O Homer Vitruviano

O Homer Vitruviano
Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Deserto de Idéias



(texto picareta e redigido por cima de uma resenha originalmente escrita para a Revista Rua Grande, pelo próprio autor)

Alguém aí além de mim já parou prá pensar que o ano já está na metade? E que os lançamentos do verão americano já foram quase todos despejados no cinema? Pois a julgar pelos lançamentos made in Róliúdi, o ano de 2010 está cada vez mais distante do “ano em que faremos contato” previsto pelo Arthur C. Clarke na continuação de 2001.

Até agora, o único blockbuster realmente decente foi Homem de Ferro 2 e, verdade seja dita, é um filme um pouco inferior ao original. Os demais candidatos a arrasa-quarteirão não produziram, até agora, nada mais que uma marolinha daquelas de cor bem achocolatada, para pegar jacaré em Imbé.

O novo Robin Hood, equivocado em sua nova contextualização histórica e morno como entretenimento, deu saudades do mullet de Kevin Costner e da trilha de Bryan Adams (tá certo, retiro a última parte, senão periga abrir uma cratera e eu ser sugado para o Inferno). Já a refilmagem de Fúria de Titãs, se não atraiu a ira dos deuses, não serviu para lustrar as sandálias do clássico da Sessão da Tarde e seus inesquecíveis efeitos especiais em stop motion. Porra, os caras torram doletas e mais doletas e não são capazes de fazer uma Medusa decente? Já a releitura para A Hora do Pesadelo fez jus ao título, só que da maneira errada: provocou tanto sono que perigava a platéia atingir o estágio da catalepsia durante a projeção. Tinham que queimar os envolvidos da mesma forma que fizeram com Freddy Krueger.

E o pior ainda está por vir: teremos um remake de Karatê Kid com o filho do Will Smith como Daniel-San e Jackie Chan fazendo as vezes de sr. Miyagi (sem falar que, apesar do título, bizarramente a luta marcial praticada será o kung fu!!!!!), mais um Crepúsculo para deixar as adolescentes taradas e os adultos horrorizados com a possibilidade de algum dos galãs estrelar um remake de Curtindo A Vida Adoidado, um quarto Shrek (por quê? por quê?), e por aí vai...

Este Príncipe da Pérsia, por exemplo, se considerarmos que é uma produção da Disney e trata-se de uma adaptação do videogame de mesmo nome, até é aceitável, se compararmos com outras empreitadas do gênero, como os inclassificáveis Street Fighter, Doom, Double Dragon e Mario Bros. da vida.

Se confrontarmos a produção com outras aventuras do gênero, no entanto, a coisa já fica mais complicada. Se por um lado o filme tem cenas de ação legais, que utilizam a técnica do parkour (já usada em cenas de 007 Cassino Royale e Duro de Matar 4 e parodiada num momento antológico da versão americana de The Office) para imitar os movimentos do game, por outro tem um protagonista absolutamente deslocado, uma mocinha bonitinha, mas ordinária, e um vilão totalmente desperdiçado. O marombado Jake Gyllenhall tem uma cara de bebê chorão que é adequada para dramas (vide Brokeback Mountain e afins), mas não convence como herói de ação, papel que se encaixaria melhor em cascas-grossas como Hugh Jackman e Daniel Craig. Já a canastrona Gemma Arterton é bonita e ponto. A única cara que a moçoila consegue fazer é de paisagem (expressão que ela também usou durante todo o recente Fúria de Titãs) e isso não combina com os cenários de proteção de tela do filme. Já Sir Ben Kingsley provavelmente está pagando a hipoteca da mansão em Beverly Hills, então vou deixar o cara em paz.

O toque mais esdrúxulo é que ninguém do elenco parece nem de longe persa. Aliás, é talvez o elenco mais ocidental que poderiam ter reunido. O mais bisonho é que todos adotam um sotaque britânico (!!!) para dar um ar de produto estrangeiro ao filme, num claro indício de falta de noção do ridículo da situação.

O principal problema é que Príncipe da Pérsia se parece demais com todos os outros filmes produzidos em série por Hollywood. Hoje em dia, infelizmente parece não haver mais espaço para qualquer resquício de condução autoral no cinema americano, pelo menos o de mainstream. Salvam-se uma ou outra obra durante o ano, zebras que conseguem a proeza de cair nas graças do público pelo boca-a-boca. E só.

Pelo menos, Príncipe da Pérsia é melhor que A Múmia 3, o que já é um passo no sentido contrário ao do fim do mundo. E segue a cartilha da Hollywood atual: tudo é grandioso, há efeitos digitais em praticamente todos os cantos do cenário, as cenas de batalha envolvem milhares de figurantes inseridos por computador. Nada que tapeie, porém, a fragilidade do roteiro, que tenta complicar a trama para esconder os buracos do texto, o que nunca consegue de maneira eficaz. A alusão à invasão do Iraque e suas armas de destruição em massa inexistentes é tanto um erro de analogia histórica medonho (um pecado que o Robin Hood de Ridley Scott cometeu também), quanto um artifício totalmente sem sentido, principalmente se considerarmos que é inserido no meio de um filme que não se propõe a qualquer outra coisa que não seja diversão rápida e rasteira. E isto, justiça seja feita, a produção consegue lograr razoavelmente bem.

Pelo menos, não há tempo para cair no sono. No máximo, rende uma bocejada aqui e ali. Mas pensar que em outras décadas a aventura do verão americano tinha como exemplares filmes do naipe de Indiana Jones é para dar pena da atual geração de cinéfilos.

Um comentário:

  1. O melhor Príncipe da Pérsia é o jogo, e o primeirão, em 2d. Olha este link: http://tinyurl.com/25brmlc . Pura arte!!!

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