O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ressaca de Reveillón

(texto levemente inspirado em resenha feita para a Revista Rua Grande, remexido pelo próprio autor)


Em março desse ano, conheci Nova York ao vivo e a cores e gastei a sola dos guides troteando pela Grande Maçã. Entre um irish pub aqui e um museu ali, subindo e descendo a Times Square como quem anda pela Independência de São Leo, percebi que havia algo estranho quando dei de cara com dezenas de trailers estacionados um atrás do outro por toda a Sétima Avenida.

Foi só perguntar pro primeiro cop que eu avistei e já descobri: era a filmagem desse Noite de Ano Novo (New Year’s Eve, EUA, 2011) que acaba de entrar em cartaz, pouco mais de 9 meses depois. Acompanhei justamente parte da filmagem do que seria o réveillon anunciado pelo título, uma réplica do que ocorre na Times Square de Nova Iorque, com direito a bola luminosa caindo e o povo todo paramentado com adereços cênicos próprios da virada do ano. Juro que eu e a Si estávamos lá, inserido na massa de figurantes com cara de quem foi pego roubando doce de criancinha. Decidi que ficaria atento quando o filme estreasse para ver se achava os nossos focinhos no meio da multidão.

Foi por isso que resolvi dar um tempo na minha ojeriza por comédias românticas made in USA e encarar essa espécie de continuação de um tal de Idas e Vindas do Amor (Valentine´s Day) que eu nunca me dera ao trabalho de conferir.

Acontece que Noite de Ano Novo não é só mais uma produção americana mediana, dessas inofensivas e tals. O negócio é ruim até dizer chega. Constrangedor para todos os envolvidos, eu arriscaria. E olha que entre os envolvidos tem gente do quilate de Halle Berry, que depois de Mulher-Gato não deveria ficar corada com mais nada nessa vida.

Claro que Noite de Ano Novo é aquele típico “filme de mulherzinha” que tanto encanta a parcela feminina do público. É filminho prá ver de conchinha no sofá ou para sonhar com o príncipe encantado dobrando a esquina. Acontece que nem para esse público a porcaria funciona. Para se ter uma idéia, o filme ostenta orgulhosos 7 % de aprovação no site Rotten Tomatoes, um percentual tão baixo quanto qualquer bomba do Steven Seagal produzida diretamente prá home video. Nem as meninas suportaram tanto adoçante junto.

O roteiro segue a cartilha básica da reunião de um monte de personagens soltos em um determinado ambiente, passando pelas situações mais batidas possíveis e eventualmente esbarrando uns nos outros. Uma espécie de Short Cuts ou Simplesmente Amor caso esses dois fossem dirigidos pelo Ed Wood. O texto restringe-se a um interminável trololó sobre o poder do ano-novo como data capaz de resolver todo e qualquer problema, de desilusões amorosas e reconciliações familiares até... independência financeira!!!! E tome infindáveis discursos dignos do mais barato dos livros de auto-ajuda (quando o quarto personagem levantou uma taça de champanhe para falar umas palavrinhas, eu resolvi me mexer na cadeira para não começar a roncar tão alto dentro do cinema).

Se Nova Iorque permanece linda como em qualquer outro filme, nem mesmo o cenário é explorado a contento pelo aparentemente senil Garry Marshall, veterano diretor de sucessos como Uma Linda Mulher e de bombas como Diário da Princesa 2. Para Marshall, NYC limita-se a três ou quatro quarteirões em volta da Broadway e a um povo uniformemente bonito e bem-sucedido financeiramente. Nada de Harlem, Queens ou Bronx. A Manhattan do filme é mais homogênea que qualquer cidadezinha redneck do interior do Texas. Nada mais distante da Nova Iorque real, portanto.

Na parte cômica, nada, mas nada mesmo, funciona. Nenhuma piada é minimamente engraçada, fazendo qualquer filme do Rob Schneider parecer Chaplin. Segundo o filme, os latinos (aqui representados por Sofia Vergara e outro chicano anônimo) são débeis mentais exóticos, no mínimo. De engraçado, só a cara de dor do Jon Bom Jovi tentando acertar o texto. Tenho certeza que a cada tentativa do ex-roqueiro de interpretar, um querubim caiu duro dos céus.

O diretor Garry Marshall deveria estar ausente na maioria das cenas, comendo um hot dog em alguma esquina longínqua. É a única explicação para a total falta de timing para contar uma única piada que preste (e ele quase acerta em uma única cena, envolvendo uma velhinha e uma porta de elevador, mas consegue estragar incluindo uma frase absurda que arruína o tempo da anedota).

No elenco, há caras e bocas para todo o lado: Zac Efron, Halle Berry, Jessica Biel, Hilary Swank, Sarah Jessica Parker, Ashton Kutcher, Katherine Heigl, Jon Bon Jovi, e por aí vai. Uma constelação de astros desperdiçados em papéis minúsculos, incapazes de estabelecer a mínima empatia com o público E ver Robert De Niro e Michelle Pfeiffer envolvidos numa produção tão tosca é triste demais. Pfeiffer deve ter aceitado participar do mico coletivo por já ter trabalhado com Garry Marshall no bom Frankie & Johnny. Já De Niro, um dos maiores atores vivos, só tem cumprido tabela ultimamente, já que há muito tempo aceita passar vergonha em produções pavorosas em troca de um cheque polpudo (Entrando Numa Fria Maior Ainda Com A Família é do ano passado!).

Quanto à minha figuração, não me encontrei nas cenas do réveillon. A verdade é que nem procurei direito e tenho quase certeza que devo até ter fechado os olhos nas cenas de multidão. Até eu me senti constrangido com a possibilidade de estrear em Hollywood em uma bomba atômica dessas.

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