O Homer Vitruviano

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Leonardo quase acertou.

Wel Come Maguila, Mas Manda Flores No Dia Seguinte

Bem-vindos, párias, desgarrados, nerds, loucos de toda espécie ou, caso esse negócio não der certo, boas vindas às minhas demais personalidades. Façam-se ouvir, façam-se sentir, façam-se opinar. E, caso falte energia ou acabe a bateria, faça-se a luz!


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Barco e Flecha



Ridley Scott precisa de novas amizades. Poderia tentar fazer um perfil no Orkut, Facebook, MSN, Twitter ou ligar pro Tele-amigos. Mas que pare de andar com Russel Crowe por uns tempos. Sei lá, vai se amigar com o George Clooney, com o DiCaprio, com o Tom Hanks. Não sei se a troca no círculo de amizades refletiria na carreira do diretor britânico na forma de novos clássicos ou pelo menos obras que permanecessem no paladar da memória além do pacote de pipocas e do gelo do refrigerante da bomboniére, mas já seria uma tentativa. Pois do jeito apático que está, não dá mais prá ficar, sob pena de confundirmos o cara com qualquer Brett Ratner da vida.

E olhe que a parceria com Crowe rendeu bons filmes, Gladiador e O Gângster estão aí para dar um lustre no currículo de ambos. Mas o fato é que Scott é (foi?) bem maior do que estes títulos.

Peraí: quer dizer que o mesmo cara que pariu Alien, Os Duelistas e Blade Runner vai nivelar a sua carreira daqui em diante pelo tamanho das calças do rechonchudo Russel Crowe?

Crowe, faça-se justiça, até deve ter freqüentado os Vigilantes do Peso para caber no figurino do novo Robin Hood e, em comparação com suas últimas aparições nas telas, a mudança realmente impressiona. Mas há algo errado com um filme quando a primeira coisa que vem à mente na saída do cinema é a luta de seu protagonista contra a balança e não contra o vilão...

Não é que o novo Robin Hood seja ruim. Não é. Tem uma ou outra cena legal, tem até a Cate Blanchett e o Max Von Sydow de coadjuvantes de luxo, o que sempre vale o ingresso. Só é medíocre. E profundamente, lamentavelmente, indignamente equivocado. A começar pela escolha do protagonista. Crowe não tem o psique du rôle para interpretar um personagem como Robin. O eterno Gladiador é bronco demais para empunhar um arco e flecha com a desenvoltura necessária a um personagem que já foi imortalizado em celulóide por um cara do calibre de Errol Flyn.

Além de velho demais, pesado demais e sisudo demais, Crowe é adepto de uma escola de interpretação caracterizada por sempre emprestar corpo e voz aos mesmos tipos, uma espécie de Eastwood dos velhos tempos dos spaghetti westerns. Só que, ao contrário de Clint, que conseguia transformar personagens durões em pessoas simpáticas ao público , Russell nunca me transmitiu a empatia suficiente a me fazer torcer por ele. E o Robin Hood de Ridley Scott começou a morrer para mim aí, na escalação do mocinho.

Mas isto não é tudo. Se conseguisse apresentar uma visão autoral da lenda de Robin Hood, algo que fizesse jus aos seus melhores trabalhos, eu conseguiria perdoar até Steven Seagal ou Van Damme no papel principal. Acontece que a abordagem aplicada a Robin Hood não poderia ser mais vesga.

Não há como deixar de divagar se o tom da nova versão de Hood não teria sido outro sem o nome de Crowe estampado no cartaz. Pois a opção por transmutar a história do arqueiro em uma produção épica tem toda a cara de tentativa picareta em repetir o truque de mágica conseguido pelo diretor e seu astro em Gladiador.

E, desta forma, o personagem libertário que aplicava a sua noção de socialismo na floresta de Sherwood, roubando dos ricos para dar aos pobres, é retirado de cena para a entrada de um outro: o turrão soldado a serviço do Império, que só revê os seus conceitos de lealdade ao Rei quando a mocinha se vê numa enrascada.

E tome discursos emulados de Coração Valente, que precedem batalhas que mais parecem ter saído diretamente dos storyboards descartados por Mel Gibson. E que idéia de jerico é essa de aplicar uma trilha parecida com aquela utilizada em Cruzada, com lamentos de origem árabe em um filme ambientado na Inglaterra do século 17 (ou melhor, 17 nada, século 14, segundo meu amigo e cumpadi Tacha me esclarece)?

Não é preciso também apontar a vergonhosa opção de reproduzir, inclusive com tomadas de câmera idênticas, o desembarque na Normandia de O Resgate do Soldado Ryan (meu Deus do céu, comparar o desembarque dos galeões franceses com o dos barcos dos Aliados na Segunda Guerra é, além de uma analogia estúpida, um equívoco histórico de fazer arrepiar o bigodinho do Hitler). Com o agravante de, na cena seguinte, surgir Lady Marian de armadura, empunhando uma espada e liderando um pelotão formado pelas crianças órfãs de Sherwood (neste momento, a mais provável homenagem seria aos filmes do Mel Brooks, mas apenas conjecturo).

Aliás, cá entre nós, entrar num cinema esperando assistir a uma aventura capa-e-espada (no caso, capa-e-arco-e-flecha) e ter de aturar um clímax de batalha entre os exércitos da França e da Inglaterra é dose prá mamute. E somos obrigados ainda a torcer pela Inglaterra imperialista, que no começo do filme vemos invadindo e saqueando castelos franceses entre um chá e outro.

É, antes de mais nada, um atestado de que o cineasta Ridley Scott, que compreendia tão bem como criar uma obra-prima com muito pouco (Alien é o supra-sumo da simplicidade eficaz), hoje em dia confunde tamanho com documento.

Sem falar que é inevitável a sensação de que o inglês subverteu mesmo a alma da lenda. Mas subverteu mal. Se antes o ágil e delgado Robin Hood apresentava-se como um legítimo representante da esquerda política, nas mãos de Scott virou apenas um virulento capataz que não faria feio como leão-de-chácara numa convenção dos Republicanos.

4 comentários:

  1. O Texto seria irretocável, a não ser por um detalhe: Ricardo Coração de Leão é do Sec.XIV e não XVII, errou 3 seculos ai. rs
    No mais ta matando a pau nos textos!
    Abração Luiz!

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  2. É vero, é vero... na real, acho q foi um pouco de ignorância histórica cumulada com erro de digitação, pois tenho quase absoluta certeza que queria ter escrito Século 16 (portanto, a mancada seria só por 2 míseros séculos hehehehehe). Corrigido, de qualquer jeito! E obrigado, cumpadi! Significa muito para moi!

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  3. Caro LF!
    Concordo em tudo com o que tu disseste (tu vê só, eu concordando contigo!!!), mas te confesso uma coisa: pra mim o Russell Crowe ainda tá batendo um bolão! Em resumo, eu encarava! He,he,he...
    Abração!
    Fabiana.

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  4. ôôô filminho que da sono esse ein :)

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