Em março desse ano, conheci Nova
York ao vivo e a cores e gastei a sola dos guides troteando pela Grande Maçã. Entre
um irish pub aqui e um museu ali, subindo e descendo a Times Square como quem
anda pela Independência de São Leo, percebi que havia algo estranho quando dei
de cara com dezenas de trailers estacionados um atrás do outro por toda a
Sétima Avenida.
Foi só perguntar pro primeiro cop
que eu avistei e já descobri: era a filmagem desse Noite de Ano Novo (New
Year’s Eve, EUA, 2011) que acaba de entrar em cartaz, pouco mais de 9 meses
depois. Acompanhei justamente parte da filmagem do que seria o réveillon
anunciado pelo título, uma réplica do que ocorre na Times Square de Nova
Iorque, com direito a bola luminosa caindo e o povo todo paramentado com
adereços cênicos próprios da virada do ano. Juro que eu e a Si estávamos lá,
inserido na massa de figurantes com cara de quem foi pego roubando doce de
criancinha. Decidi que ficaria atento quando o filme estreasse para ver se
achava os nossos focinhos no meio da multidão.
Foi por isso que resolvi dar um
tempo na minha ojeriza por comédias românticas made in USA e encarar essa
espécie de continuação de um tal de Idas e Vindas do Amor (Valentine´s Day) que
eu nunca me dera ao trabalho de conferir.
Acontece que Noite de Ano Novo não é
só mais uma produção americana mediana, dessas inofensivas e tals. O negócio é
ruim até dizer chega. Constrangedor para todos os envolvidos, eu arriscaria. E
olha que entre os envolvidos tem gente do quilate de Halle Berry, que depois de
Mulher-Gato não deveria ficar corada com mais nada nessa vida.
Claro que Noite de Ano Novo é aquele
típico “filme de mulherzinha” que tanto encanta a parcela feminina do público.
É filminho prá ver de conchinha no sofá ou para sonhar com o príncipe encantado
dobrando a esquina. Acontece que nem para esse público a porcaria funciona.
Para se ter uma idéia, o filme ostenta orgulhosos 7 % de aprovação no site
Rotten Tomatoes, um percentual tão baixo quanto qualquer bomba do Steven Seagal
produzida diretamente prá home video. Nem as meninas suportaram tanto adoçante
junto.
O roteiro segue a cartilha básica da
reunião de um monte de personagens soltos em um determinado ambiente, passando
pelas situações mais batidas possíveis e eventualmente esbarrando uns nos
outros. Uma espécie de Short Cuts ou Simplesmente Amor caso esses dois fossem
dirigidos pelo Ed Wood. O texto restringe-se a um interminável trololó sobre o
poder do ano-novo como data capaz de resolver todo e qualquer problema, de
desilusões amorosas e reconciliações familiares até... independência
financeira!!!! E tome infindáveis discursos dignos do mais barato dos livros de
auto-ajuda (quando o quarto personagem levantou uma taça de champanhe para
falar umas palavrinhas, eu resolvi me mexer na cadeira para não começar a
roncar tão alto dentro do cinema).
Se Nova Iorque permanece linda como
em qualquer outro filme, nem mesmo o cenário é explorado a contento pelo
aparentemente senil Garry Marshall, veterano diretor de sucessos como Uma Linda
Mulher e de bombas como Diário da Princesa 2. Para Marshall, NYC limita-se a
três ou quatro quarteirões em volta da Broadway e a um povo uniformemente
bonito e bem-sucedido financeiramente. Nada de Harlem, Queens ou Bronx. A
Manhattan do filme é mais homogênea que qualquer cidadezinha redneck do
interior do Texas. Nada mais distante da Nova Iorque real, portanto.
Na parte cômica, nada, mas nada
mesmo, funciona. Nenhuma piada é minimamente engraçada, fazendo qualquer filme
do Rob Schneider parecer Chaplin. Segundo o filme, os latinos (aqui
representados por Sofia Vergara e outro chicano anônimo) são débeis mentais
exóticos, no mínimo. De engraçado, só a cara de dor do Jon Bom Jovi tentando
acertar o texto. Tenho certeza que a cada tentativa do ex-roqueiro de
interpretar, um querubim caiu duro dos céus.
O diretor Garry Marshall deveria
estar ausente na maioria das cenas, comendo um hot dog em alguma esquina
longínqua. É a única explicação para a total falta de timing para contar uma
única piada que preste (e ele quase acerta em uma única cena, envolvendo uma
velhinha e uma porta de elevador, mas consegue estragar incluindo uma frase
absurda que arruína o tempo da anedota).
No elenco, há caras e bocas para
todo o lado: Zac Efron, Halle Berry, Jessica Biel, Hilary Swank, Sarah Jessica
Parker, Ashton Kutcher, Katherine Heigl, Jon Bon Jovi, e por aí vai. Uma
constelação de astros desperdiçados em papéis minúsculos, incapazes de
estabelecer a mínima empatia com o público E ver Robert De Niro e Michelle
Pfeiffer envolvidos numa produção tão tosca é triste demais. Pfeiffer deve ter
aceitado participar do mico coletivo por já ter trabalhado com Garry Marshall
no bom Frankie & Johnny. Já De Niro, um dos maiores atores vivos, só tem
cumprido tabela ultimamente, já que há muito tempo aceita passar vergonha em
produções pavorosas em troca de um cheque polpudo (Entrando Numa Fria Maior
Ainda Com A Família é do ano passado!).
Quanto à minha figuração, não me
encontrei nas cenas do réveillon. A verdade é que nem procurei direito e tenho
quase certeza que devo até ter fechado os olhos nas cenas de multidão. Até eu
me senti constrangido com a possibilidade de estrear em Hollywood em uma bomba
atômica dessas.
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