,5
146 - Um Método Perigoso (A Dangerous Method): David Cronenberg faz uma bela abordagem do início da Psicanálise através da aproximação e posterior ruptura entre Freud (Viggo Mortensen) e Jung (Michael Fassbender), tendo como estopim a relação de ambos com a paciente (e posteriormente médica e discípula) interpretada por Keira Knightley. Mortensen e Fassbender dão o show habitual, enquanto o histrionismo e o overacting de Kinightley aqui encontra um veículo muito adequado. Já Cronenberg consegue, sob um aparente registro biográfico e uma abordagem à primeira vista acadêmica, abordar temas tão distintos quanto a natureza da sexualidade e até as idéias que serviram de gênese ideológica para o nazismo. Um dos melhores do ano. Freud explicaria muito melhor do que eu. Nota 8,5
147 - The Raid - Redemption (Serbuan maut, 2011): ironicamente, o melhor filme de ação que eu vi esse ano não é uma superprodução vinda de Hollywood, mas essa pérola com passaporte indonésio. Ultraviolento (os filmes do George Romero parecem animações da Disney perto da carnificina que rola aqui), com um trabalho de câmera original e coreografias que fariam até o Jackie Chan salivar, é um balé de tiros e sangue que presta tributo aos antigos filmes que John Woo fazia com gosto na China, principalmente The Killer e Fervura Máxima. Pena que virou coqueluche depois de passar pelos festivais de Toronto e Sundance, o que significa que os americanos devem providenciar um remake dispensável e obviamente inferior a qualquer segundo. Nota 8
148 - Heleno: o cineasta José Henrique Fonseca (sim, filho do Rubem Fonseca) já tinha provado talento em O Homem do Ano. Aqui, parece que atingiu a maturidade, mesmo que o roteiro não saia da estrutura básica da "celebridade que desperdiça o talento com excessos que a levam a entrar em desgraça". Essa receita de bolo padrão é muito bem mascarada por uma estrutura elíptica que intercala os momentos de glória com os de declínio do jogador Heleno de Freitas, lendário boleiro do Botafogo. As cenas de jogo são modestas, mas é uma história com notável apelo a todos os amantes do futebol. Para melhorar ainda mais, a entrega absoluta de Rodrigo Santoro ao papel, com direito a uma metamorfose física digna de Christian Bale, só contribui para o resultado final. Na verdade, é uma das melhores interpretações de um ex-galã que há muito já mostrou a que veio no cinema (Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado, Carandiru). E isso é muita coisa. Some-se a isso a incrível fotografia em preto e branco do mestre Walter Carvalho e temos aí mais um clássico caso de produção sob medida para aqueles que criticam o cinema nacional sem se darem ao menos o trabalho de conferir as produções engolirem em seco. Nota 7,5
149 -
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151 -
165 - Fanaa (Fanaa): muito mais bizarro do que se esperaria do primeiro filme de Bollywood lançado comercialmente no Brasil, é um samba-do-crioulo-doido que transita em suas 2 horas e 40 minutos (que parecem uma semana inteira sem ir no banheiro) por gêneros totalmente distintos: começa como uma comédia, descamba para o musical, depois vai prá aventura de ação, pro drama, pro policial, suspense e aterrissa na tragédia grega. E, vejam só, não estou falando só em abraçar alguns elementos dos gêneros citados, mas sim mudar totalmente o tom do filme de um minuto para o outro!!!! O que se vê é uma grande novela da Gloria Perez dirigida por colombianos e interpretada por indianos. Uma viagem. Tão inacreditável e estranho que não cabe sequer nota. Nota 1 ou 10 seriam igualmente aplicáveis diante da bizarrice extrema que rola na tela...
166 - Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World): a premissa é depressiva (dois solitários buscam aproveitar os últimos dias antes do Apocalipse), mas o humor agridoce do começo, que gradualmente vai sendo substituído pelo drama e, posteriormente, pelo romance, funcionam bem. Steve Carell e Keira Knightley estão ótimos, o primeiro em um registro contido como o que adotara em Pequena Miss Sunshine e Eu, Meu Irmão E Nossa Namorada, a segunda no limiar do caricatural, como já fizera em Um Método Perigoso. Por trás dessa jornada depressiva, há algo de genuinamente otimista na química do casal mais improvável que Hollywood poderia inventar. É um romance bonito, no final das contas. Perde pontos porque foi lançado muito próximo ao sensacional Melancolia, do ano passado, visão sobre o Armaggeddon muito mais complexa, pesada e infinitamente superior. Mesmo assim, uma produção bonita e emocionante. E ocasionalmente engraçadinha. A trilha é sensacional, acompanhando o trabalho anterior da mesma roteirista (Uma Noite de Amor e Música). Nota 7,5
* 167 - Os Mercenários (The Expendables, 2010): mal dirigido pelo Stallone, pior ainda roteirizado, é um baile de debutantes para quem gosta de filmes ruins. Mesmo assim, há algo de consolador na reunião desse monte de brucutus para fazer um filme de ação à moda antiga, sem muitos efeitos digitais e com muito sangue e vísceras. Poderia ser bem melhor, mais ainda assim convence. Nota 6,5
168 - Não Quero Ser Grande (Mama's Boy, 2007): John Heder parecia ter despontado para o estrelato com Napoleon Dynamite, em 2004, mas de lá para cá a única coisa que fez foi reviver em outras produções o personagem que lhe deu fama. Aqui ele investe em uma variação chata, aborrecida e antipática de Napoleon, uma caracterização insuportável que coloca de escanteio o elenco respeitável (Diane Keaton, Jeff Daniels, Anna Farris e Eli Wallach), a trilha recheada de músicas dos anos 80 e até a homenagem a Digam O Que Quiserem, filmaço oitentista com a cena clássica de John Cusack fazendo uma serenata com um gigantesco 2 em 1 (e comparar o roteiro esperto do filme de estréia de Cameron Crowe com a historinha furreca disso aqui só enfatiza a mediocridade da experiência). Nota 3
* 169 - Digam O Que Quiserem (Say Anything..., 1989): estréia na direção de Cameron Crowe (3 anos antes de Vida de Solteiro), é uma dramédia adolescente que ainda hoje preserva o seu encanto. Crowe já demonstrava aqui talento para criar personagens muito longe dos estereótipos padronizados por Hollywood e disposição para fugir dos clichês dos filmes de gênero (e, sim, estou deliberadamente tentando esquecer aqui da existência de Tudo Acontece Em Elizabethtown). Virou cult nos EUA e tem pelo menos uma cena que é homenageada exaustivamente até hoje: a de John Cusack fazendo uma serenata ao som de Peter Gabriel levantando sobre a cabeça um gigantesco 2 em 1. Se bem que a cena final dentro do avião também merecia o seu lugarzinho ao Sol dentro do imaginário cinéfilo. Nota 8
170 - Os Mercenários 2 (The Expendables 2): melhor do que o primeiro (ou seria menos pior?), apesar de repetir os mesmos erros, a começar pelo roteiro pavoroso que não consegue costurar com um mínimo de competência o fiapo de história que tem para contar. Como a própria razão de ser do filme é colocar em cena o máximo de brutamontes patrocinados pelo INSS que se consegue em uma hora e meia, atinge o seu objetivo com razoável competência. As cenas de ação também tiveram um upgrade com a saída de Stallone da cadeira de diretor (no seu lugar, entrou o graaaande cineasta Simon West, de clássicos da Sétima Arte como Con Air e A Filha do General). Não dá para se esperar muito de um produto que se contenta em fazer piadinhas autorreferentes com seus astros. Aliás, não se pode levar a sério um filme cujo vilão (um botocado Van Damme) se chama justamente Villain. Os melhores momentos vem justamente quando o filme cansa de fingir que é sério e abraça sem qualquer pudor o nonsense. E não há nada mais emblemático do que o "deus ex machina" incorporado por duas vezes na trama por Chuck Norris, com direito a excerto do Morricone e tudo. Candidato sério a melhor filme ruim do ano.
Ong Bak 2 - O Guerreiro Sagrado Voltou (Ong Bak 2, 2008): Tony Jaa é um dos bam-bam-bãs das artes marciais no cinema atualmente. A seqüência do sucesso que lhe apresentou para o Ocidente curiosamente toma um rumo totalmente diferente do original. Emprestando os elementos dos épicos históricos chineses (Herói, O Clã das Adagas Voadoras, O Tigre E O Dragão), só que ambientando em sua Tailândia natal, Tony Jaa promove o habitual banho de sangue em meio a cenários exóticos. O quebra-pau impressiona, principalmente quando o astro luta contra dezenas de figurantes em cima e embaixo de um... elefante !!!! (wtf...). Nota 6,5
175 - Criação (Creation, 2009): o tema é, por si só, envolvente (o processo de criação de A Origem das Espécies por Darwin e o conflito familiar que suas idéias geram, principalmente em relação à sua esposa, uma católica fervorosa). Paul Bettany e Jennifer Connely, casados na vida real, estão ótimos. O problema é que, ao contrário das espécimes observadas por Darwin, o trabalho do irregular diretor Jon Amiel (O Núcleo, Armadilha) não evoluiu nem um pouquinho, resultando em um ritmo arrastaaaaaaaado demais. O bom é que Darwin é um personagem tão fascinante que ajuda a manter o interesse até o fim. Resta a esperança de realizarem uma prequel retratando as expedições com o Beagle, um projeto que nas mãos certas (Peter Weir, quem sabe?) renderia um filmaço. Nota 6
176 - O Legado Bourne (The Bourne Legacy): Bourne sem Bourne definitivamente NÃO É BOURNE. Diversãozinha meia-sola e olhe lá. Matt Damon merece um aumento no cachê para retornar à franquia. Nota 5,5
177 - The Cold Light Of Day (The Cold Light Of Day): corre-corre sem pé nem cabeça, é menos um filme de espionagem boboca do que um city tour por cartões-postais de Madri. Bruce Willis, macaco velho, pula fora do barco nos primeiros 15 minutos, provavelmente pressentindo que a canoa iria virar. Quem fica para pagar o mico é a vilã Sigourney Weaver, acabadaça, e o novo Superman (o canastrão Henry Cavill). Aliás, com um currículo recente que inclui essa bomba aqui e mais Imortais, os vilões do Homem de Aço não vão precisar sequer usar o seu estoque de kryptonita. Fujam para as montanhas. Nota 4
178 - Quarentena 2 (Quarantine 2: Terminal, 2011): enquanto REC ganhou duas continuações para o cinema que resultaram em novos êxitos de bilheteria, a refilmagem americana foi brindada com essa seqüência que saiu diretamente para dvd. Pobre e redundante, tem "telefilme" impresso em neon em cada fotograma. Nota 4
179 - Movimento Browniano (Brownian Movement): produção holandesa que propõe uma discussão interessantíssima a partir de seu título, que remete a um fenômeno da física nunca mencionado durante o filme. É certo que promete bem mais do que cumpre, mas a câmera parada, a cadência contemplativa e a quase ausência de diálogos remetem ao cinema de autor dos anos 60, principalmente às filmografias de Visconti e Antonioni. É esse rigor formal, com seus quadros que dizem muito mais do que as ações dos personagens, aliado ao excelente uso da iluminação, que torna o resultado uma experiência complexa, mas muito estimulante para quem se aventurar a enfrentar o ritmo claudicante da narrativa. Para poucos. Nota 7,5
180 - Ong Bak 3 (Ong Bak 3, 2010): o erro primordial aqui é deixar de seguir a história do primeiro filme e insistir na trama de época do segundo, que por sua vez era fechada e não admitia qualquer continuidade. O resultado é mal-feito, pessimamente dirigido (inclusive as cenas de luta, o ponto forte dos filmes anteriores), e (o pior dos pecados para uma produção de artes marciais) chato de dar dó. Nota 3
181 - Headhunters (Hodejegerne): thriller norueguês de sucesso mundo afora, é um eletrizante jogo de gato e rato que mescla violência e humor negro com eficiência, criatividade e reviravoltas bem aplicadas. Lembra muito o cinema dos Irmãos Coen, principalmente Fargo (a semelhança é ampliada ainda mais porque Aksel Hennie, o protagonista, guarda os traços de um Steve Buscemi mais jovem). Já foi providenciada uma refilmagem americana. Pena que os Coen dificilmente estarão envolvidos. Nota 8,5
182 - O Exótico Hotel Marigold (The Best Exotic Marigold Hotel): um dos maiores sleepers desse ano (aqueles filmes menores que caem nas graças do público e arrecadam milhões de dólares ao redor do globo), é uma comédia apoiada em clichês batidos, mas é virtualmente impossível não simpatizar com o dream team de veteranos do cinema inglês (Judi Dench, Tom Willkinson, Bill Nighy, Maggie Smith, entre outros) soltos no meio da paisagem exótica e colorida da Índia. Agradável e inofensivo. Nota 7,5
182 - Da Cama Para A Fama (Torremolinos, 2003): comédia espanhola baseada em um inusitado caso real em que um casal de classe média vira sem querer um sucesso no mundo do cinema pornô europeu na década de 70. Muito da graça sai da caracterização humana empregada pelos protagonistas (Javier Cámara, o enfermeiro de Fale Com Ela, e Candela Peña, de Tudo Sobre Minha Mãe). Nota 7
* 183 - Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole, 2002): comédia francesa tão solar quanto a Barcelona que registra. Vibrante e inspirado, é uma grande sacada tecer um microcosmo da comunidade européia a partir de um albergue e sua heterogênea galeria de habitantes. Faz surgir o jovem mochileiro que existe dentro de todo cinéfilo. E tem um quarteto de beldades em estado de graça para derreter qualquer marmanjo: Audrey Tatou, Kelly Reilly, Cécille de France e Judith Godrèche. Do mesmo Cédric Kaplich que dirigiu o igualmente simpático Paris. Nota 8
184 - Dredd (Dredd, em 3D): em primeiríssimo lugar, disfarça o baixo orçamento com muita categoria e classe. Em segundo, a abordagem é certeira, na medida em que coloca o personagem em uma trama direta e sem qualquer barriga, algo que os curtas produzidos por fãs para o Youtube fazem muito bem com super-heróis mal-adaptados para a telona. Em terceiro, o emprego da ultraviolência característica das HQs do personagem é muito bem vinda, com uma crueza que dá ao filme um certo ar de policial dos anos 70 (Operação França me veio à memória diversas vezes durante o filme). Já a idéia de ambientar todo o longa dentro de praticamente um único ambiente confere à produção o clima claustrofóbico sob medida para manter o espectador grudado na cadeira do cinema. A vilã (Lena Headley, do seriado Game Of Thrones) é um arraso, um contraponto perfeito ao desumanizado personagem principal (uma caracterização eficiente de Karl Urban). Enquanto a estética segue a linha realista de Distrito 9 e Filhos da Esperança, a trama bebe direto da fonte do melhor filme de ação do ano (o sul-coreano The Raid, que vai sair direto em dvd no Brasil com o horroroso título Operação: Invasão). E o melhor de tudo: faz todo mundo esquecer da adaptação tosca e equivocada protagonizada pelo Stallone (ao lado do Rob Schneider, valha-me Deus!!!!) na década de 90. Quem melhor definiu o longa foi meu mano Daniel Floriani Feix, que ao sair da sessão sintetizou: "Esse diretor se inspirou direto no Sam Peckimpah". Precisamente. Nota 8
185 - Intocáveis (Intouchables): maior sucesso internacional da França em todos os tempos, é um êxito principalmente em virtude de seus dois impagáveis personagens centrais, cujas personalidades diametralmente opostas geram empatia automática com o público. Mérito de dois atores em estado de graça: François Cluzet (cada vez mais idêntico a Dustin Hoffmann) e Omar Sy (que utiliza aqui uma clave de humor gaiato como aquela que Eddie Murphy tirava de dentro da manga do casaco em seus áureos momentos nos 80´s) são a alma e a maior força de Intocáveis, cada um dando um show particular em cena. O tom acertado aplicado ao filme pelos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano também é fundamental, privilegiando o humor genuíno e evitando o caminho fácil da emoção barata. E o próprio fato de Intocáveis nunca (NUNCA) abraçar a auto-piedade, mesmo com um material que em mãos erradas poderia descambar para o pior dos dramalhões, já faz do filme, mais do que a lição de vida extraída da emocionante história real que conta, uma lição de cinema. E das boas. Nota 9
186 - Conan, O Bárbaro (Conan, The Barbarian, 2011): depois do acachapante fracasso comercial e de crítica da nova adaptação do personagem de Robert E. Howard, resolvi dar um tempo antes de conferir o filme do ano passado, uma forma de fugir de qualquer influência negativa ou pré-conceito sobre a nova empreitada de Marcus Nispel na direção, esse cineasta alemão que está se especializando em refilmar obras que fizeram história e não precisavam de novas versões (são dele a boa releitura de O Massacre da Serra Elétrica e o boboca remake de Sexta-Feira 13). O problema é que o novo Conan é um filme indefensável: pessimamente dirigido, com um elenco de canastrões que entregam performances constrangedoras (Jason Momoa deveria ter se limitado a reprisar o seu Khal Drogo de Game Of Thrones antes de tentar inventar um personagem novo que suas habilidades cênicas simplesmente não são capazes de alcançar) e os piores efeitos especiais que Hollywood poderia comprar (o CGI é tão ruim que a certa altura dei graças a Deus por não ter visto em 3D no cinema, o que certamente deveria ter amplificado a sensação de tosqueira). Mas o pior é o roteiro, um amontoado de situações esquemáticas que transformam o bárbaro das HQ`s num herói padronizado pelos novos tempos do cinema comercial voltado ao público adolescente. E uma rápida pesquisa no IMDB me informou (sem qualquer surpresa) que a trinca de roteiristas (foram necessárias três pessoas para escrever algo que uma criança de 4 anos conseguiria rascunhar num guardanapo do McDonald´s) têm no currículo porcarias como Sahara, O Som do Trovão, Dylan Dog E As Criaturas da Noite e Halloween: Ressurreição (sim, aquele em que Michael Myers sai no braço com o rapper Busta Rhymes, for Christ´s sake!!!!!!). Nem vou comparar com o Conan do John Millius porque daí já é covardia. A única comparação aplicável aqui seria com os enlatados produzidos pela máquina americana em forma de quase-videogames, como O Príncipe da Pérsia e o remake de Fúria de Titãs. E mesmo assim, ficaria devendo. Não pensei que viveria para presenciar isso, mas finalmente alguém conseguiu desbancar Guerreiros de Fogo (Red Sonja, de 1985) como pior adaptação de Robert E. Howard para o cinema. O véio Schwarzza e a Brigitte Nielsen devem estar rindo à toa até agora. Eles merecem. Pelos ossos de Crom! Nota 3
187 - Ted (Ted): Seth MacFarlane, o criador do ótimo seriado de animação Family Guy (Uma Família da Pesada no Brasil) se vira como pode em sua estréia no cinema. Em Ted, o cara dirigiu, roteirizou, produziu, atuou como a voz do ursinho do título e ainda escreveu algumas canções para o longa (eu falei que o cara também é crooner nas horas vagas e lançou um CD bem bacana interpretando standards americanos imortalizados por Sinatra, Dean Martin e Tony Bennett?). E a personalidade de MacFarlane está bem presente em Ted, desde o humor politicamente incorreto até as inúmeras citações à cultura pop dos anos 80 (de Star Wars a E.T., de Indiana Jones ao trash Flash Gordon, que ganha a melhor piada do longa). A premissa (um conto de fadas contado através de tiradas amorais) até é melhor do que o desenvolvimento, que segue a cartilha das comédias românticas padronizadas por Hollywood. Mas é a disposição de MacFarlane em tirar sarro de tudo e de todos através de cenas que mais parecem esquetes extraídos diretamente de Family Guy que transformam Ted numa comédia muito divertida. E sempre que Mark Wahlberg resolve tirar sarro de sua própria persona cinematográfica, pode apostar que o resultado é hilário. Nota 7,5
188 - MR 73 - A Última Missão (MR 73, 2008): dirigido por um ex-tira (Olivier Marchal, do bom 36), o que garante certa dose de realismo ao roteiro inspirado por um caso verídico da crônica policial francesa. Investe em um climão de suspense e em duas linhas narrativas paralelas que lembram muito a estrutura do excelente Rios Vermelhos. No final, entretanto, resolve a trama de forma abrupta e anticlimática. Danieul Auteuil está excelente. Nota 6
189 - Looper - Assassinos do Futuro (Looper): como todo bom filme de viagem no tempo, descarta as saídas fáceis e opta pelo caminho mais inteligente no desenvolvimento de seu intrincado roteiro. É essa ousadia a principal marca impressa pelo diretor/roteirista Rian Johnson, que vinha de duas produções anteriores que caíram nas graças da crítica (A Ponta de Um Crime e Vigaristas) e que, depois desse filmaço aqui, já pularam para o topo da minha pilha de filmes a conferir. E é impressionante a seqüência de ótimas produções emendadas por Joseph Gordon-Levitt nos últimos anos (500 Dias Com Ela, O Vigia, A Origem, 50 %, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge), tornando-o num curtíssimo espaço de tempo uma das caras mais interessantes em Hollywood no momento. Looper segue essa esteira de boas escolhas com toda a pompa. E se a fantástica maquiagem que transforma Levitt em um jovem Bruce Willis não for no mínimo indicada ao Oscar do ano que vem, vou perder ainda mais a fé no futuro da Humanidade. Nota 9
190 - Reencontrando A Felicidade (Rabbit Hole, 2010): demora um pouco até passar a estranheza com o bizarro botox labial adotado por Nicole Kidman, que a deixou uma espécie de prima distante do Patolino. Ultrapassado o choque, o que resta é um bom ensaio sobre o luto de um casal pela perda precoce de um filho, temática já abordada por inúmeras produções, de Provocação (The Door On The Floor, de 2004, com Jeff Bridges e Kim Basinger) a Entre Quatro Paredes (In The Bedroom, de 2001, com Tom Wilkinson e Sissy Spacek), até o muito superior O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, de Nanni Moretti). O diretor John Cameron Mitchell, do excelente Hedwig - Rock, Amor e Traição, comanda o elenco com sensibilidade (Kidman chegou a concorrer merecidamente ao Oscar). Nota 7
191 - Jovens Adultos (Young Adult, 2011): a segunda parceria de Jason Reitman (Obrigado Por Fumar, Amor Sem Escalas) com a roteirista Diablo Cody depois do sucesso de Juno passou batida pelos cinemas, mas merece muito ser descoberta na telinha. Centrando foco na inesgotável galeria de filmes que lançam um olhar afetuoso aos adultos que se recusam a crescer, Diablo Cody acertou a mão ao construir uma personagem até certo ponto odiosa, mas irresistível em sua imaturidade. E o melhor de tudo: dá uma banana para Hollywood ao privar o filme da famigerada redenção final que é praticamente obrigatória nos filmes americanos. Nota 8
192 - Vigaristas (The Brothers Bloom, 2008): antes de realizar o excelente Looper, Rian Johnson já demonstrara a boa disposição em inserir originalidade em filmes de gênero. Aqui, o caso é dar um sopro de esperteza no subgênero dos filmes de golpes, ancorado no bom elenco (Adrien Brody, Rachel Weisz, Mark Ruffalo e Maximilian Shell) e em reviravoltas muito bem aplicadas. Nota 8
193 - Millennium II - A Menina Que Brincava Com Fogo (Flickan Som Lekte Med Elden, 2009): nunca fui um entusiasta das adaptações cinematográficas dos livros de Stieg Larsson (nem da primeira versão sueca para Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, nem do remake americano que saiu da cartola de um dos meus diretores favoritos, David Fincher). Sempre achei-as traminhas policiais eficientes, mas padronizadas demais para justificar o sucesso global que tiveram. A Menina Que Brincava Com Fogo preserva a boa dupla de protagonistas (Michael Nykvist, o vilão do quarto Missão Impossível, e a excelente Noomi Rapace, vista esse ano em Prometheus), mas perdeu o diretor do primeiro filme. O novo comandante, um tal de Daniel Alfredson, não consegue estabelecer o clima de opressão e as sacadas visuais das adaptações cinematográficas do primeiro livro da série. Sem falar que a trama é muito mais fraca do que a do primeiro livro, sem qualquer sobressalto ou surpresa que consiga evitar os bocejos inevitáveis durante as mais de duas horas de duração. A verdade é que o trunfo da série Millennium é a sua peculiar (e interessantíssima) personagem Lisbeth Salander, que aqui carrega a produção nas costas. Não que o resultado seja ruim, mas é filme para assistir em domingos ociosos. E só neles. Nota 6
194 - Terror No Pântano 2 (Hatchet II, 2010): em 2006, o diretor Adam Green fez barulho nos festivais de cinema fantástico mundo afora com o primeiro Hatchett, que reproduzia todos os cacoetes dos slasher movies dos anos 80, como Sexta-Feira 13 e seus infindáveis clones. Com essa continuação, o diretor aparentemente quis apenas chutar o pau da barraca. É um banho de sangue e tripas como há muitíssimo tempo não se via nas telas. Já o roteiro, pobrezinho, provavelmente foi escrito por alguém em estado de coma. O elenco reúne algumas figuras idolatradas dos filmes de terror, como a scream queen Danielle Harris, Kane Hodder (o Jason em pessoa, rapá), Tony Todd (sim, o Candyman, em canastrice e ossos) e até o diretor Tom Holland, de A Hora do Espanto (o original!) e Brinquedo Assassino. A tosqueira é tamanha que vira um passatempo genuinamente divertido para quem gosta do gênero. Para rir. E muito. Nota 6,5
195 - Inquietos (Restless, 2011): dentro da filmografia prolífica de Gus Van Sant (Drugstore Cowboy, Gênio Indomável, Elefante, Milk - A Voz da Igualdade), talvez Inquietos, uma variação da temática do muito superior Ensina-me A Viver (Harold And Maude, de 1971, de Hal Ashby), figure em uma posição de menor destaque. Mas não é nem de longe um filme ruim. Ancorado em uma dupla de protagonistas eficiente (Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton, vista ano passado no excelente Jane Eyre, e Henry Hopper, filho do saudoso Dennis), é um belo conto sobre amadurecimento e morte. Paradoxalmente, ao tentar escapar da pieguice e da emotividade fácil, Van Sant dá ao filme um tom seco que não permite ao espectador um envolvimento irrestrito com a bonita história de amor que conta ou mesmo que a química do casal decole. Como efeito direto, só emociona mesmo quem consegue chorar copiosamente em qualquer desenho da Disney. Nota 7
196 - J. Edgar (J. Edgar): quando não está tentando fazer graça falando com cadeiras em convenções republicanas, Clint Eastwood alimenta a sua carreira como diretor de cinema. A cinebiografia de J. Edgar Hoover, talvez uma das figuras históricas com potencial mais explosivo que nunca ganhara uma adaptação fiel no cinema, prometia um retorno do velho Dirty Harry à boa forma demonstrada em seus melhores trabalhos atrás das câmeras. O resultado, no entanto, é um retrato quadrado demais de um personagem tão complexo. Mesmo tangenciando aqui e ali temas espinhosos, o conservadorismo de Eastwood o impede de enfrentar questões relevantes, como a ingerência política de Hoover nas intervenções americanas em países estrangeiros. Mesmo assim, forma um mosaico interessante, apesar de incompleto, de uma das personalidades mais emblemáticas do século passado, com o auxílio de uma correta atuação de Leonardo DiCaprio. Ironicamente, os melhores momentos são aqueles que abordam a paixão de Hoover por seu fiel escudeiro Clyde Tolson (Armie Hammer, que vem aí em O Cavaleiro Solitário ao lado de Johnny Depp), retratada de forma contida, mas delicada, por Eastwood, e que revelam-se as cenas mais tocantes de um longa que de resto peca pela excessiva sobriedade. Nota 6,5
197 - A Vida Em Um Dia (Life In A Day, 2011): documentário montado a partir de vídeos enviados pelo público retratando o dia 24 de julho de 2010. O diretor Kevin Macdonald, de O Último Rei da Escócia e Intrigas do Estado, conseguiu montar um quebra-cabeças de imagens com uma unidade dramática como poucas vezes se viu na História do Cinema. A mescla de culturas e perfis vista aqui faz um belo retrato do que é essa heterogênea e ao mesmo temo homongênea classe auto-denominada raça humana. Um dos melhores filmes do ano (e disparado o melhor documentário). Nota 9
198 - A Entidade (Sinister): ciente de que tinha em mãos uma história meia-boca, o diretor Scott Derrickson, de O Exorcismo de Emily Rose, sabiamente aposta todas as fichas na criação do clima e em sustos eficientes. A opção em ambientar 99 % das cenas dentro de casa ajuda a criar a sensação de claustrofobia pretendida e dá à produção um ritmo peculiar, bem mais cadenciado do que se esperaria de um filme de terror vindo de Hollywood. Ethan Hawke, por sua vez, entrega uma performance muito esforçada, algo não muito usual em filmes do gênero, o que dá ao personagem que interpreta uma gravidade e um estofo que provavelmente extrapola qualquer intenção contida no roteiro. E desde já o "Deputy So And So" (James Ransone) é uma das figuraças coadjuvantes no cinema de 2012. Nota 7,5
* 199 - Busca Implacável (Taken, 2008): bobagenzinha bem divertida, um retrato do tipo de filme de ação genérico que Luc Besson virou especialista em produzir na última década. A diferença fundamental reside na escolha de um astro de respeito (Liam Neesom), que revela-se surpreendentemente adequado para incorporar um personagem reminiscente dos heróis de ação da década de 80. Neesom parece muito à vontade estraçalhando figurantes malvadões. Nota 7
200 - V/H/S (V/H/S): antologia de contos de terror inteiramente filmada dentro do gênero das "found footages", a linha "filmagens encontradas" popularizada por A Bruxa de Blair e cujo impacto e originalidade já se esgotaram há muito tempo. Como toda a reunião de curtas sob o comando de diretores e roteiristas diversos, possui altos e baixos (nesse caso, mais baixos). A única homogeneidade é o irritante cacoete da câmera que treme tanto que o público mal consegue enxergar o que acontece na tela. Outra coisa que não muda é o desfecho previsível das historietas. Ou alguém ainda não se deu conta que em todo e qualquer filme baseado em filmagens encontradas o final é SEMPRE rigorosamente o mesmo? Nota 5,5
105 - Adorável Pivellina (La Pivellina): Apesar de carecer de um arco dramático definido e de um melhor desenvolvimento dos personagens, a pivellina do título (garotinha em italiano) é tão irresistível que o filme encontra o seu rumo mesmo sem ter um bem definido. Nota 7
106 - Anderson Silva - Como Água (Like Water): bem bom esse documentário gringo que cobre os meses que antecederam a luta em que Spider defendeu o cinturão mundial pelo quarto ano consecutivo contra o americano Chael Sonnen em 2010. Funciona mesmo para quem não é fã de UFC e não faz questão de entender se Minotauro e Minotouro são ou não a mesma pessoa. Como Sonnen é realmente um babaca, fica ainda mais fácil torcer por Anderson em um filme que, se não registrasse acontecimentos reais, poderia ser criticado pelo excesso de clichês de filmes de esporte da trama. Nota 7
107 - Iron Sky (2011): carinha tem uma idéia divertida, provavelmente durante um porre homérico ("e se os nazistas tivessem se refugiado no lado escuro da Lua após a Segunda Guerra Mundial e voltassem à Terra nos dias de hoje para instaurar o Quarto Reich?"), consegue financiar o projeto com doações de fãs via internet, o que garante efeitos especiais bacanas e um design de produção sensacional, que emula a estética steam punk, mas daí não sabe desenvolver o filme com um roteiro minimamente aceitável, que oscila entre a desastrada crítica política e o humor sem graça de uma má sitcom. Merecia ir para uma Auschwitz marciana por desperdiçar a oportunidade. Nota 4,5
108 - Branca de Neve e o Caçador (Snow White And The Huntsman): a idéia de apresentar uma versão dark para o conto dos irmãos Grimm não é original (já foi usada, por exemplo, em um telefilme bem decente de 1997, Floresta Negra, com Sigourney Weaver como a Madastra) e o filme tem lá os seus problemas de ritmo e um mau desenvolvimento do triângulo amoroso que propõe. E é imperdoável a escalação de um timaço de atores ingleses como os digitalmente reduzidos anões e mal aproveitá-los em cena. Por outro lado, é uma produção inegavelmente divertida, com uma vilã consistente (Charlize Theron, que parece estar se divertindo como nunca em cena) e um visual irretocável. Convenhamos, é o que todo blockbuster deveria entregar, mas poucos conseguem hoje em dia. Nota 7,5
* 109 - Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, 1979): dos cenários do recentemente falecido H. R. Giger até o inacreditável climaço de tensão que permeia do começo ao fim, é ainda um dos melhores filmes que eu já vi na vida. Nota 10
110 - A Casa dos Sonhos (Dream House, 2011): depois do estúdio reeditar o longa antes da estréia, o ótimo diretor Jim Sheridan (Meu Pé Esquerdo, Em Nome do Pai, Terra dos Sonhos) e os atores Daniel Craig e Rachel Weisz negaram-se a divulgar o filme por considerarem o resultado ruim demais. E eu, bocó que sou, sabendo disso, ainda insisti em conferir esse suspense besta e previsível. Mau sapão. Nota 3
111 - Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança (Ghost Rider : Spirit of Vengeance): não há nada tão ruim que Hollywood não consiga piorar numa seqüência. Nicolas Cage deve ter feito um pacto com o capeta, mas, na hora de entregar a alma, entregou a sua carreira. Vade retrum. Nota 2
* 112 - Aliens, O Resgate (Aliens, 1986): James Cameron mudou as regras do jogo para fazer o que sabe melhor, ou seja, um espetáculo de ação e pirotecnia sem espaço para o público respirar. Nota 9,5
113 - Um Crime Nada Perfeito (The Maiden Heist, 2009): filminho de assalto com um roteiro tão bobo que acaba desperdiçando a trinca azeitada de protagonistas (Morgan Freeman, Christopher Walken e William H. Macy, todos em plena forma). Nota 5
114 - Prometheus (Prometheus, em 3D): é preciso controlar bastante a expectativa decorrente da excelente campanha de marketing para conseguir apreciar não a obra-prima que poderia ser, mas sim a ficção bem acima da média que resultou. Michael Fassbender mais uma vez rouba a cena, enquanto Charlize Theron patina no papel de antagonista, o que é surpreendente considerando a boa atuação que entregou como a Bruxa Má de Branca De Neve E O Caçador. O visual, com forte influência de H. R. Giger, é não menos do que espetacular. Nota 8
115 -
119 -
121 - Lua de Papel (Paper Moon, 1973): demorei trinta e tantos anos para descobrir essa pérola vinda dos anos 70, um filme para guardar em uma gaveta especial da memória de qualquer cinéfilo. Ryan O'Neill e Tatum O'Neill (pai e filha na vida real) viajam pelo centro-oeste americano aplicando golpes na população durante a Grande Depressão em um dos melhores registros registros de relação pai-filho que o cinema ianque já produziu. Tatum é até hoje a pessoa mais jovem a ganhar um Oscar (aos 10 anos, como Atriz Coadjuvante!!!!). A fotografia em lindo P&B de László Kovács é nunca menos do que espetacular. Um clássico em todos os sentidos, divertido e tocante. Ninguém deveria demorar tanto tempo para descobri-lo. Sem contra-indicação alguma. Nota 10
122 - Tá Rindo do Que? (Funny People, 2009): lançado diretamente nas locadoras no Brasil, é uma insólita reunião entre o bom Judd Apatow (de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos) e o horrendo Adam Sandler, seu amigo de longa data. Na verdade, é a segunda parceria da dupla, considerando que Apatow já tinha roteirizado Zohan - O Agente Bom de Corte para Sandler um ano antes (é, eu sei...). É uma comédia dramática bacana, mas que peca por ser excessivamente (e desprositadamente) longa, com suas quase duas horas e meia de duração, o que torna o terceiro ato arrastado demais. De qualquer forma, usando como perspectiva o currículo de bobagens insuportáveis protagonizadas por Sandler, o filme não tem como não se destacar. E o astro de porcarias como Little Nicky e Cada Um Tem A Gêmea Que Merece até não está tão detestável quanto de costume. Agora, verdade seja dita, quem se sai melhor e garante as melhores risadas são os coadjuvantes Seth Rogen, Jonah Hill e, principalmente, Eric Bana, que aproveita muito bem a quase ponta que lhe reservaram. Nota 6,5
123 - O Abrigo (Take Shelter, 2011): excelente produção independente americana que foi direto prás locadoras no Brasil. Tenso e original, faz da ambigüidade do roteiro uma de suas maiores virtudes. Michael Shannon e Jessica Chastain estão nada menos do que perfeitos em seus papéis. Grande candidato a tornar-se campeão de discussões em mesas de bar. Um filme que merece ser descoberto. Vencedor do Prêmio da Semana da Crítica em Cannes. Nota 8
124 - Anjos da Noite: O Despertar (Underworld: Awakening): quarto filme de uma das franquias mais insossas que já poluíram as telas de cinema na última década, é uma produção que faz jus à mediocridade dos três filmes anteriores, com seu roteiro pedestre e cenas de ação que imitam na cara-dura Matrix. O único ponto positivo é que os vampiros não brilham como fadas. Nota 4
125 - Para Roma, Com Amor (To Rome With Love): não é dos Woody Allen mais inspirados, com suas esquetes de desenvolvimento irregular, mas é um de seus trabalhos mais assumidamente divertidos em anos. A macarronada não chegou a ficar "al dente", mas o molho ao sugo que o diretor adicionou certamente deixou o prato saboroso. Nota 8
126 - Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (Sherlock Holmes: A Game Of Shadows): a visão que Hollywood lança sobre o personagem de Sir Arthur Conan Doyle continua muito distante do espírito dos livros. Fidelidade ao material original se encontra na modernização do detetive na excelente série Sherlock, da BBC, uma adaptação muito superior. E Robert Downey Jr. não ajuda muito ao interpretar Holmes como uma versão com sotaque bizarro e sem cavanhaque de seu Tony Stark dos filmes da Marvel. Por outro lado, o bom Watson de Jude Law, o excelente vilão Moriarty (Jared Harris, impecável) e os maneirismos bacanas do diretor Guy Ritchie garantem um produto final vertiginoso, divertido e muito honesto. Elementar, meu caro Ritchie. Nota 7,5
127 - O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider Man, em 3D): a primeira hora é um pé no saco, uma ladainha desnecessária que apenas repete de forma piorada a origem do herói, algo que Sam Raimi fez muito melhor há apenas 10 anos. A idéia de tecer uma teia de acontecimentos e coincidências que vincule todos os personagens que orbitam a vida de Peter Parker (especialmente o suposto segredo que envolveria a morte de seus pais) é uma bobagem chata que só é parcialmente amenizada pelo bom trabalho do elenco, principalmente da dupla central (Andrew Garfield e Emma Stone, ambos muito bem). O diretor Mark Webb acerta nas cenas de flerte e romance entre Parker e Stacy, repetindo a mesma pegada de seu filme de estréia, o excelente 500 Dias Com Ela. Do meio para o final, o filme engrena e o saldo final é positivo. Um bom entretenimento, mas que de espetacular só tem o título. Nota 6,5
128 - Red Tails (Red Tails): produzido pela Lucasfilm, o que garante os sempre excelentes efeitos especiais da ILM para conceber cenas de ação de encher os olhos, o filme desperdiça uma interessante premissa (o primeiro grupo de pilotos negros da história do exército dos EUA e sua participação decisiva na Segunda Guerra Mundial) em uma interminável sucessão de clichês batidos e situações tão piegas que são capazes de fazer o Pearl Harbor do Michael Bay parecer Bastardos Inglórios. Deveriam caçar o brevê do diretor Anthony Hemingway antes que ele cause um desastre que não vitime apenas a Sétima Arte. Nota 3
129 - Hunger (Hunger, 2008): antes de presentearem os cinéfilos com um dos melhores filmes desse ano (Shame), Michael Fassbender e o diretor egresso das artes plásticas Steve McQueen haviam feito esse petardo sobre a greve de fome dos prisioneiros do IRA numa prisão da Irlanda do Norte em 1981. De revirar o estômago. Baita filme, baita ator, baita diretor. Nota 8
130 - Os Cavaleiros do Apocalipse (Horsemen, 2009): tentativas de produzir o Seven da vez se reproduzem como gremlins nos cinemas a cada ano. Só que David Fincher só existe um. Os produtores desse filmeco aqui devem ter aprendido a lição da pior forma possível. Nota 3
131 - The Divide (The Divide, 2011): o diretor francês Xavier Gens, de Fronteira(s) e Hitman - Assassino 47, usa e abusa de violência extrema, mas não consegue disfarçar a inverossimilhança do roteiro, que padece de personagens estereotipados que irritam tanto que afastam qualquer chance de envolvimento do espectador. O sumido Michael Biehn (O Exterminador do Futuro) reaparece aqui esbanjando canastrice. Nota 4,5
132 - Tudo Pela Vitória (Friday Night Lights, 2004): Billy Bob Thornton está ótimo como treinador dos Panthers no filme que deu origem ao seriado de sucesso Friday Night Lights. As estranhas regras do futebol americano parecem grego para os brasileiros, mas o vigor com que o diretor Peter Berg (anos antes de cometer Battleship) filma as partidas dão à produção um ritmo impecável. Bela surpresa tardia. Nota 7,5
133 - Intrusos (Intruders, 2011): terror bem feitinho do diretor de Extermínio 2 (Juan Carlos Fresnadillo). A força está no elenco reunido: Clive Owen, Carice Van Houten (A Espiã, Game Of Thrones), Daniel Brühl (de Adeus, Lênin e Bastardos Inglórios, mandando muito bem no espanhol) e até uma ponta de Héctor Alterio (O Filho da Noiva). Infelizmente, peca no quesito mais importante para um filme de terror, que é o de meter algum medo em quem assiste. Passatempo razoável. Nota 6
134 - 72 Horas (The Next Three Days, 2010): a má notícia é que é um remake que apenas repete, com leves variações, o enredo do filme original, no caso, o francês Tudo Por Ela (Pour Elle, de 2008). A boa nova é que o diretor Paul Haggis, de Crash - No Limite e No Vale das Sombras, imprime um ritmo eletrizante à produção, elemento que encontra um bem-vindo suporte nas ótimas atuações de todo o elenco. Nota 7
135 - Na Estrada (On The Road): Walter Salles decidiu imprimir em sua adaptação do clássico de Jack Kerouac o mesmo ritmo dissonante e assimétrico do jazz escutado pelos personagens entre goles de whisky e baforadas de nicotina. A opção torna o filme de difícil assimilação para uma parte do público (muitos acabaram saindo da sala na sessão em que vi). Para os que embarcarem nessa viagem, o que fica é um belo tributo não só ao livro, mas também aos próprios expoentes da geração beat (William S. Burroughs, Allen Ginsberg, Neal Cassady e o próprio Kerouac). Salles mostra aos gringos um pouco do talento que os brasileiros já conhecem (ou deveriam conhecer) há anos. Nota 8
* 136 - Batman Begins (Batman Begins, 2005): um filme que cresce a cada nova revisão. Apesar das cenas de ação soarem confusas e sem o impacto esperado, é uma reinvenção do personagem original e que busca nas HQs justamente o que elas tem de melhor. Nota 8,5
* 137 - Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008): roteiro inteligente, um vilão insuperável e um desenvolvimento que lembra a perfeição do mecanismo de um relógio suíço. Um filme de entretenimento perfeito e que provavelmente vai resistir ao teste do tempo para sempre. Nota 9,5
138 - Vingança Sem Limites (The Girl From The Naked Eye): curiosa mistura de film noir com artes marciais e literatura pulp, tem como ponto forte as boas coreografias de luta, que valeram à produção um prêmio especial no Fantaspoa 2012. Não é um filme bom, mas os realizadores aparentemente não têm consciência do tamanho da ruindade do roteiro e das interpretações, o que rende momentos de inegável diversão. Para ver com uma garrafa de bourbon do lado do sofá. Nota 5
139 - Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises): provando novamente que é um dos melhores cineastas da nova geração de Hollywood, Christopher Nolan encerra de forma muito digna a sua incursão no mundo dos quadrinhos. Tenso, emocionante, barulhento, com atuações memoráveis (vem aí um novo Oscar de Coadjuvante para Michael Caine?). Não cabe discutir se é melhor ou pior do que Batman Begins ou O Cavaleiro das Trevas porque forma com os dois uma saga homogênea, uma peça em três atos. E é assim, colocado em perspectiva, que Ressurge cresce ainda mais. Nolan fez uma trilogia que merece ser chamada de trilogia, algo raríssimo no cinema (Peter Jackson conseguiu isso em O Senhor dos Anéis, Coppolla em O Poderoso Chefão). Não trata-se de apenas um filme, mas do capítulo final de uma grande história, o que torna fundamental ver Begins e Cavaleiro das Trevas antes de embarcar na nova aventura para não arriscar perder as inúmeras referências e subtramas aparentemente soltas que Ressurge amarra de maneira exemplar. O grande blockbuster de 2012 até agora. Nota 9
140 - Contrabando (Contraband): remake de um obscuro filme finlandês dirigido pelo ator da produção original. É um filme de ação que segue a cartilha do gênero, mas apresenta aqui e ali alguns desvios interessantes em seu desenvolvimento. Mark Wahlberg leva jeito para esse tipo de papel. Kate Beckinsale, por outro lado, aparece vestida o tempo todo (Paul Verhoeven e Lars Von Trier, por onde vocês andam nas horas em que mais precisamos de vocês?). Nota 6,5
141 - O Despertar (The Awakening): filme de fantasmas à moda antiga, essa produção inglesa tem clima, boas atuações e uma história que merecia ser contada. Convém guardar o nome do diretor Nick Murphy. Nota 8
142 - Labirinto do Tempo (Repeaters, 2010): um Feitiço do Tempo (Groundhog Day) sem Bill Murray, sem a marmota e sem pé nem cabeça. Fujam para as montanhas. Nota 2
143 - Billi Pig: Milton Gonçalves e Grazi Massafera estão engraçados, mas não salvam uma bomba em que até o Selton Mello parece perdido. E o que dizer da participação da Preta Gil? O trailer, que já é pavoroso, não chega aos pés da ruindade disso aqui. Porcaria é apelido. Nota 1
144 - The Big Year (The Big Year, 2011): falta graça para essa comédia sobre um tema inusitado (uma competição anual de observação de pássaros), mas salvam-se o elenco estelar (Steve Martin, Jack Black e Owen Wilson), infelizmente desperdiçado em seus atributos cômicos, alguns momentos de genuína emoção e a espetacular fotografia. Para quem entrar no clima, uma diversão bem razoável do diretor David Frankel (O Diabo Veste Prada e Marley & Eu). Nota 6,5
145 - O Preço do Amanhã (In Time, 2011): o diretor/roteirista Andrew Niccol é conhecido pelas originais visões de futuro distópico, o que funcionou à perfeição em sua estréia atrás das câmeras em Gattaca - Experiência Genética. Aqui, a premissa é sensacional (um futuro em que a moeda corrente é o tempo de vida), mas o roteiro depende muito de clichês batidos e de coincidências improváveis para o seu desenvolvimento. Também não ajuda o registro canastra de Justin Timberlake, que aqui não consegue repetir as suas boas atuações em Alpha Dog e A Rede Social. Não chega a irritar, mas a idéia original prometia bem mais do que o produto final cumpre. Nota 5,5
146 - Um Método Perigoso (A Dangerous Method): David Cronenberg faz uma bela abordagem do início da Psicanálise através da aproximação e posterior ruptura entre Freud (Viggo Mortensen) e Jung (Michael Fassbender), tendo como estopim a relação de ambos com a paciente (e posteriormente médica e discípula) interpretada por Keira Knightley. Mortensen e Fassbender dão o show habitual, enquanto o histrionismo e o overacting de Kinightley aqui encontra um veículo muito adequado. Já Cronenberg consegue, sob um aparente registro biográfico e uma abordagem à primeira vista acadêmica, abordar temas tão distintos quanto a natureza da sexualidade e até as idéias que serviram de gênese ideológica para o nazismo. Um dos melhores do ano. Freud explicaria muito melhor do que eu. Nota 8,5
147 - The Raid - Redemption (Serbuan maut, 2011): ironicamente, o melhor filme de ação que eu vi esse ano não é uma superprodução vinda de Hollywood, mas essa pérola com passaporte indonésio. Ultraviolento (os filmes do George Romero parecem animações da Disney perto da carnificina que rola aqui), com um trabalho de câmera original e coreografias que fariam até o Jackie Chan salivar, é um balé de tiros e sangue que presta tributo aos antigos filmes que John Woo fazia com gosto na China, principalmente The Killer e Fervura Máxima. Pena que virou coqueluche depois de passar pelos festivais de Toronto e Sundance, o que significa que os americanos devem providenciar um remake dispensável e obviamente inferior a qualquer segundo. Nota 8
148 - Heleno: o cineasta José Henrique Fonseca (sim, filho do Rubem Fonseca) já tinha provado talento em O Homem do Ano. Aqui, parece que atingiu a maturidade, mesmo que o roteiro não saia da estrutura básica da "celebridade que desperdiça o talento com excessos que a levam a entrar em desgraça". Essa receita de bolo padrão é muito bem mascarada por uma estrutura elíptica que intercala os momentos de glória com os de declínio do jogador Heleno de Freitas, lendário boleiro do Botafogo. As cenas de jogo são modestas, mas é uma história com notável apelo a todos os amantes do futebol. Para melhorar ainda mais, a entrega absoluta de Rodrigo Santoro ao papel, com direito a uma metamorfose física digna de Christian Bale, só contribui para o resultado final. Na verdade, é uma das melhores interpretações de um ex-galã que há muito já mostrou a que veio no cinema (Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado, Carandiru). E isso é muita coisa. Some-se a isso a incrível fotografia em preto e branco do mestre Walter Carvalho e temos aí mais um clássico caso de produção sob medida para aqueles que criticam o cinema nacional sem se darem ao menos o trabalho de conferir as produções engolirem em seco. Nota 7,5
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165 - Fanaa (Fanaa): muito mais bizarro do que se esperaria do primeiro filme de Bollywood lançado comercialmente no Brasil, é um samba-do-crioulo-doido que transita em suas 2 horas e 40 minutos (que parecem uma semana inteira sem ir no banheiro) por gêneros totalmente distintos: começa como uma comédia, descamba para o musical, depois vai prá aventura de ação, pro drama, pro policial, suspense e aterrissa na tragédia grega. E, vejam só, não estou falando só em abraçar alguns elementos dos gêneros citados, mas sim mudar totalmente o tom do filme de um minuto para o outro!!!! O que se vê é uma grande novela da Gloria Perez dirigida por colombianos e interpretada por indianos. Uma viagem. Tão inacreditável e estranho que não cabe sequer nota. Nota 1 ou 10 seriam igualmente aplicáveis diante da bizarrice extrema que rola na tela...
166 - Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World): a premissa é depressiva (dois solitários buscam aproveitar os últimos dias antes do Apocalipse), mas o humor agridoce do começo, que gradualmente vai sendo substituído pelo drama e, posteriormente, pelo romance, funcionam bem. Steve Carell e Keira Knightley estão ótimos, o primeiro em um registro contido como o que adotara em Pequena Miss Sunshine e Eu, Meu Irmão E Nossa Namorada, a segunda no limiar do caricatural, como já fizera em Um Método Perigoso. Por trás dessa jornada depressiva, há algo de genuinamente otimista na química do casal mais improvável que Hollywood poderia inventar. É um romance bonito, no final das contas. Perde pontos porque foi lançado muito próximo ao sensacional Melancolia, do ano passado, visão sobre o Armaggeddon muito mais complexa, pesada e infinitamente superior. Mesmo assim, uma produção bonita e emocionante. E ocasionalmente engraçadinha. A trilha é sensacional, acompanhando o trabalho anterior da mesma roteirista (Uma Noite de Amor e Música). Nota 7,5
* 167 - Os Mercenários (The Expendables, 2010): mal dirigido pelo Stallone, pior ainda roteirizado, é um baile de debutantes para quem gosta de filmes ruins. Mesmo assim, há algo de consolador na reunião desse monte de brucutus para fazer um filme de ação à moda antiga, sem muitos efeitos digitais e com muito sangue e vísceras. Poderia ser bem melhor, mais ainda assim convence. Nota 6,5
168 - Não Quero Ser Grande (Mama's Boy, 2007): John Heder parecia ter despontado para o estrelato com Napoleon Dynamite, em 2004, mas de lá para cá a única coisa que fez foi reviver em outras produções o personagem que lhe deu fama. Aqui ele investe em uma variação chata, aborrecida e antipática de Napoleon, uma caracterização insuportável que coloca de escanteio o elenco respeitável (Diane Keaton, Jeff Daniels, Anna Farris e Eli Wallach), a trilha recheada de músicas dos anos 80 e até a homenagem a Digam O Que Quiserem, filmaço oitentista com a cena clássica de John Cusack fazendo uma serenata com um gigantesco 2 em 1 (e comparar o roteiro esperto do filme de estréia de Cameron Crowe com a historinha furreca disso aqui só enfatiza a mediocridade da experiência). Nota 3
* 169 - Digam O Que Quiserem (Say Anything..., 1989): estréia na direção de Cameron Crowe (3 anos antes de Vida de Solteiro), é uma dramédia adolescente que ainda hoje preserva o seu encanto. Crowe já demonstrava aqui talento para criar personagens muito longe dos estereótipos padronizados por Hollywood e disposição para fugir dos clichês dos filmes de gênero (e, sim, estou deliberadamente tentando esquecer aqui da existência de Tudo Acontece Em Elizabethtown). Virou cult nos EUA e tem pelo menos uma cena que é homenageada exaustivamente até hoje: a de John Cusack fazendo uma serenata ao som de Peter Gabriel levantando sobre a cabeça um gigantesco 2 em 1. Se bem que a cena final dentro do avião também merecia o seu lugarzinho ao Sol dentro do imaginário cinéfilo. Nota 8
170 - Os Mercenários 2 (The Expendables 2): melhor do que o primeiro (ou seria menos pior?), apesar de repetir os mesmos erros, a começar pelo roteiro pavoroso que não consegue costurar com um mínimo de competência o fiapo de história que tem para contar. Como a própria razão de ser do filme é colocar em cena o máximo de brutamontes patrocinados pelo INSS que se consegue em uma hora e meia, atinge o seu objetivo com razoável competência. As cenas de ação também tiveram um upgrade com a saída de Stallone da cadeira de diretor (no seu lugar, entrou o graaaande cineasta Simon West, de clássicos da Sétima Arte como Con Air e A Filha do General). Não dá para se esperar muito de um produto que se contenta em fazer piadinhas autorreferentes com seus astros. Aliás, não se pode levar a sério um filme cujo vilão (um botocado Van Damme) se chama justamente Villain. Os melhores momentos vem justamente quando o filme cansa de fingir que é sério e abraça sem qualquer pudor o nonsense. E não há nada mais emblemático do que o "deus ex machina" incorporado por duas vezes na trama por Chuck Norris, com direito a excerto do Morricone e tudo. Candidato sério a melhor filme ruim do ano.
Ong Bak 2 - O Guerreiro Sagrado Voltou (Ong Bak 2, 2008): Tony Jaa é um dos bam-bam-bãs das artes marciais no cinema atualmente. A seqüência do sucesso que lhe apresentou para o Ocidente curiosamente toma um rumo totalmente diferente do original. Emprestando os elementos dos épicos históricos chineses (Herói, O Clã das Adagas Voadoras, O Tigre E O Dragão), só que ambientando em sua Tailândia natal, Tony Jaa promove o habitual banho de sangue em meio a cenários exóticos. O quebra-pau impressiona, principalmente quando o astro luta contra dezenas de figurantes em cima e embaixo de um... elefante !!!! (wtf...). Nota 6,5
175 - Criação (Creation, 2009): o tema é, por si só, envolvente (o processo de criação de A Origem das Espécies por Darwin e o conflito familiar que suas idéias geram, principalmente em relação à sua esposa, uma católica fervorosa). Paul Bettany e Jennifer Connely, casados na vida real, estão ótimos. O problema é que, ao contrário das espécimes observadas por Darwin, o trabalho do irregular diretor Jon Amiel (O Núcleo, Armadilha) não evoluiu nem um pouquinho, resultando em um ritmo arrastaaaaaaaado demais. O bom é que Darwin é um personagem tão fascinante que ajuda a manter o interesse até o fim. Resta a esperança de realizarem uma prequel retratando as expedições com o Beagle, um projeto que nas mãos certas (Peter Weir, quem sabe?) renderia um filmaço. Nota 6
176 - O Legado Bourne (The Bourne Legacy): Bourne sem Bourne definitivamente NÃO É BOURNE. Diversãozinha meia-sola e olhe lá. Matt Damon merece um aumento no cachê para retornar à franquia. Nota 5,5
177 - The Cold Light Of Day (The Cold Light Of Day): corre-corre sem pé nem cabeça, é menos um filme de espionagem boboca do que um city tour por cartões-postais de Madri. Bruce Willis, macaco velho, pula fora do barco nos primeiros 15 minutos, provavelmente pressentindo que a canoa iria virar. Quem fica para pagar o mico é a vilã Sigourney Weaver, acabadaça, e o novo Superman (o canastrão Henry Cavill). Aliás, com um currículo recente que inclui essa bomba aqui e mais Imortais, os vilões do Homem de Aço não vão precisar sequer usar o seu estoque de kryptonita. Fujam para as montanhas. Nota 4
178 - Quarentena 2 (Quarantine 2: Terminal, 2011): enquanto REC ganhou duas continuações para o cinema que resultaram em novos êxitos de bilheteria, a refilmagem americana foi brindada com essa seqüência que saiu diretamente para dvd. Pobre e redundante, tem "telefilme" impresso em neon em cada fotograma. Nota 4
179 - Movimento Browniano (Brownian Movement): produção holandesa que propõe uma discussão interessantíssima a partir de seu título, que remete a um fenômeno da física nunca mencionado durante o filme. É certo que promete bem mais do que cumpre, mas a câmera parada, a cadência contemplativa e a quase ausência de diálogos remetem ao cinema de autor dos anos 60, principalmente às filmografias de Visconti e Antonioni. É esse rigor formal, com seus quadros que dizem muito mais do que as ações dos personagens, aliado ao excelente uso da iluminação, que torna o resultado uma experiência complexa, mas muito estimulante para quem se aventurar a enfrentar o ritmo claudicante da narrativa. Para poucos. Nota 7,5
180 - Ong Bak 3 (Ong Bak 3, 2010): o erro primordial aqui é deixar de seguir a história do primeiro filme e insistir na trama de época do segundo, que por sua vez era fechada e não admitia qualquer continuidade. O resultado é mal-feito, pessimamente dirigido (inclusive as cenas de luta, o ponto forte dos filmes anteriores), e (o pior dos pecados para uma produção de artes marciais) chato de dar dó. Nota 3
181 - Headhunters (Hodejegerne): thriller norueguês de sucesso mundo afora, é um eletrizante jogo de gato e rato que mescla violência e humor negro com eficiência, criatividade e reviravoltas bem aplicadas. Lembra muito o cinema dos Irmãos Coen, principalmente Fargo (a semelhança é ampliada ainda mais porque Aksel Hennie, o protagonista, guarda os traços de um Steve Buscemi mais jovem). Já foi providenciada uma refilmagem americana. Pena que os Coen dificilmente estarão envolvidos. Nota 8,5
182 - O Exótico Hotel Marigold (The Best Exotic Marigold Hotel): um dos maiores sleepers desse ano (aqueles filmes menores que caem nas graças do público e arrecadam milhões de dólares ao redor do globo), é uma comédia apoiada em clichês batidos, mas é virtualmente impossível não simpatizar com o dream team de veteranos do cinema inglês (Judi Dench, Tom Willkinson, Bill Nighy, Maggie Smith, entre outros) soltos no meio da paisagem exótica e colorida da Índia. Agradável e inofensivo. Nota 7,5
182 - Da Cama Para A Fama (Torremolinos, 2003): comédia espanhola baseada em um inusitado caso real em que um casal de classe média vira sem querer um sucesso no mundo do cinema pornô europeu na década de 70. Muito da graça sai da caracterização humana empregada pelos protagonistas (Javier Cámara, o enfermeiro de Fale Com Ela, e Candela Peña, de Tudo Sobre Minha Mãe). Nota 7
* 183 - Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole, 2002): comédia francesa tão solar quanto a Barcelona que registra. Vibrante e inspirado, é uma grande sacada tecer um microcosmo da comunidade européia a partir de um albergue e sua heterogênea galeria de habitantes. Faz surgir o jovem mochileiro que existe dentro de todo cinéfilo. E tem um quarteto de beldades em estado de graça para derreter qualquer marmanjo: Audrey Tatou, Kelly Reilly, Cécille de France e Judith Godrèche. Do mesmo Cédric Kaplich que dirigiu o igualmente simpático Paris. Nota 8
184 - Dredd (Dredd, em 3D): em primeiríssimo lugar, disfarça o baixo orçamento com muita categoria e classe. Em segundo, a abordagem é certeira, na medida em que coloca o personagem em uma trama direta e sem qualquer barriga, algo que os curtas produzidos por fãs para o Youtube fazem muito bem com super-heróis mal-adaptados para a telona. Em terceiro, o emprego da ultraviolência característica das HQs do personagem é muito bem vinda, com uma crueza que dá ao filme um certo ar de policial dos anos 70 (Operação França me veio à memória diversas vezes durante o filme). Já a idéia de ambientar todo o longa dentro de praticamente um único ambiente confere à produção o clima claustrofóbico sob medida para manter o espectador grudado na cadeira do cinema. A vilã (Lena Headley, do seriado Game Of Thrones) é um arraso, um contraponto perfeito ao desumanizado personagem principal (uma caracterização eficiente de Karl Urban). Enquanto a estética segue a linha realista de Distrito 9 e Filhos da Esperança, a trama bebe direto da fonte do melhor filme de ação do ano (o sul-coreano The Raid, que vai sair direto em dvd no Brasil com o horroroso título Operação: Invasão). E o melhor de tudo: faz todo mundo esquecer da adaptação tosca e equivocada protagonizada pelo Stallone (ao lado do Rob Schneider, valha-me Deus!!!!) na década de 90. Quem melhor definiu o longa foi meu mano Daniel Floriani Feix, que ao sair da sessão sintetizou: "Esse diretor se inspirou direto no Sam Peckimpah". Precisamente. Nota 8
185 - Intocáveis (Intouchables): maior sucesso internacional da França em todos os tempos, é um êxito principalmente em virtude de seus dois impagáveis personagens centrais, cujas personalidades diametralmente opostas geram empatia automática com o público. Mérito de dois atores em estado de graça: François Cluzet (cada vez mais idêntico a Dustin Hoffmann) e Omar Sy (que utiliza aqui uma clave de humor gaiato como aquela que Eddie Murphy tirava de dentro da manga do casaco em seus áureos momentos nos 80´s) são a alma e a maior força de Intocáveis, cada um dando um show particular em cena. O tom acertado aplicado ao filme pelos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano também é fundamental, privilegiando o humor genuíno e evitando o caminho fácil da emoção barata. E o próprio fato de Intocáveis nunca (NUNCA) abraçar a auto-piedade, mesmo com um material que em mãos erradas poderia descambar para o pior dos dramalhões, já faz do filme, mais do que a lição de vida extraída da emocionante história real que conta, uma lição de cinema. E das boas. Nota 9
186 - Conan, O Bárbaro (Conan, The Barbarian, 2011): depois do acachapante fracasso comercial e de crítica da nova adaptação do personagem de Robert E. Howard, resolvi dar um tempo antes de conferir o filme do ano passado, uma forma de fugir de qualquer influência negativa ou pré-conceito sobre a nova empreitada de Marcus Nispel na direção, esse cineasta alemão que está se especializando em refilmar obras que fizeram história e não precisavam de novas versões (são dele a boa releitura de O Massacre da Serra Elétrica e o boboca remake de Sexta-Feira 13). O problema é que o novo Conan é um filme indefensável: pessimamente dirigido, com um elenco de canastrões que entregam performances constrangedoras (Jason Momoa deveria ter se limitado a reprisar o seu Khal Drogo de Game Of Thrones antes de tentar inventar um personagem novo que suas habilidades cênicas simplesmente não são capazes de alcançar) e os piores efeitos especiais que Hollywood poderia comprar (o CGI é tão ruim que a certa altura dei graças a Deus por não ter visto em 3D no cinema, o que certamente deveria ter amplificado a sensação de tosqueira). Mas o pior é o roteiro, um amontoado de situações esquemáticas que transformam o bárbaro das HQ`s num herói padronizado pelos novos tempos do cinema comercial voltado ao público adolescente. E uma rápida pesquisa no IMDB me informou (sem qualquer surpresa) que a trinca de roteiristas (foram necessárias três pessoas para escrever algo que uma criança de 4 anos conseguiria rascunhar num guardanapo do McDonald´s) têm no currículo porcarias como Sahara, O Som do Trovão, Dylan Dog E As Criaturas da Noite e Halloween: Ressurreição (sim, aquele em que Michael Myers sai no braço com o rapper Busta Rhymes, for Christ´s sake!!!!!!). Nem vou comparar com o Conan do John Millius porque daí já é covardia. A única comparação aplicável aqui seria com os enlatados produzidos pela máquina americana em forma de quase-videogames, como O Príncipe da Pérsia e o remake de Fúria de Titãs. E mesmo assim, ficaria devendo. Não pensei que viveria para presenciar isso, mas finalmente alguém conseguiu desbancar Guerreiros de Fogo (Red Sonja, de 1985) como pior adaptação de Robert E. Howard para o cinema. O véio Schwarzza e a Brigitte Nielsen devem estar rindo à toa até agora. Eles merecem. Pelos ossos de Crom! Nota 3
187 - Ted (Ted): Seth MacFarlane, o criador do ótimo seriado de animação Family Guy (Uma Família da Pesada no Brasil) se vira como pode em sua estréia no cinema. Em Ted, o cara dirigiu, roteirizou, produziu, atuou como a voz do ursinho do título e ainda escreveu algumas canções para o longa (eu falei que o cara também é crooner nas horas vagas e lançou um CD bem bacana interpretando standards americanos imortalizados por Sinatra, Dean Martin e Tony Bennett?). E a personalidade de MacFarlane está bem presente em Ted, desde o humor politicamente incorreto até as inúmeras citações à cultura pop dos anos 80 (de Star Wars a E.T., de Indiana Jones ao trash Flash Gordon, que ganha a melhor piada do longa). A premissa (um conto de fadas contado através de tiradas amorais) até é melhor do que o desenvolvimento, que segue a cartilha das comédias românticas padronizadas por Hollywood. Mas é a disposição de MacFarlane em tirar sarro de tudo e de todos através de cenas que mais parecem esquetes extraídos diretamente de Family Guy que transformam Ted numa comédia muito divertida. E sempre que Mark Wahlberg resolve tirar sarro de sua própria persona cinematográfica, pode apostar que o resultado é hilário. Nota 7,5
188 - MR 73 - A Última Missão (MR 73, 2008): dirigido por um ex-tira (Olivier Marchal, do bom 36), o que garante certa dose de realismo ao roteiro inspirado por um caso verídico da crônica policial francesa. Investe em um climão de suspense e em duas linhas narrativas paralelas que lembram muito a estrutura do excelente Rios Vermelhos. No final, entretanto, resolve a trama de forma abrupta e anticlimática. Danieul Auteuil está excelente. Nota 6
189 - Looper - Assassinos do Futuro (Looper): como todo bom filme de viagem no tempo, descarta as saídas fáceis e opta pelo caminho mais inteligente no desenvolvimento de seu intrincado roteiro. É essa ousadia a principal marca impressa pelo diretor/roteirista Rian Johnson, que vinha de duas produções anteriores que caíram nas graças da crítica (A Ponta de Um Crime e Vigaristas) e que, depois desse filmaço aqui, já pularam para o topo da minha pilha de filmes a conferir. E é impressionante a seqüência de ótimas produções emendadas por Joseph Gordon-Levitt nos últimos anos (500 Dias Com Ela, O Vigia, A Origem, 50 %, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge), tornando-o num curtíssimo espaço de tempo uma das caras mais interessantes em Hollywood no momento. Looper segue essa esteira de boas escolhas com toda a pompa. E se a fantástica maquiagem que transforma Levitt em um jovem Bruce Willis não for no mínimo indicada ao Oscar do ano que vem, vou perder ainda mais a fé no futuro da Humanidade. Nota 9
190 - Reencontrando A Felicidade (Rabbit Hole, 2010): demora um pouco até passar a estranheza com o bizarro botox labial adotado por Nicole Kidman, que a deixou uma espécie de prima distante do Patolino. Ultrapassado o choque, o que resta é um bom ensaio sobre o luto de um casal pela perda precoce de um filho, temática já abordada por inúmeras produções, de Provocação (The Door On The Floor, de 2004, com Jeff Bridges e Kim Basinger) a Entre Quatro Paredes (In The Bedroom, de 2001, com Tom Wilkinson e Sissy Spacek), até o muito superior O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, de Nanni Moretti). O diretor John Cameron Mitchell, do excelente Hedwig - Rock, Amor e Traição, comanda o elenco com sensibilidade (Kidman chegou a concorrer merecidamente ao Oscar). Nota 7
191 - Jovens Adultos (Young Adult, 2011): a segunda parceria de Jason Reitman (Obrigado Por Fumar, Amor Sem Escalas) com a roteirista Diablo Cody depois do sucesso de Juno passou batida pelos cinemas, mas merece muito ser descoberta na telinha. Centrando foco na inesgotável galeria de filmes que lançam um olhar afetuoso aos adultos que se recusam a crescer, Diablo Cody acertou a mão ao construir uma personagem até certo ponto odiosa, mas irresistível em sua imaturidade. E o melhor de tudo: dá uma banana para Hollywood ao privar o filme da famigerada redenção final que é praticamente obrigatória nos filmes americanos. Nota 8
192 - Vigaristas (The Brothers Bloom, 2008): antes de realizar o excelente Looper, Rian Johnson já demonstrara a boa disposição em inserir originalidade em filmes de gênero. Aqui, o caso é dar um sopro de esperteza no subgênero dos filmes de golpes, ancorado no bom elenco (Adrien Brody, Rachel Weisz, Mark Ruffalo e Maximilian Shell) e em reviravoltas muito bem aplicadas. Nota 8
193 - Millennium II - A Menina Que Brincava Com Fogo (Flickan Som Lekte Med Elden, 2009): nunca fui um entusiasta das adaptações cinematográficas dos livros de Stieg Larsson (nem da primeira versão sueca para Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, nem do remake americano que saiu da cartola de um dos meus diretores favoritos, David Fincher). Sempre achei-as traminhas policiais eficientes, mas padronizadas demais para justificar o sucesso global que tiveram. A Menina Que Brincava Com Fogo preserva a boa dupla de protagonistas (Michael Nykvist, o vilão do quarto Missão Impossível, e a excelente Noomi Rapace, vista esse ano em Prometheus), mas perdeu o diretor do primeiro filme. O novo comandante, um tal de Daniel Alfredson, não consegue estabelecer o clima de opressão e as sacadas visuais das adaptações cinematográficas do primeiro livro da série. Sem falar que a trama é muito mais fraca do que a do primeiro livro, sem qualquer sobressalto ou surpresa que consiga evitar os bocejos inevitáveis durante as mais de duas horas de duração. A verdade é que o trunfo da série Millennium é a sua peculiar (e interessantíssima) personagem Lisbeth Salander, que aqui carrega a produção nas costas. Não que o resultado seja ruim, mas é filme para assistir em domingos ociosos. E só neles. Nota 6
194 - Terror No Pântano 2 (Hatchet II, 2010): em 2006, o diretor Adam Green fez barulho nos festivais de cinema fantástico mundo afora com o primeiro Hatchett, que reproduzia todos os cacoetes dos slasher movies dos anos 80, como Sexta-Feira 13 e seus infindáveis clones. Com essa continuação, o diretor aparentemente quis apenas chutar o pau da barraca. É um banho de sangue e tripas como há muitíssimo tempo não se via nas telas. Já o roteiro, pobrezinho, provavelmente foi escrito por alguém em estado de coma. O elenco reúne algumas figuras idolatradas dos filmes de terror, como a scream queen Danielle Harris, Kane Hodder (o Jason em pessoa, rapá), Tony Todd (sim, o Candyman, em canastrice e ossos) e até o diretor Tom Holland, de A Hora do Espanto (o original!) e Brinquedo Assassino. A tosqueira é tamanha que vira um passatempo genuinamente divertido para quem gosta do gênero. Para rir. E muito. Nota 6,5
195 - Inquietos (Restless, 2011): dentro da filmografia prolífica de Gus Van Sant (Drugstore Cowboy, Gênio Indomável, Elefante, Milk - A Voz da Igualdade), talvez Inquietos, uma variação da temática do muito superior Ensina-me A Viver (Harold And Maude, de 1971, de Hal Ashby), figure em uma posição de menor destaque. Mas não é nem de longe um filme ruim. Ancorado em uma dupla de protagonistas eficiente (Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton, vista ano passado no excelente Jane Eyre, e Henry Hopper, filho do saudoso Dennis), é um belo conto sobre amadurecimento e morte. Paradoxalmente, ao tentar escapar da pieguice e da emotividade fácil, Van Sant dá ao filme um tom seco que não permite ao espectador um envolvimento irrestrito com a bonita história de amor que conta ou mesmo que a química do casal decole. Como efeito direto, só emociona mesmo quem consegue chorar copiosamente em qualquer desenho da Disney. Nota 7
196 - J. Edgar (J. Edgar): quando não está tentando fazer graça falando com cadeiras em convenções republicanas, Clint Eastwood alimenta a sua carreira como diretor de cinema. A cinebiografia de J. Edgar Hoover, talvez uma das figuras históricas com potencial mais explosivo que nunca ganhara uma adaptação fiel no cinema, prometia um retorno do velho Dirty Harry à boa forma demonstrada em seus melhores trabalhos atrás das câmeras. O resultado, no entanto, é um retrato quadrado demais de um personagem tão complexo. Mesmo tangenciando aqui e ali temas espinhosos, o conservadorismo de Eastwood o impede de enfrentar questões relevantes, como a ingerência política de Hoover nas intervenções americanas em países estrangeiros. Mesmo assim, forma um mosaico interessante, apesar de incompleto, de uma das personalidades mais emblemáticas do século passado, com o auxílio de uma correta atuação de Leonardo DiCaprio. Ironicamente, os melhores momentos são aqueles que abordam a paixão de Hoover por seu fiel escudeiro Clyde Tolson (Armie Hammer, que vem aí em O Cavaleiro Solitário ao lado de Johnny Depp), retratada de forma contida, mas delicada, por Eastwood, e que revelam-se as cenas mais tocantes de um longa que de resto peca pela excessiva sobriedade. Nota 6,5
197 - A Vida Em Um Dia (Life In A Day, 2011): documentário montado a partir de vídeos enviados pelo público retratando o dia 24 de julho de 2010. O diretor Kevin Macdonald, de O Último Rei da Escócia e Intrigas do Estado, conseguiu montar um quebra-cabeças de imagens com uma unidade dramática como poucas vezes se viu na História do Cinema. A mescla de culturas e perfis vista aqui faz um belo retrato do que é essa heterogênea e ao mesmo temo homongênea classe auto-denominada raça humana. Um dos melhores filmes do ano (e disparado o melhor documentário). Nota 9
198 - A Entidade (Sinister): ciente de que tinha em mãos uma história meia-boca, o diretor Scott Derrickson, de O Exorcismo de Emily Rose, sabiamente aposta todas as fichas na criação do clima e em sustos eficientes. A opção em ambientar 99 % das cenas dentro de casa ajuda a criar a sensação de claustrofobia pretendida e dá à produção um ritmo peculiar, bem mais cadenciado do que se esperaria de um filme de terror vindo de Hollywood. Ethan Hawke, por sua vez, entrega uma performance muito esforçada, algo não muito usual em filmes do gênero, o que dá ao personagem que interpreta uma gravidade e um estofo que provavelmente extrapola qualquer intenção contida no roteiro. E desde já o "Deputy So And So" (James Ransone) é uma das figuraças coadjuvantes no cinema de 2012. Nota 7,5
* 199 - Busca Implacável (Taken, 2008): bobagenzinha bem divertida, um retrato do tipo de filme de ação genérico que Luc Besson virou especialista em produzir na última década. A diferença fundamental reside na escolha de um astro de respeito (Liam Neesom), que revela-se surpreendentemente adequado para incorporar um personagem reminiscente dos heróis de ação da década de 80. Neesom parece muito à vontade estraçalhando figurantes malvadões. Nota 7
200 - V/H/S (V/H/S): antologia de contos de terror inteiramente filmada dentro do gênero das "found footages", a linha "filmagens encontradas" popularizada por A Bruxa de Blair e cujo impacto e originalidade já se esgotaram há muito tempo. Como toda a reunião de curtas sob o comando de diretores e roteiristas diversos, possui altos e baixos (nesse caso, mais baixos). A única homogeneidade é o irritante cacoete da câmera que treme tanto que o público mal consegue enxergar o que acontece na tela. Outra coisa que não muda é o desfecho previsível das historietas. Ou alguém ainda não se deu conta que em todo e qualquer filme baseado em filmagens encontradas o final é SEMPRE rigorosamente o mesmo? Nota 5,5
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